terça-feira, junho 22, 2010

Tricky Mind

Protagonista de uma vida que não a sua própria. Senti-me assim, de tal maneira que sequer tive coragem de perguntar a mim mesmo a razão deste aperto no peito. Era estranho demais para me sentir íntimo a fazer um questionamento desses. Se estava calado, eu responderia?

Mas, se cansado ousasse, teria ouvido/respondido sobre os cargos e posições ocupadas. Pois as roupas elegantes, empoeiradas e os sapatos sem graxa indicavam pouco uso. Parecia um velho-novo-hábito sentar em banco de praça a observar as pessoas falsamente ocupadas. Atarefadas com um sem número de atividades sem importância. Talvez o âmago seria não perguntar e ter a habilidade de ouvir a resposta sobre sentir falta da antiga vida. Não exatamente sobre os primeiros assuntos, mas, originalmente, conseguir informações sob a superfície. O que parece não importar, em segundo ou terceiro plano e nunca perde o posto.

Mas, teria resposta fácil se houvesse simples base para comparação. Ocorre que, em enfrentar tais novos desafios, a memória se corrompe. Hoje sabido é, nunca houve outra vida.


quarta-feira, junho 16, 2010

Suposições

Você sai e me deixa com esse silêncio.

Então eu imagino o que você diz ou está pensando, mas não sou tão criativo. Minha representação de suas ideias são sempre tão previsíveis ou mirabolantes, de excesso ou simplórias. Tão minhas... tão não suas. Qualquer explicação imaginada é tão exagerada frente à realidade. Fato.

Esqueço que às vezes as pessoas encontram as palavras certas logo de cara, ou procuram-nas antes de pronunciar qualquer coisa. Personagens são previsíveis para quem conhece muito das pessoas, intimamente. Não é o meu caso.

Ainda tento entender suas razões. Mais incógnitas que informações, acabo criando estórias, vivencias e um conjunto de razões absurdas, respeitosamente. Esqueço sempre da simplicidade.

Sequer me olha nos olhos, como se lá não estivesse. E sai, rapidamente. Seus cabelos estavam molhados, vi de relance. Estava linda, é verdade, lembrava uma daquelas moças de desfiles.

Pensando bem, parecia atrasada.

Mas isso é só suposição.


domingo, junho 13, 2010

Conjunto Desejo

Não, não deveria ser tabu.
Da- e naquela forma serena,
Imagem, das curvas, bela,
O retrato, do momento, nu.

Das fotos, interpretação.
Nos toques, lábios e pele,
Você em silêncio pouco revele,
Sua censura toda sem razão.

Deveriam aqueles momentos,
Proibidos e não falados,
Serem uma vez revelados,
Ao menos de tempo em tempo?

Será possível, acordar e ter
Chance de mostrar o que vejo
No meu simples infinito desejo
De por um dia o bem lhe fazer?


Senhor em Café

Era um senhor, sentado a uma pequena mesa redonda, de pedra, em um café meio vazio. Pousou levemente o chapéu na extremidade da bengala e essa em uma cadeira.

Não seriam úteis mesmo.

Água com gás e café chegaram antes que pudesse se concentrar em imagem alguma, era para isso que tinha ido àquele lugar. Fora assim por bastante tempo, suficiente para virar um hábito. Criava os momentos para sentir o que percebia ser necessário. Era do tipo que ficava com a caneta nas mãos esperando as idéias correrem sua vista e serem escritas, automaticamente. Vivia os momentos esperando os lampejos e calafrios de um insight, que nunca ocorria mesmo.

Mas acreditava que existiram. Precisava ter vivido isso, melhor que inventar memórias.

Era de um outro mundo. Por algumas vezes percebi que tomava um fôlego rápido, como se iniciasse uma conversa. Mas relaxava os ombros logo em seguida. Olhava desapontado para cadeira vazia. Quem quer que fosse, fazia muita falta.

Seria ele um cineasta e ela, uma musa com a qual nunca pudera ter caso algum? Possível. Fotógrafo e ambos em momentos bastante íntimos, mas uma barreira os impediria de fazer qualquer coisa? Também possível. Colegas de um ramo que ambos se admiravam a ponto de satisfazer. E aqueça bengala, companheira inseparável e apoio portátil?

Figura enigmática. Pareceu ensaiar uma reclamação com o café, mas não vestiu a pompa daqueles que possuem razão, aquiesceu e assim permaneceu por mais um período. No fundo, sabia que não era café ou qualquer coisa que naquela mesa havia.

Aquela dúvida. Se tivesse vendido o carro e comprado outro, ou nenhum. Se deveria tê-la beijado de forma mais doce ao sair. Se o frio nunca fora justificativa, mas desculpa, para se encolher e se esconder. Se tudo isso não deveria ocupar a cabeça, pois coisas mais importantes estariam ocorrendo. E se houvesse um perdão para o erro que nunca fora cometido? Se depois de um tempo, surgissem outras razões? Epifania!

Um ponto de inflexão, era o que nunca poderia ser criado, imaginado ou vivido na intensidade devida. Eis que o homem levanta, atravessa a mesa, sem tocá-la, como se não existisse. O café, água, bengala e chapéu desaparecem, assim como o próprio. Mesa e cadeiras lá continuaram.

Seria necessário conviver com o ordinário, novamente. Mas o dia já tinha nascido. Onde estava mesmo?


segunda-feira, junho 07, 2010

Desafio

A simplicidade do corriqueiro dia inibe as lembranças de frustrações de outrora. A chave é evitar a comparação entre o que se desafia, seguro, e aquilo que se deveria enfrentar e ter como meta para que se possa aumentar a gama e profundidade dos obstáculos, problemas.

Ainda que haja preocupação sobre a relação entre passo e tamanho da perna, o mais correto e necessário seria avaliar novos lugares a se pisar. Campos que prometem.

Mesmo que eles façam questão de virar a cara.

Faz parte da provocação, ou melhor, do desafio.


sexta-feira, junho 04, 2010

XI

Ele sabia que a pior coisa era não estar certo sobre o que havia verdadeiramente cometido. Encarcerado, alguma ação deveria justificar aquele estado imposto de privação e meditação profunda e contínua. O processo de compreensão passa por analisar friamente as recordações e montar o filme que vai mudando conforme a não-convergência das coisas a sentido algum. Nesse momento, as peças faltantes são fabricadas e o efeito pode ser catastrófico.

Não era o caso. Sequer lembrança havia. Mas ainda sentia a culpa. Que arranhava o estômago, dor lancinante, subia a pressão nos olhos, distorcendo as cores e borrando a penumbra que havia no recinto. Tudo parecia mais suave, com detalhes de cristais, efeito da enxaqueca que a restrição de cafeína o fazia passar - ou isso era desculpa. Mesmo de olhos fechados, tudo era claro demais. E havia aquele sol, e os sons metálicos, de bem longe.

Se pudesse desejar algo, era conhecer a extensão dos efeitos de suas ações e saber, de uma vez por todas, o que havia cometido. Desculpas, perdões e mesmo o que já fora sofrido em tal período, seria moeda de troca para amenizar a reza sem destino claro.

E pensava:
"O que poderia ter acontecido de tão ruim que não pode ser dito?"


quarta-feira, junho 02, 2010

Sobre Escrito

Ou escrituras. Sabida é a impossibilidade de ser inteiro a todas as pessoas. O ambiente limita a atuação à classificação das relações interpessoais, previamente. Há quem sirva a muitas funções em relacionamentos de todas as esferas, há quem sirva apenas para ser observador distante. Os dados já estavam marcados antes mesmo de serem fabricados. E o jogador, bom, pensa ao ver os pontos brancos rolando que soprá-los aquecendo-os e torcer pode surtir algum efeito.

Bobagem, oras. Se antes mesmo de ocorrer algo, os dados já se sentiam inclinados e o próprio jogador, no fundo, sabia o que queria... Ou o que deveria. E as partes que concentram as atenções de muitas dessas relações, num dia chuvoso decidem que melhor seria lembrar dos céus azuis e torcem. Acabam por lamentar os números errados.

Mas não há o que possa ser feito. Num acidente qualquer se é inteiro, noutro, apenas sombra ou algum pedaço de lembrança, aviso escrito e verso pouco lido. Uma vontade de gritar um canto falado, poético, romântico, no intento de teatrar imagens, somar sorrisos e ter centro.

Orbitá-lo.