segunda-feira, setembro 30, 2002

Amar

O abandono das causas que um dia o fez viver não é nada abrupto de se fazer, posto que as circunstâncias desmerecem os desejos antigos. É abandono e depois será retomado, pois tratando-se de projeto e não realização permite estas pausas reflexivas. Futuramente o verá e analisará as possíveis mudanças. Estas atingiriam toda a fachada bem como todo o interior. É fato que mudar-se-á todo ele, mas façamos por partes.
Antes amar a física por falta de mulher, e odiar a física por falta de reconhecimento da mesma. Ame então a ausência de todas as coisas, suas companias (feminina ou física), tal qual te machucaram quando ergueu-se para abraçá-las. Duas tais que são símiles: impossíveis de se entender.
Ame o nada. Sempre no local desejado quando mais se precisa.
Ame o que não existe.
Ame todos os seus sonhos.
Ame sim quem você gosta, que nunca estará ao seu lado.


segunda-feira, setembro 23, 2002

Passeio Público

Frio, muito frio. Calçadas maltratadas pelas intempéres, racharam em mil pedaços tal havia sido a insistência. Cacos ao alto que tropicavam em mim, como se pedissem qualquer tipo de atenção ou aconchego. Mesmo sendo brusco o tombo, poderia ser conforto a um pedaço doce de concreto.
Já era noite, dentro e fora, frio como já havia dito, mas estava quente, e nada poderia fazer-me sentir frio ao passo que já sentia-me gelado como qualquer morto. Morto no amor sim, defunto romântico, romântico defunto.
Por incrível que possa parecer não esperei a névoa branca encobrir-me e levar-me para o inferno, gritei as dores a espantar qualquer resto de vida. E ainda insistia em dizer que me sentia frio.
Desde que o momento que você partiu -bem sei que nunca esteve comigo- restou um pingo da chuva que não seguiu os outros ao objetivo comum.
As árvores das praças nunca foram as mesmas pois foram arrancadas, a paisagem mudou. Tudo mudou, só eu não me mudei. Observo as novas construções e nada espero além de você.


segunda-feira, setembro 16, 2002

Horizonte da Praia

Estava deitado em um dos braços estirados. Olhei para o horizonte e o que fiz foi tocá-lo com os dedos.
Idiotice acreditar que estava tocando-o. Quando abri o outro olho vi que meus dedos eram curtos, o horizonte gigantesco. Não tive nenhuma vontade de ter dedos maiores ou braços mais longos, senti na verdade um nojo deste horizonte que me tanto despreza. Fiz o mesmo, horizonte ridículo!.
Nunca precisei dele, sou inútil e disso já sabia. O que ele fez foi somente dar salvas às minhas memórias já muito bem lembradas.
Já sou incapaz de tudo, incapaz de ter o que tanto quis. Desdenho até o céu, mas não o quero!


domingo, setembro 15, 2002

Garôa, garôa, garôa

Confesso que reclamaria se não estivesse à toa,
Vendo todos os meus sonhos tão perto de mim, e ao mesmo tempo vê-los tão distante.
Os campos fertéis intactos, o povo ao lado agradecendo a água e lamentando a terra virgem.
É, o povo tem terra, não tem dinheiro, nem felicidade, tem ao menos servidão e se contentam com a pouca festa que os perseguem.
O ideal é de liberdade, não a constitucional, mas sim a de fato. De que valem as leis se as da natureza sobrepõe-nas?
A verdade é que não estou à toa, mas bem que faço tipo. Inda me chamam de filósofo sem ao menos ter idéia do que faço. Além de macaquear a sintaxe lusíada insisto em acreditar em alguma mudança na vida das pessoas. Talvez idealista e egoísta..
Hmmmm. Garôa, garôa, garôa.


segunda-feira, setembro 09, 2002

O Vento

Soprou por noites e dias não levando uma partícula sequer. Conhecido por suas tempestades de areia, fez-se por fraco, embora tivesse dado todas as suas forças.
Deixou-me com toda a melancolia bem-vinda, não levando o perfume dela que insistia em cercar-me. Ela?, imóvel também estava.
Faça sua escolha: traga-a até mim ou jogue-me no tempo e me perca pro resto da vida. Essa sua indecisão leva-me calmamente a descansar por toda a eternidade.
Não entendo como pode complicar tanto, ó vento! Sempre serviu para trazer bons ares e levar o mal, ou vice-versa, mas acredito que esteja descansando, mesmo não tendo feito absolutamente nada.
O que anda fazendo é levar certos ciscos em meus olhos que, absolutamente, não consigo tirá-los.



domingo, setembro 01, 2002

Bis

O mesmo céu estrelado dum ano passado. Tantos dias acabaram, tanto outros surgiram e nada mudou. A essência nunca se altera, os mesmos erros; pessoas vão e vem, os erros não. São repetidos, maldita burrice que faz com que se prolonguem por tanto tempo. Não dão tempo de ir e voltar, ficam estampados nos olhos de quem você bem entender, e escolhe o mesmo alguém, mas em tempos diferentes.
Peca ao errar do mesmo modo, à mesma tola maneira que pensava agradar, e com medo das respostas não aplica as perguntas. Acredita ainda ser um vitorioso por não sentir dor alguma. Tolo! isso mesmo, TOLO!. Tem a coragem insignificante de olhar-se no espelho e acreditar que há luz no fim do túnel, fútil!! De tão calmo nunca expressa as reais situações, faz-se passar ainda por forte e seguro.
Com que olhos insistem em ver o que não querem?
O que fez acreditar que amanhã haverá um outro dia?