sábado, dezembro 25, 2010

Luz

São tempos de luz. Onde a sombra dos objetos não são mais imaginadas.

Ruas inteiras eram criadas e recriadas por cada um dos passantes. Ao nosso lado, permaneciam pessoas completas, da forma em que as víssemos. E elas até chegavam a fazer parte desses arquétipos, mas era tão difícil saber o momento exato dessa existência! Ah! E quem queria reconhecer tal momento e duvidar de tantos outros bons!

E se foi um lapso de tempo e estava a falar sozinho.

In his mind a voice kept telling a story. Part fictional, part real.
Just too good to be true. So impossible to distinguish whether those moments could be repeated. Lived again and again.


Someone switched the lights on. And those desired shadows weren't capable of being imagined or developed anymore.

Although a silence filled everyone's life and made everyone not as happy as before, that's how things should be from now on.

They are still trying to move on...


segunda-feira, dezembro 20, 2010

Espaço

Conseguiria controlar-se se a visse em manto de estrelas? Ah! Se o rosto mudasse à imagem desejada, sem que os instantes lembrem e evitem o erro de enganar-se. Mas o piscar de olhos é um amanhecer confiante, certo de que não é mais tempo de projeções e que as pessoas originais são autênticas e admiráveis.

Naqueles assuntos quaisquer que irrompem, sempre, um brilho intenso nos belos olhos naturais, onde manter controle é condição a admirá-la eternamente. Na mudança dos temas com o propósito de estender e tapear os ponteiros afoitos, em incansáveis dias e tardes em lugares diversos.

Um pouco mais de qualquer coisa, em todas as mídias, em todos os personagens, em seres vivos ou não, na abstração de declarações que beirem o nonsense. Manter contato, de alguma forma, para diminuir a barreira etérea, que impede o mais aproximar.

Não estaria bom assim?


segunda-feira, dezembro 13, 2010

9

Muitas foram as chuvas que fecharam os olhos, para que permitisse que se abrissem novamente, mais nítidos. Do caos na imprevisibilidade de toda a torrente à paz de ser compreendido, ressonante, ao despencar só e se encontrar acompanhado.

Reflexões que aguardam por horas até mirá-las, compreendê-las e publicá-las - se assim possível for. De muitas personagens que povoaram esses textos, como projeções de íntimos desejos em pessoas do convívio. Muitas mereciam [e merecem] mais, embora a tônica deste espaço tenha sido sempre abstraí-las, nas muitas vezes em que o espelho transfigurava em demasia.

E se houvesse razão para continuar a fluir? Deveria ser a mesma imprevisilibidade dos dias em São Paulo. Da certeza de que o dia seguinte mostra novos caminhos, em diferentes tons, cruzando pessoas de sol e chuva, harmoniosa e humildemente.

Sem acaso.


sábado, novembro 20, 2010

Muda

A verdade muda com o chegar da noite. Da realidade, as últimas razões também se vão. E tudo se esvazia, na velocidade em que se esquece o que pensava. O que em algum ponto do caminho foi referência e marco, inspiração escrita como migalhas de João e Maria, foge com a incerteza da declaração silenciosa e imprecisa.

Que não é compreendida, nem fere a criatura. Não oferece a mão ou sorriso. Não altera o equilíbrio nem age como geniosa-genial. Evita.

Muda.


sexta-feira, novembro 05, 2010

Do Encantar

A única forma de ser interessante é ser, coerentemente, nunca o mesmo. Confundem-se aqueles que reconhecem, por atitudes características, antigos contatos e vivências e julgam "continua o mesmo". Justifico o fato pela existência de um núcleo de código de conduta intrínseco à pessoa, muito embora alguns outros princípios sejam anexados ao longo do tempo, ainda que isso possa parecer um contra-senso.

Seria enfadonho ater-se a um código nato, excluindo toda e qualquer experiência advinda das vivências e ocorridos próximos. Tornar-nos-ia previsíveis e descartáveis, visto que não impressionaria mais.

O segredo está na mudança, do que é visto e de quem vê. De que outra forma poderíamos continuar interessantes às pessoas com as quais convivemos? Ser fonte inesgotável de encantamento... Até para nós mesmos...


Inspirado em Encantamento


quinta-feira, novembro 04, 2010

Dos dias e café

O bom dia vem em goles de café. E companhia. A qualquer hora, afinal nunca é tarde para começarmos um bom dia.

Nem de nos rendermos à verdade de admirar a imprevisibilidade da vida alheia e toda a beleza inerente das conclusões solo. Mais incrível que qualquer criação, ainda que tenha sofrido muito e a influência de próximos se fez necessária e justa.

Afinal, não há iluminação solitária, visto que espalha rapidamente, contagiando os olhos que cerram sorrindo e escancaram a boca em felicidade. Depois a vista acostuma, mas o encanto permanece.

É sentir-se parte do todo, novamente. E saber que todo não fora todo antes disso.


domingo, outubro 03, 2010

...

Não há como pertencer a esse mundo hoje. Se a chuva cai e com ela caminha toda a negativa de todos os argumentos úteis a motivar uma proximidade. A distância, que os passos contam, não se justifica.
Antes fosse um simples sofrimento de choro e soluços presos, que o amanhecer traz esquecimento como doce à criança de olhos e rosto molhados e vermelhos. Mais, um não saber donde está, que mal se interroga e espera estático a solução convencional. Já almejada há tempos, que por muito se pensou e se concluiu inviável. E desejada.

Surge, novamente, o anseio de portas e janelas, de mergulhar no rio até a outra margem. Para se saber, de uma vez por todas se há erro que não se perdoe ou levante que não atinja aqueles olhos abertos. Que justifique, se justifique.


quinta-feira, setembro 30, 2010

Em outros olhos

O que me levou à confusão foi o medo de arrepender-se. De não ter ido, claro, visto que aventuras -ao menos nos dias de hoje- são muito escassas. Digo das reais aventuras, aquelas que carecem de terapia posterior ou profunda reflexão, visto que proibições legais não fazem meu estilo nem repercutem bem, assim. Em tempos atuais de falso regime, contraventores merecem reclusão e acabam conseguindo tal façanha. Não entendem exatamente o motivo, mas há quem acabe seguindo alguma interpretação do livro e assim procede.

Um conjunto de reflexões sobre os tipos psíquicos e os locais à primeira visita, onde aquela química do ambiente num misto de desconforto, compete com as inúmeras e sustentáveis incertezas que, subitamente, passaram ao rol de ferramentas utilizáveis. O lugar influencia menos do que o imaginado, posto que o peso de cada um dos sentidos ainda pode ser parcialmente controlado. Embora haja a revelação de muitos segredos inimagináveis, parecem apenas processo, e não fim. Assim, não choca.


terça-feira, agosto 17, 2010

Just a little misadjustment.
Minor.
Prior to what should really matter.
Part of an eye-struggling headache.
Assuring that the only and inner reality can be seen.

Under a spotlight.
Yourself, a pen and the painful task of telling the truth.

Perhaps.
Not today.


segunda-feira, agosto 16, 2010

Antigos Novos

Estaria bem até se somente vestida de um lençol. E justamente assim seria vista, no mínimo, ou no máximo, onde muito depende o ponto de vista.

Ainda que os sabores suprissem o respeito a essas vontades. Muito embora os novos prazeres não justificassem a insistência a esses preceitos, mas sendo intrínseco ao desejo de ser inteiro, tal aspiração continuou irresoluta.

Parcialmente há muito. Que toda a intimidade inimaginável conseguiu permanecer intocada aos olhos, que com a extrema proximidade, borrou e permitiu assim conservar eterna a imaginação.

Que deveria fazer algum outro sentido agora. Além da não compreensão ou timidez, incerteza de possuir o que se mostra. Apenas enraizar a negativa e postergar a outra o deleitar-se de contemplar ao ser admirada.


segunda-feira, agosto 09, 2010

Upgrade

Um conjunto de novos tipos. Cujo modelo englobaria mais arquétipos e uma não-linearidade de raciocínio e ações, compatíveis com a atual crença de mudança de atitude.
Se impelida, desejada ou necessária? Pouco importa: fato.

Onde a história continuasse a interessar, mais pela indulgência de não tão desvirtuosos ocorridos e as inerentes justificativas, que pela admiração de somente belos feitos. Pois não se pode, nem deve, atribuir os pesos às experiências, quando se evita percorrer a linha que conecta tais mundos, de bases diferentes.

O aplicar do conceito antigo incorre numa incompreensão e fechamento desmedido. Acalentado pela necessidade e profundos descabidos respeito e compaixão que outrem demonstra. Que explica, em qual língua for, a necessidade de aprimoramento do Modelo, já que, o usado até então, não mais consegue prever as respostas aos mais variados e novos estímulos.

Naturalmente.


domingo, agosto 08, 2010

Da Face Rubra

Uma caminhada simples. Através da densa inesperada neblina, de gotículas que cadenciavam a luz pública em cortinas de brisas. Cortantes, varrendo as pessoas e o rosto e os cabelos. Os olhos.

Vento frio, esclarecedor, insistente, golpeando as maçãs até que toda a face se envergonhasse. E olharia o chão, os passos rápidos e fugidios, o borrão que seria o caminho percorrido ainda por instantes. Por repetidas e velozes vezes longos cílios se agitariam. Congelaria as lágrimas que por ventura quisessem percorrer as formosas curvas de um belo rosto. Guardando a muito poucos as claras reais sensações.

Ao médio destino, isento da mudança pelo vento, restou ainda o vermelho da face. Que agora escondia o que observadores imaginariam ser algum ato ou feito, atitudes plenamente justificáveis. De um andar por vias, esquivando dos caminhos sem saída das noites pouco amigáveis, com quem antes já há muito se teve intimidade.

Moderada e cuidadosa.
Íntegra e amável.
Amável.


terça-feira, agosto 03, 2010

Confusion

Suddenly it happens. Periodically.
Your calm and steady home become a hell. You start to not be part of yourself anymore.
What before was called good judgement became a classic case of two weights and two measures.

The real problem is that everything is reasonable. Rationally, it's all damm fine. I don't think I'd act any differently!

Somehow it affects judgement and you're the weak part, the one that must take a deep breath and move on.

Noch einmal.

Vielleicht nicht das Letzte.



sábado, julho 31, 2010

Coeteris Paribus

Eram duas xícaras.
Ambas foram preenchidas com volumes praticamente iguais.

"Administrem!"

Conforme o tempo, consumo, o líquido seria reposto.

Em apenas uma delas.

Contrariando o que se fazia supor, inicialmente.


quinta-feira, julho 29, 2010

Time Elapsed

Não importa quanto o tempo passe.

Em várias e algumas piscadas, os ponteiros se movem, as janelas abrem e fecham, acompanhadas das cortinas. Luzes acesas, sol, chuva, lua, nuvem, vento.

A folha na parede é limpa, riscada, comentada, apontada, rasgada. Periodicamente, páginas viradas. Novas imagens aparecem, paisagens de calor, folhas e frio. Além das propagandas, sempre inúteis. De vez em quando, nem substituído, apenas reposto. E ficam os registros vãos de tempos idos.

Ao canto, na verdade, centro do recinto. Permanece atônito calado, silencioso enquanto o mundo corre rapidamente. Vinte e quatro dias em um segundo. Imóvel continua. A ouvir o que aquele telefone dizia.

Sentou-se. E ecoava aquilo, enquanto o mundo voava.

E não importa quanto o tempo passe. Ecoava ecoa.

Repeating all over again. And again.
And again,
again, fiercely.



quarta-feira, julho 28, 2010

Sobre Pontos e Vírgulas

Uma série vírgulas passeavam por aí. Faziam as pessoas tropeçarem.

Perdiam o foco. Continuavam a existir sem problemas após explicações.

Já pontos, brigavam muito entre si, mas sempre desejavam o silêncio, geralmente, na maioria das vezes, eram deixados solitários, considerados pouco sociáveis, muito embora conseguissem discutir em trios, afável e reticente,

Outras possibilidades são apenas combinações sem característica tão própria - meio-termo - típica de amplo convívio


terça-feira, julho 27, 2010

Sinto, muito

Resquícios de questões virtualmente inacabadas, cujos ecos de lembranças atormentam o passivo e desesperado sonho diurno.

À noite, quando os carros já pararam de passar, sem reflexos de lanternas correndo as paredes em mil direções. Sem o som dos sapatos apressados, de passos curtos, com frio. Sem vontade alguma de revisitar as terríveis verdades de outros tempos. Permaneço, acordado.

Amores com threshold, passíveis de término com a mudança de lua, subida de maré. Vento noroeste. Tempestade se aproximando. Fatos históricos não tão sólidos assim. Relíquias de Atlantis, submersas em algum lugar. Sólidas sim, mas condicionadas a permanecerem no tempo e espaço inicial. Estáticas.

Conforme o tempo passa, novos planos de projeção aparecem, dando novos significados às antigas verdades. Permitindo, ainda, algum novo tipo de lógica para acalmar racionais perturbados, diariamente.

Sinto, muito.


segunda-feira, julho 26, 2010

Máscara Reflexiva

Roupas e máscaras novas não funcionam mais. Ainda que o desejo arda por redenção festiva, é sabido que essa forma só é válida em literatura.

Menos plumas e brilho. Como tudo que acontece na frente das lentes de um fotógrafo de múltiplos acessórios, cuja maleta carrega a cura para imagens sem graça e repletas de realidade.

Inocentemente, com inspirar profundo, desejando que a imagem mude ao lavar o rosto de olhos fechados, e então reabri-los. Em vão. Espelhos nos enganam ao confrontar anseio e imagem. Por simples reflexo, sabe-se que nunca o que permitimos ser visto, o será por outros, exatamente. Olhos viciados que enxergam uma imagem distorcida, invertida.

Ajustes à imagem não serão, nem deverão ser, pois, contemplados da mesma forma. Ainda que, por ângulos distintos, causem enorme furor em novas mídias. Na busca de solução para essas mudanças desejadas, talvez seja necessário obter risos de outra pessoa e, depois de removida a seriedade inerente às perguntas importantes, inquirir.

"Abstraindo o que é reflexivo, o que você vê?"

Continua sem resposta.


terça-feira, julho 20, 2010

Conjunto da Obra

Os dias terminam sempre muito tarde. No tempo em que a fuga era reclusiva, chegavam ao fim logo depois de não ter luz alguma. O suficiente para abrir os olhos com luz natural.

Talvez fosse medo do escuro. Mas não é bem verdade. A imensa vontade era de que os dias passassem rápido, para que os contatos não cansassem da mesma voz sem assunto algum, novamente.

O dilema era simples, se interferir ou observar. Observar dava um prazer diferente, de conseguir concluir de maneira lógica que fatos e ações culminariam em algo, previsto somente por uma pessoa. Interferir era impossível.

Impedir o tropeço necessário, as lágrimas e até os olhos de raiva. Mau, o suficiente para desejar um pouco de realidade aos que fogem da invariabilidade da clara sequência dos futuros acontecimentos.

Pontos de vista não fazem questão de mudar o que se vê, ainda que névoas sempre omitam detalhes, parcimoniosamente. Anseio sutil de convergir ideais, projetar as vontades divinas no filme sujo que corre aos olhos.

Sem a primeira observação, não há questão de fazer parte das imagens. O segredo é estar atrás das lentes, como quem controla o registro. O mais distante possível.


segunda-feira, julho 12, 2010

Celebração

É uma sensação de vazio.
Certeza de um momento que nunca fora aprazível em nenhuma das ocasiões.

Primeiramente, uma pergunta que jamais deveria ter sido feita. Cuja resposta, claramente influenciou futuras reações.

Em ano seguinte, mais uma vez, não fez parte de um todo desejado. Ao menos na época, possuía vontade de partilhar de uma alegria há nunca compreendida. O desejo silencioso enquanto todos festejam o momento de consagração do mesmo dia, há anos. Partilhado. Esquecido.

Ainda em outras ocasiões, era apenas mais um dos convidados. Fato que era tolerável por um dia, mas mostrou enraizado em sentimentos de angústia indescritíveis.

E, sentado, ao ouvir as notícias do dia, sabe-se: há festa. O que comemorar.

Do outro lado do rio, onde se vê a fogueira mas não se vê a música. Compreende-se muito menos, embora importe muito mais.


domingo, julho 11, 2010

Obs

Quisera manter o riso contido e misterioso, sábio, daquele que conhece os rumos futuros e nada faz para alterar.

Observador.

Por um lado, há o prazer de estar correto.
Por outro, o desejo de que as coisas ruins aconteçam a seu tempo e gerem as mudanças esperadas.

Mau?

No fundo, se resume ao anseio de não participar de coisa alguma, característica de quem não foi ouvido a tempo ou possui voz baixa a ouvidos surdos. A certeza de que, por perder a voz há tempo, desiste de tentar novamente. Na estória, há um novo rumo.

Repetição.

Novamente.


quinta-feira, julho 08, 2010

Giro

A intenção era dar uma pequena volta. Mas, ao longo do caminho, eram tão terríveis os traços daquilo que via, que a cegueira normalmente utilizada para esses momentos não mais serviu.

Deu meia-volta.

Não encontrou mais o ponto de partida.


quarta-feira, julho 07, 2010

Álvaro

Conversei com o meu amigo Álvaro. No meu quarto. Em sua sapiência, disse-me para ter calma. Que sempre existem imperfeições, algumas somente vistas quando o sol se põe. Demorei para entender isso, mas depois que acendi a luminária, pude entender do que falava: das sombras que se formavam na parede e teto.

Com a leve brisa, a luminária se mexia e Álvaro acompanhava o movimento, de forma amplificada e em fase. Conseguia desviar com sucesso. Das sombras, da luz, de algo que não era muito claro. Mas, acredito ter conseguido absorver o âmago do que me dizia. Para se mover junto com o ponto de vista, assim a obter outras formas de se ver o que incomoda. E ser flexível, sempre.

Álvaro, um gênio.
Álvaro, o teto.


quinta-feira, julho 01, 2010

Sobre Pedras e Gente de Verdade

Falava com certa empolgação até ser interrompida:

"Já falei p'rá falar baixo..."

"Então, é sobre o que eu tenho..."

"É baixo, não sussurrando. É possível ouvir um sussurro a uma boa distância daqui... Jajá verão que estamos a conversar confidências."

Tomou o fôlego novamente, com novo controle e prosseguiu:

"Ok. Mas não são confidências ou segredos. São constatações. Eu tenho percebido ao longo desses últimos meses. Como se as pessoas não buscassem a... a cristalinidade de suas ações."

"Hmmm... Como assim? Transparência?"

"Quase isso. Mas, diferente. A coerência de todas as ações. Uma forma na qual se pudesse, por todos os ângulos..."

Parou. Fez alguns gestos. Relaxou os ombros, levantou a mão direita com os dedos unidos apontados para cima, na altura dos olhos. Recomeçou a explicação, posicionando a mão esquerda em diferentes pontos ao redor da mão erguida.

"Enxergar com transparência, em todas essas posições. Uma forma que não se fosse cego ou deixasse os outros cegos. Que esta nitidez fosse capaz de representar a ausência de incongruências. Erros, mas não compensados com desdém."

"Deixe-me ver... o que fizeram com você? É como se alguém tivesse aberto seus olhos há muito fechados. Ou que algo a tivesse feito reparar no que conseguia desviar a atenção há bastante tempo. Em qual momento não ver 'através desses cristais' passou a incomodá-la? Por que isso importa a você?"

"Porque me dá nojo, desprezo. Em outras palavras de asco que não consigo me lembrar. Mas se você puder ler minha expressão saberá bem do que falo. Quando voltar, pegue algum de seus dicionários. Qualquer sinônimo procede."

"O que me disse é reflexo, não porque importa... Quando?"

"Mas... Já disse. Há alguns meses. Parece-me que essas ações se tornaram um absurdo quando me tornei vítima... 'menos melodrama', sei... parte, me tornei parte e observadora próxima disso tudo. Quando percebi de outras falas que eu posso ter sido citada de mesma maneira que ouvi sobre uma ou um outro qualquer."

"Vamos lá, por partes. Se eu entendi, você chamou de 'clareza' ou 'cristalina' as ações de outras pessoas quando não interferem no meio onde elas ocorrem?"

"É."

"Isso é impossível."

E se afastou um pouco.

"Não é... Ou é."

"Não seria razoável pensar que algumas ações tem reações e é assim que tudo funciona? Normalmente."

"Sim. Concordo... Mas o problema é justificá-las, momentos depois, a todos, sem razão alguma. E, acabamos sempre em risos, difamação. No fundo, não é necessário justificar nada a ninguém, pois... afinal... há razão inerente nas ações, simplesmente."

"Essas justificativas servem, em geral, para continuarmos inseridos no grupo. Narração de ações não usuais são acompanhadas de interrogações e narizes torcidos. É natural. Explicando qualquer coisa que possa ser compreendida como justificativa para o anterior fato. A extensão e absurdo do argumento são reflexos da não crença do próprio narrador aos fatos."

"Tem sempre alguns que apenas riem. Faz sentido."

"Pessoas em grupo agem de maneira diferente. Você já deveria saber disso."

"Mas há pessoas que não são separáveis do todo, embora muito deseje. Suas respostas não são passíveis de análise. No conjunto todo, não há como reservá-la."

"Não confunda erros com arrependimentos. Os primeiros seriam mais sobre como os outros a julgam, enquanto o último é sobre o silêncio e escuridão do quarto, quando somente uma vez ecoa - a sua própria - a questionar o que fizera. Tamanho é este poder, que sempre mentem sobre arrependimento ao pedir desculpas por um erro."

"Continue."

"As ações de outras pessoas não são responsabilidade sua. Nem deveriam incomodá-la. Embora sinta vontade de cutucar as pessoas pedindo explicação, não deve e nem pode. Nas conversas as pessoas se permitem, com pouca abertura, verdadeiras perguntas. Mas em curto período. Em momentos onde se sentem num abismo e informam fatos que formaram o próprio caráter, numa tentativa inconsciente de dizer que já estiveram em situação pior. Ou que estão em situação muito melhor e aquilo não importa mais."

"Muito melhor ou muito pior. Entendi. Mas e a busca por essa parte cristalina? Essas perguntas?"

"Você já tem a resposta. Ou não precisa delas."

Com dúvidas, mas mais tranqüila. Despediu-se, partiu. Certificou-se que ninguém a vira e continuou a se distanciar.

Não se encontram há dois meses.


terça-feira, junho 22, 2010

Tricky Mind

Protagonista de uma vida que não a sua própria. Senti-me assim, de tal maneira que sequer tive coragem de perguntar a mim mesmo a razão deste aperto no peito. Era estranho demais para me sentir íntimo a fazer um questionamento desses. Se estava calado, eu responderia?

Mas, se cansado ousasse, teria ouvido/respondido sobre os cargos e posições ocupadas. Pois as roupas elegantes, empoeiradas e os sapatos sem graxa indicavam pouco uso. Parecia um velho-novo-hábito sentar em banco de praça a observar as pessoas falsamente ocupadas. Atarefadas com um sem número de atividades sem importância. Talvez o âmago seria não perguntar e ter a habilidade de ouvir a resposta sobre sentir falta da antiga vida. Não exatamente sobre os primeiros assuntos, mas, originalmente, conseguir informações sob a superfície. O que parece não importar, em segundo ou terceiro plano e nunca perde o posto.

Mas, teria resposta fácil se houvesse simples base para comparação. Ocorre que, em enfrentar tais novos desafios, a memória se corrompe. Hoje sabido é, nunca houve outra vida.


quarta-feira, junho 16, 2010

Suposições

Você sai e me deixa com esse silêncio.

Então eu imagino o que você diz ou está pensando, mas não sou tão criativo. Minha representação de suas ideias são sempre tão previsíveis ou mirabolantes, de excesso ou simplórias. Tão minhas... tão não suas. Qualquer explicação imaginada é tão exagerada frente à realidade. Fato.

Esqueço que às vezes as pessoas encontram as palavras certas logo de cara, ou procuram-nas antes de pronunciar qualquer coisa. Personagens são previsíveis para quem conhece muito das pessoas, intimamente. Não é o meu caso.

Ainda tento entender suas razões. Mais incógnitas que informações, acabo criando estórias, vivencias e um conjunto de razões absurdas, respeitosamente. Esqueço sempre da simplicidade.

Sequer me olha nos olhos, como se lá não estivesse. E sai, rapidamente. Seus cabelos estavam molhados, vi de relance. Estava linda, é verdade, lembrava uma daquelas moças de desfiles.

Pensando bem, parecia atrasada.

Mas isso é só suposição.


domingo, junho 13, 2010

Conjunto Desejo

Não, não deveria ser tabu.
Da- e naquela forma serena,
Imagem, das curvas, bela,
O retrato, do momento, nu.

Das fotos, interpretação.
Nos toques, lábios e pele,
Você em silêncio pouco revele,
Sua censura toda sem razão.

Deveriam aqueles momentos,
Proibidos e não falados,
Serem uma vez revelados,
Ao menos de tempo em tempo?

Será possível, acordar e ter
Chance de mostrar o que vejo
No meu simples infinito desejo
De por um dia o bem lhe fazer?


Senhor em Café

Era um senhor, sentado a uma pequena mesa redonda, de pedra, em um café meio vazio. Pousou levemente o chapéu na extremidade da bengala e essa em uma cadeira.

Não seriam úteis mesmo.

Água com gás e café chegaram antes que pudesse se concentrar em imagem alguma, era para isso que tinha ido àquele lugar. Fora assim por bastante tempo, suficiente para virar um hábito. Criava os momentos para sentir o que percebia ser necessário. Era do tipo que ficava com a caneta nas mãos esperando as idéias correrem sua vista e serem escritas, automaticamente. Vivia os momentos esperando os lampejos e calafrios de um insight, que nunca ocorria mesmo.

Mas acreditava que existiram. Precisava ter vivido isso, melhor que inventar memórias.

Era de um outro mundo. Por algumas vezes percebi que tomava um fôlego rápido, como se iniciasse uma conversa. Mas relaxava os ombros logo em seguida. Olhava desapontado para cadeira vazia. Quem quer que fosse, fazia muita falta.

Seria ele um cineasta e ela, uma musa com a qual nunca pudera ter caso algum? Possível. Fotógrafo e ambos em momentos bastante íntimos, mas uma barreira os impediria de fazer qualquer coisa? Também possível. Colegas de um ramo que ambos se admiravam a ponto de satisfazer. E aqueça bengala, companheira inseparável e apoio portátil?

Figura enigmática. Pareceu ensaiar uma reclamação com o café, mas não vestiu a pompa daqueles que possuem razão, aquiesceu e assim permaneceu por mais um período. No fundo, sabia que não era café ou qualquer coisa que naquela mesa havia.

Aquela dúvida. Se tivesse vendido o carro e comprado outro, ou nenhum. Se deveria tê-la beijado de forma mais doce ao sair. Se o frio nunca fora justificativa, mas desculpa, para se encolher e se esconder. Se tudo isso não deveria ocupar a cabeça, pois coisas mais importantes estariam ocorrendo. E se houvesse um perdão para o erro que nunca fora cometido? Se depois de um tempo, surgissem outras razões? Epifania!

Um ponto de inflexão, era o que nunca poderia ser criado, imaginado ou vivido na intensidade devida. Eis que o homem levanta, atravessa a mesa, sem tocá-la, como se não existisse. O café, água, bengala e chapéu desaparecem, assim como o próprio. Mesa e cadeiras lá continuaram.

Seria necessário conviver com o ordinário, novamente. Mas o dia já tinha nascido. Onde estava mesmo?


segunda-feira, junho 07, 2010

Desafio

A simplicidade do corriqueiro dia inibe as lembranças de frustrações de outrora. A chave é evitar a comparação entre o que se desafia, seguro, e aquilo que se deveria enfrentar e ter como meta para que se possa aumentar a gama e profundidade dos obstáculos, problemas.

Ainda que haja preocupação sobre a relação entre passo e tamanho da perna, o mais correto e necessário seria avaliar novos lugares a se pisar. Campos que prometem.

Mesmo que eles façam questão de virar a cara.

Faz parte da provocação, ou melhor, do desafio.


sexta-feira, junho 04, 2010

XI

Ele sabia que a pior coisa era não estar certo sobre o que havia verdadeiramente cometido. Encarcerado, alguma ação deveria justificar aquele estado imposto de privação e meditação profunda e contínua. O processo de compreensão passa por analisar friamente as recordações e montar o filme que vai mudando conforme a não-convergência das coisas a sentido algum. Nesse momento, as peças faltantes são fabricadas e o efeito pode ser catastrófico.

Não era o caso. Sequer lembrança havia. Mas ainda sentia a culpa. Que arranhava o estômago, dor lancinante, subia a pressão nos olhos, distorcendo as cores e borrando a penumbra que havia no recinto. Tudo parecia mais suave, com detalhes de cristais, efeito da enxaqueca que a restrição de cafeína o fazia passar - ou isso era desculpa. Mesmo de olhos fechados, tudo era claro demais. E havia aquele sol, e os sons metálicos, de bem longe.

Se pudesse desejar algo, era conhecer a extensão dos efeitos de suas ações e saber, de uma vez por todas, o que havia cometido. Desculpas, perdões e mesmo o que já fora sofrido em tal período, seria moeda de troca para amenizar a reza sem destino claro.

E pensava:
"O que poderia ter acontecido de tão ruim que não pode ser dito?"


quarta-feira, junho 02, 2010

Sobre Escrito

Ou escrituras. Sabida é a impossibilidade de ser inteiro a todas as pessoas. O ambiente limita a atuação à classificação das relações interpessoais, previamente. Há quem sirva a muitas funções em relacionamentos de todas as esferas, há quem sirva apenas para ser observador distante. Os dados já estavam marcados antes mesmo de serem fabricados. E o jogador, bom, pensa ao ver os pontos brancos rolando que soprá-los aquecendo-os e torcer pode surtir algum efeito.

Bobagem, oras. Se antes mesmo de ocorrer algo, os dados já se sentiam inclinados e o próprio jogador, no fundo, sabia o que queria... Ou o que deveria. E as partes que concentram as atenções de muitas dessas relações, num dia chuvoso decidem que melhor seria lembrar dos céus azuis e torcem. Acabam por lamentar os números errados.

Mas não há o que possa ser feito. Num acidente qualquer se é inteiro, noutro, apenas sombra ou algum pedaço de lembrança, aviso escrito e verso pouco lido. Uma vontade de gritar um canto falado, poético, romântico, no intento de teatrar imagens, somar sorrisos e ter centro.

Orbitá-lo.


segunda-feira, maio 31, 2010

Sem razão nem sentido

Existirá algo além da certeza de que há esse desperdício de energia? Algo que leve a mente a concluir algo belo sobre as impossíveis relações entre as pessoas?

Condicional ou não, o convívio parece sempre forçado. Se houver algum tipo de bem-estar, é sabido que durará pouco, uma vez que qualquer equilíbrio finda rapidamente. Tudo cansa, afinal. No fim do dia, quando as luzes se apagam e se recorda sobre os silêncios subsequentes a inúmeras tentativas de... ouvir. Quando a própria voz não é suficiente para esclarecer e responder às próprias perguntas, se fosse possível corrigir as palavras...

No começo da tarde, impossível não ter visto. Estava ali, ao lado. Ainda que não conseguisse enxergar à distância, deveria ter reconhecido a silhueta característica. Devia. Mas, agora, não é necessário perguntar. Talvez um outro dia, no qual seja possível não ser consumido por inúmeras ideias pouco publicáveis e, verdadeiramente, ansiando desculpar por qualquer motivo. Mesmo sem razão. Ainda que não haja sentido.


segunda-feira, maio 24, 2010

Desordem

Fato importante foi a forma de obter tal controle. Ao menos parte. Dividia o belo penteado em duas partes, fio por fio: a parte próxima da raiz deveria se comportar, preso com dispositivos quase invisíveis, enquanto que o restante deveria ser meticulosamente desordenado, de maneira aleatória e randômica. Em formas de semicurvas levemente onduladas, tocadas e esculpidas por brisas e tempo.

O efeito era fantástico, sabe se lá o tempo necessário para atingir o resultado, mas ao observador mais desavisado, tal cabelo era simplesmente bagunçado e fazia parte de um estilo descontraído, descuidado, casual.


quinta-feira, maio 20, 2010

Sobre Rodopios e Rugas

Dos ébrios rapazes ou senhores que por aquela praça andavam, em círculos, pouco restou. Quando, se vistos, em giros estonteantes, como cinegrafistas a representar pessoas felizes, brincalhonas, em propaganda de fragrâncias, carregavam a pura e simples alegria de não se preocupar com o antes, nem o depois, certamente, nem o agora.

"Agora" não deveria existir. Exigentes a confrontar o estado dos tempos, os burocráticos se enganavam e perdiam os rodopios e o rock'n roll espiritual que dos primeiros exalava. Pessoas não possuem idade, fato importante que sempre era desprezado, cabendo aos juízes proporcionar as ações às aparentes rugas. Sinais apenas de que físico e alma não necessariamente estão em sintonia, para aqueles que veem. Deveriam saber o segredo simples: que almas velhas são leves e joviais, e a sobriedade é a preocupação de não deixar transparecer o erro de ter ganho as rugas sem o devido aprendizado.


domingo, maio 16, 2010

Sintonia e Ressaca

As energias guardadas são extravasadas de forma demasiado intensa. A pouca frequência em que isso ocorre gera problemas maiores, inimaginados.

O grito, canto, dança e os sorrisos são formas absurdas de causar um vício e uma fuga bem-vinda da realidade. No fundo, não são necessários para a vida, mas fazem parte do conjunto de portas que, uma vez abertas, nos obrigam à uma nova interpretação da forma de viver. Não existe coisa pior do que tirar uma locomotiva d'um trilho que chegará a algum lugar certo, justificando que outra estrada de ferro percorrerá as encostas de montanhas, vales belos e atingirá exatamente o mesmo objetivo.

Não é sobre questionar a veracidade de tal proposta, é apenas a observação que não pode haver sintonia entre tais possibilidades e aquele que as julga desimportantes. Não há ajuste possível que permita ressonar a estímulos que não permanecem tempo suficiente para serem vivenciados e desejados, aprendidos. Causam o efeito inverso, pedindo afastamento e um júri completo para correta interpretação, isenta das influências momentâneas. Burocraticamente, ficam poucas notas nos autos, e a certeza de que não deveria haver novo julgamento.


sábado, maio 15, 2010

Azedume

O amargor pode ser apreciado também, como o ácido com tanino ao enólogo treinado e falsamente ao pedante. Quem julga é culpado pela falta de bom senso ao crer na veracidade de informações ouvidas e má interpretadas, além de insistir irracionalmente por melhores oportunidades, ainda que as atuais ou futuras terão essas faculdades ou outras de mesma intensidade.

E o sonho é ter tal chance, de jardins cuidados, cerca branca, piscina e churrasqueira para juntar os inexistentes amigos. Afinal, projeções de ideiais atrapalham muito o andamento das coisas.

Ilusões de nova vivência recaem no velho prazer de um novo amargo, apaixonante como o Campari ou o Vinho, seduzido pela solidão de combinações pouco prováveis dessa extravagância. Decoração de bar, importante para o todo, ainda que não faça parte de qualquer classificação.

Ainda que sejam apresentados sabores e temperos, nada remove o amargor, uma guinada desejada aos valores já um tanto desgastados, padrões de comportamento de uma época em que não se vivia.

Os olhos ainda tentam piscar vagarosamente, para reverter o desprezo pelo tempo, fingindo uma importância de cada instante.

O relógio não anda.


terça-feira, maio 11, 2010

Uma Nova

Máscara, ou melhor, pele. Que cobrisse o corpo inteiro, para que a parte mais interna pudesse resistir às investidas do ambiente. Desejava.

Não só a face, mas o corpo todo, pois este age, sofre e não quer resistir. No fundo, prefere definhar e ser substituído, pois não é imprescindível que permaneça como é.

Algo precisa ser destruído para que possa ser novo.

Não há Fênix sem cinzas.


Pedra

O que na verdade incomodou foi o tamanho da pedra. Pois pausas são sempre necessárias para rever o conforto de nossas bases e raízes. Mas a pedra, ou rochedo, era grande demais. Mal cabia o pé já anestesiado e pouco incomodado com a divisão.
Competições à parte, às vezes é necessário andar descalço.


quinta-feira, maio 06, 2010

Answering your question

I didn't... in fact couldn't know her. I had this funny feeling, a blend of fear, anxiety and desire of living this whole new moment, but was stuck in my decision making process. I wondered if her skin would be specially soft in my touch, even knowing that I wasn't able to really face her.

Well..let me explain... when you're in the traffic jam you care solely about the sky, the trees and the last thing you had in mind that suddenly vanished. New things come into your sight and you're still trying to grab that last thought...

Summarising...It was an instinct need to taste whatever it appeared to be. A flavour, a different perfume. Something beyond presumable created images.

Regret? No, not exactly, this supposes I did something, though I was just 'myself'. Thus, regret won't happen instantly when you act as usual. When you keep drowning in your own lack of existence, you forget your inability to belong to any environment. This fact makes your desired actions look quite easy to be done. They start to run inside your head as a motion picture in a director's mind, being written, scene by scene, hoping for a surprising turning point while you're completely numb.

...

Her skin was soft, she held my attention and my breath. Then she had to tell me her unmarried status that we could go out for a party, yet to begin, all in one sentence. She faked an insobriety and didn't appear charming to me anymore. I entered my car and spread my eyes in a glance for the last time... I realised that I couldn't see the other girl right next to her in her completeness...

Got into my car, spread my eyes over her, last glance, engaged in first gear and left these thoughts behind. Again.



segunda-feira, abril 26, 2010

Respiro

Pela manhã percebeu que havia algo diferente. Um certo vazio no peito, contrastante com o aperto de angústia que o acompanhou por meses. O ar passava por suas vias respiratórias com dificuldade, arranhando objetivamente se o obrigasse a passar rápido, profundamente.

Haveria de respirar com calma, devagar. Cada instante de cada vez, sem marcos de novas atitudes, sem impulsos de vontade. Paz pela respiração? Somente por controle, não intensidade. Tentou sobrepor as barreiras recentemente encontradas, sendo presenteado com tosse forte o suficiente para ver estrelas, asmática, sufocante.

Não havia razão especial para esse achado, fato ou acontecimento. Por um momento estranho, seu ímpeto fora freado por questões físicas, reduzindo-o à própria e única possível limitação: ele próprio.


sexta-feira, abril 09, 2010

Pé Gelado

Afaste de mim esse pé gelado!
Há calor para apenas um.
Sim, par, por meus pés ocupado.
Não temos mais nada em comum.


segunda-feira, abril 05, 2010

Vestimenta / Imperícia

Do hábito, o monge. Apesar de a descrição de suas roupas, fora de contexto, soar vulgar, não estava e não era. Shorts curto, meiacalça preta, em tramas de losangos e uma camisa em tons claros de bege, com folhos adornados brancos. Se vestisse um chapéu, pareceria dançarina de cassino, mas nos poupou dessa pouco lisonjeira comparação.

O conjunto descontraído a fazia pertencer à festa. Como as máscaras que dão vida às personagens, as roupas dançavam o ritmo por si só e chamava atenção. E como! Embora a imperícia em espalhar o charme para o salão a fizesse apenas atrair os olhos de outrem para aqueles que bem perto estavam, provavelmente há tempos, numa órbita descendente.

O fato é: intrigava. Permanecia ao lado de um rapaz pouco apessoado, enquanto convencia outros a estarem perto, mas nem tanto. Afastava com a palma da mão na altura da cintura, num gesto secreto que impedia a execução de movimentos que seriam permitidos em outra ocasião. "Para! Não", e olhava para os lados para certificar que não fora vista. Era a dona dos ímpetos de tais rapazes, antes mesmo que soubessem o que queriam ou havia. Seria um esporte tal conquista, já que nenhum deles fazia seu tipo, sendo apenas passatempo pouco ponderado? Causas e consequências não eram preocupações.

A imperícia de lidar com as próprias conquistas satisfazia os espectadores. Mais precisamente, eu, que podia olhar sem censura alguma e não conter o riso com o olhar direto.


terça-feira, março 30, 2010

A preguiça do Segundo Sol

A vontade própria do Segundo Sol (SS) está bastante em baixa. Preguiça. Iluminar a vida alheia sem nunca ser observado de perto, nem por muito tempo, deprime qualquer pessoa. Não poderia ser diferente para o astro.

O nome sugeriria coadjuvação, embora isso possa não ser verdade. A intermitência e o tom de surpresa fazem do segundo sol, sempre, o espetáculo mais esperado. Ainda, possui maior mobilidade também, mas isso não é fácil de explicar ou citar.

Virou de costas há pouco. Entristecido com o que sua luz permitia ver, o que noutro momento de penumbra julgava serem assim mais belas, todas aquelas coisas. Longe dos detalhes, das características e do comportamento tão imprevisível, embora decepcionante.

Justo não é exigir sua volta, pois pouco se contribui para o bem-estar de tal. Mas, tampouco é possível consolá-lo em definitivo, visto que pouco se sabe a seu respeito. Até hoje não se conseguiu observar com clareza a superfície e suas irregularidades, sendo a imagem representativa oriunda apenas de algumas formas interpretadas de sua luz. Seria necessário fechar o olho por alguns momentos, na medida certa, mas convencê-lo a não virar de costas. Seria possível tocá-lo, assim, fisicamente? Não sei.

Talvez apenas precise dar uma volta pela noite, numa órbita diferente, apagado, a observar as formas por outra claridade. Separar as primeiras das últimas imagens. Somente assim seria capaz de ponderar o quanto de sua luz própria interfere no que é visto.


sábado, março 27, 2010

Parcialidade

Lembranças são parciais. O suficiente para nos odiarmos por ter acreditado, de olhos brilhantes, naquilo que corria em branco-e-preto, com rostos felizes, em nossa mente tão carecida.
Tudo estava escrito. O tom da trilha sonora dá a felicidade que já existiu e parece saudosa tão ausente.

Na realidade, tudo isso é bem tricky, posto que esquecemos de alguns detalhes cruciais... A mão que andava dada à outra, a primeira corajosa que ousou tocá-la, foi a mesma que segurou firme um aparelho para proferir os mais danosos absurdos. Irrecuperável, visto que a vida não é conservativa, e a defesa natural é se afastar, abstendo-se.

Reduzir-se à própria invalidez, com a certeza de focar em algo que não deveria ser tão prioritário, alimentar do pouco fruto de uma estiagem extensa e crer que isso era melhor para uma sociedade inteira.

É fato que os caminhos, por mais tortuosos, sempre levam os protagonistas ao final almejado. Mas esses outdoors enganosos estão atrapalhando demais...

Como parar de crer na imparcialidade dos decoradores de ruas? E dos diretores de peças de teatro ao ar livre. E dos takes em ambientes movimentados, repletos de afeto, amor e compaixão? Existe alguém capaz de dizer a todos eles que isso não existe?

Questiono isso e também na vendagem de tal arte abstrata. Com a distância e tempo prolongado de ausência dessas experiências, sendo tão difícil de enxergá-la no íntimos dos comuns, como interpretar as falas de um conosseur parcial? Não é tempo de ficção.


sexta-feira, março 26, 2010

quarta-feira, março 24, 2010

Casa

Na verdade eu procurava Francisca. Pela calçada tortuosa e movimentada durante o dia e deserta à noite.
Havia acabado o expediente, estava escuro, muito embora houvesse iluminação pública. As árvores criavam penumbras difíceis de encarar.
Uma senhora apoiava as mãos no parapeito de uma grande janela, com os braços abertos a observar nada. Talvez estivesse me esperando. Receptiva, perguntei sobre Francisca.
Me apontou, muito distante, "a lâmpada?", fez que sim. A única acesa na próxima quadra.

Resolvi chamá-la, assim, Casa de Francisca.

Era lugar que havia estado outrora, mas as pessoas não eram iguais, tampouco as conversas. As vozes dos instrumentos, que lá eram tocados, tinham uma nova estória. Estar lá, de novo, era diferente... Certamente havia deixado algo passar da última vez, como os ponteiros de um relógio que sempre caminham entre o fundo e o vidro, varrem o mesmo espaço, mas sempre registram coisas irrelevantes, que não representam fielmente os ocorridos, que não se repetirão mesmo, de forma alguma.

Menos de trinta segundos que lá estava, pedi um chá de hortelã e esqueci o que me levou até ali.
Registrei apenas que a chama da vela, na sua forma mais bruxuleante, golpeada por rajadas de todos os lados, aprendera rapidamente as leis de sobrevivência: adaptar-se.

Do resto, não me lembro.


quinta-feira, março 18, 2010

Mais doutor

- Sabe Doutor, no fundo é isso.
- No fundo?
- É, em resumo.
- Pois bem, digo de maneira sucinta: Você precisa mudar. Ou melhor, você vai mudar, de uma forma ou outra.
- Mas, não sei se estou pronto.
- Você não tem escolha, ninguém tem. Tem dois jeitos de se tratar o assunto: ficar lutando contra enquanto sofre ou aproveitar a fase de mudança.
- Como assim, não estou lutando contra...
- Tsc, tsc. Mente sem ficar vermelho, nem assustado. Que coisa. Vá para casa com a ideia de que você precisa curtir a vida, isso por si só já é a mudança.
- Mas...?
- Sua hora acabou, não esqueça de falar com a Sra. Gertrudes. Hoje você recebeu sua alta.

Atônito, com dificuldade de colocar um pé após o outro, em sentido de marcha, se dirigiu à saída e ao mundo que o cegava veementemente.


sábado, março 06, 2010

Um pouco mais sobre a chuva

A chuva é a tranquilidade que todos precisam. Internamente não somos um céu azul, com poucas nuvens e rostos felizes. Mas sim a intensidade da incerteza, a angústia das nunca respondidas perguntas e um desapontamento sereno e grave.

Entre marés de vento forte, a torrente agressiva banha tudo que não pode se esconder, vulnerável. O que é fraco demais deve ser levado e não sustentado pelos raios de sol que ainda alimentam o sofrente moribundo e o afasta do cortejo fúnebre. Pois que lave e leve logo. Chuva é a imagem-semelhança, a certeza de que existe um espelho maior, não controlável, que afirma firmemente que somos compreendidos.

Uma grande cortina que deixa todos reclusos, reflexivos e reforça aos mais fortes que sempre se deve esperar o momento certo. As sensações pela chuva. Pois, muito claro isso deve ser, que não é preciso sentir se for possível ver e vice-versa.


quinta-feira, março 04, 2010

Sobre Pessoas

As pessoas podem mudar, mas não querem e não o fazem.. Talvez só um pouco. Ficam abertas a isso por curto tempo e, depois disso, fingem muito bem. Até que os agentes de mudanças se tornam grandes estorvos. Mas nunca são devidamente culpados e, nisso, acabam sem poder se martirizar como deveriam. Um altruísmo incabível.

Levar os créditos sacia a necessidade de fazer história. É necessário contar aos outros que não se ficou fechado, que arriscou, perdeu, ganhou. Que deu a volta por cima.

Mas a falta de novas possibilidades de créditos os fazem voltar aos serviços não pagos. Seria consolo afirmar que nada disso era em prol das pessoas, mas sim do dever em si próprio, de fazê-las enxergar o que era necessário.

Estamos quites se pensarmos que o dever, do outro lado, é justamente surrar tais agentes. Escorraçar aqueles que agem conforme o impulso e a própria natureza. Enfim, todos agem conforme os impulsos, ainda que instintivos ou devidamente racionais.

Todos cumprem os devidos papéis e deveriam estar quites. Mas, claramente, isso não ocorre. A falta de comunicação permite que ambos os lados vistam lentes que mostram as cores que gostariam de ver. Essas interpretações alteram o real equilíbrio do que fora feito. Visões não são imparciais e sim poéticas. Não adianta alinhar discursos se as evidências mostrarem outra coisa.

Não é assim que acontece. Não como deveria acontecer. Nunca acontece. Não há vilão, mas se sente. Sempre há uma voz que ecoa outras verdades plausíveis, falta de confiança é a chave de tudo.

Atire uma pedra se for realmente importante, mas deverá sentir corretamente. A pedra no ar, girando, em câmera lenta, dói mais no agressor por saber a intensidade, do que no agredido, que ainda não sabe a razão de tudo aquilo.


quarta-feira, março 03, 2010

A volta

Era uma vez um nefelibata que pôde descer das nuvens. As razões não são necessárias para o causo, embora fossem para a história do indivíduo. Como jovens às descobertas, observava maravilhado os novos acontecimentos. Via os cinzas e meios-tons com atenção, para se certificar de que aquilo era real. Percebeu que deveria agir com moderação, visto que poderia ser inquirido a respeito de tentar "tocar" o ar e outras belas coisas que via.

Mas o período passou, as breves férias chegaram ao fim e era hora de voltar. No meio do caminho de volta, continuou a olhar para tudo o que tinha feito parte de seu cotidiano pelo tempo que quase o fez mudar por completo. Chegando às nuvens, deixou de ter traços corretos das vistas que já conhecia.

Sequer havia completado o percurso e ficava difícil de distinguir os traços do que via. Se o tempo todo esteve muito acima daquele ponto, sobre nuvens mais espessas, o que era capaz de enxergar e, enxergava? Haveria ponto exato de controlar os traços para mais suaves de tudo o que conheceu? Ou, ainda que tudo muito parecesse, provável seria pela habilidade de nossas faculdades mentais em criar o que precisamos, inconscientemente?

De qualquer forma ou sorte, nada existe mesmo. E isso independe de onde estamos.


segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Ao telefone

Chutava folhas imaginárias. Era possível vê-la morder levemente a ponta dos dedos ao aproximá-los dos lábios ansiosos e sorridentes. Dava poucos passos e logo volta-e-meia. Sorria com os olhos também.
Estava ao telefone.

O mundo não existia. Uma horda de cavalheiros passava desajeitada, levantando poeira e jogando seus cabelos ao vento. Ficava mais bela, é verdade. Sã, intocada por qualquer coisa mundana, observava além do que se via: era mais.

Se houvesse janela, saberia que seria admirada pelos que passassem trôpegos na calçada do outro lado da rua. Esta era pouco irregular, mas a visão os desnorteariam. Engraçado seria observá-los em disfarce, ainda que desnecessariamente.

Estava próxima e distante. Apesar de a centímetros, o que havia estava somente entre o telefone e o outro protagonista. No íntimo dos envolvidos na cena, externamente, restava um certo ciúmes e algumas lembranças.

O que passa aos olhos é sempre um filme já visto, independente dos personagens. Há sempre um dom de curvar as novas situações ao que interessa no momento. Moldando os acontecimentos para encaixar o que pouco se pôde dizer na época, o que se tinha vergonha, mágoa e era tão irreal.


domingo, fevereiro 21, 2010

Cinzas

Esbarrou em algo logo após abrir a porta. Nada teria mudado, mesmo após o longo tempo fora. Correu a mão direita pela parede áspera e deslocou o interruptor, acendendo a luz. Sim, era o mesmo lugar.

Havia um cheiro esquisito. Doce, cítrico, abafado e úmido... velho, fechado, bebida alcoólica. A última foi uma observação ao grande número de tipos e copos de bebida espalhados por todo lugar.

Aquela bagunça foi uma festa. Provavelmente um desbunde excessivo, anterior a uma privação que nunca ocorreria de verdade. A festa pela festa. Por que não o melhor de dois mundos? Fartar-se antes da quaresma sem ter de privar-se dos excessos, estes hoje característicos pela duração e não pelo conteúdo.

Estava encolhida no sofá. Fantasiada com tons avermelhados e alguns detalhes brilhantes, dourados. O corte não combinava com a delicadeza dos panos, eram agressivos e traziam o desejo de ser, ao menos por poucos dias, algo diferente do usual. O mesmo que aqueles vestidos de aquelas.

O que marcou no conjunto foram os olhos maquiados borrados em forma de lágrimas bem escorridas. Seriam parte da fantasia desejada ou resquício da transformação nunca atingida?

Eram cinzas.


sábado, fevereiro 20, 2010

Tempo

A modernidade tirou férias. Apagaram-se as luzes e um bom trecho da cidade ficou a procurar lanternas e velas. Fiz o mesmo. Muito fraca era a que achei e precisei encontrar algo para acender clássicas velas. A atmosfera ficaria romântica...
Revirei cômodas e gavetas até encontrar um isqueiro americano que, com um pouco de esforço, jogou centelhas numa boca do fogão e então fogo à parafina.
O candelabro bruxuleou sobre a empoeirada máquina de escrever. Os [nem tão] velhos tempos vieram aos olhos e algo haveria de ser escrito.


domingo, fevereiro 07, 2010

Dos Potes de Sorvete

Quando era pequeno, mal alcançava o puxador da porta do congelador. Segurava pela lateral mesmo, amassando a borracha isolante, enfincando os dedos, pendendo para trás e se exaurindo. Sempre com sucesso.

Esticava o pescoço e achava entre uma das divisórias horizontais aquela que teria o pote de sorvete. Não era difícil de achar, pois sempre jazia solitário. Outros como ele sempre estariam lá, guardando coisas que não eram sorvete. Em resumo, pote solitário era pote de sorvete.
Outro esforço enorme era abrir a tampa desse pote, sempre auxiliada por uma colher qualquer. Havia sempre o de morango, o branco e o chocolate. Sabia que o primeiro era dele e podia fazer o que bem quisesse. Era o seu favorito. Lembrava do verão e do sorvete dessa forma, o assalto ao congelador, caminhar na ponta dos pés enquanto vigiava rapidamente ambos os lados à procura de um visitante indesejado com perguntas impróprias.

Os tempos mudaram. O pote de sorvete não era mais solitário. Estava em companhia de pelos menos outros dois. Que continham cores outras que não eram mais de morango. Ainda que o favorito estivesse lá, fechava e abria tal porta inúmeras vezes achando que saberia o que escolher no momento em que visse. Não adiantava. Pouco tempo depois perdia a vontade. E fechava a porta desanimado.

Eram verdes, branco com pontos marrons, amarelos, laranjas até azuis! Cores, cores demais, sempre diferentes. Muitas cores, muitos sabores.


sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Pub Talk

He sat right next to me. Seemed to be pissed off and all he wanted was a strong drink. In a twinkle the barman served a long and no-rocks-scotch.
Usually barmen ask ordinary things just to assure that the client is not a maniac or dangerous for other customers, this is important for the business. But this guy started slowly and firmly telling latest events, showing no harm intention. Hard to understand the words at the very first moment, but after few minutes I could comprehend quite something.

"It supposed to be simple." Said the man.

The barman assented.

"We've talked and was agreed that each one of us would live according to a whole new life. The commitment was mutual and there would be huge efforts to assure its fulfilment."

The barman knew that one of the most important lessons learned as working in a Pub is to listen more than talk. As a shrinker, they were there to hear people complaining not to debate democratically. Drinking, paying and leaving. The difference is that alcohol takes play as the shrinker's advices.

"We were helping each other. But it became impossible since no achievements were really happening. We got stuck and hope was gone. Decisions had to made...then, no more of our personal borders should be crossed."

The conversation faded out and appeared to be ended. But he continued.

"I was rude but could be understood and forgiven. Why now I can't just forget, or forgive, what ever, everything and move on? I mean, if is there a reason for this but the fortune, I really would like to know.

"Your face shows me that you've seen something like that. It's a test, isn't it?

The barman smiled acquiescing with confidence, since he knew the only role he was there to play was "the listener who guides confuse man's thoughts to a calm conclusion, in an alcohol manner" and it was done working perfectly. Experience does matter.

By the way, he helped me before.


Contraponto

Possuía outros interesses. Paixões que o hipnotizavam. E virava a cabeça para seguir com os olhos.
O pescoço oferecido era presenteado com beijos, carícias e o que mais podia publicamente. Não repercutia. Aqueles beijos, quase puxões, visando um pouco mais de atenção, eram incrivelmente em vão.

Não importava o que ela fazia, olhava para outra coisa. Um outro mundo. Estava em sintonia com o que quer que fosse, uma ligação transcendental com o que via. Decisões racionais ou impulsos não têm a mesma ordem de grandeza e sequer fazem cócegas ao que fora nascido para admirar. Evite interrupções, pois já é sabido que o estado de ambos é passageiro.

Seja na admiração, seja na tentativa.


sábado, janeiro 30, 2010

Notações sobre Planos

Num outro plano tudo deveria ser diferente. De cima a vista muda, mas não é disso que preciso falar.

Plano como esquema, a necessidade de acalmar as ideias depressivas ao saber que o futuro pode ser escrito e previsto. Nada disso é bem verdade, a não ser a tranquilidade que traz.

Mas o plano "B" necessita de um plano "B"... afinal, tudo precisa de um plano "B". Fato é que o plano "A" quer se tornar plano "B" de algum outro plano, ao menos nas ideias.

Já deveria haver estatuto proibindo os planos de desejarem ser algo! Planos não são donos de seus próprios narizes, se é que os têm! Em miúdos, deixe-me controlá-los, uma vez que são minha cria.

Estão me dizendo que os criei em "imagem-semelhança, para terem vontade própria" e que "deveriam seguir o próprio curso, me carregando"?

...

Isso não estava nos meus planos... mas eu confio em mim mesmo mais do que ninguém. Bom, assim sendo, eu deveria saber o que estava fazendo ao criá-los de tal forma. Que assim seja.


domingo, janeiro 24, 2010

Frio

Diferentes eram as estátuas que ontem vi. Estas se mexiam, sorriam, tinham as expressões de uma pessoa inteira. Eram belas na sua unicidade e confiança de sê-las. Leveza difícil de se concretizar nas formas fluidas em que o escultor, sabe-se lá com qual motivação, foi capaz de atingir. Ah! E os gestos! Enquanto corrigia a postura, convencia os cabelos a tomarem outro rumo, mas estes sempre voltavam pois tinham vontade própria. Uma harmonia levemente caótica, admirável!

Mas, por serem estátuas, seriam frias. É certo.

Estátuas são estátuas e estarão lá na próxima vez que eu for.


segunda-feira, janeiro 11, 2010

Nos velhos hábitos

Além de bela, vestia panos novos. Enquanto a fitava, media os traços e feições que jamais perceberiam minha presença: estava concentrada em outra coisa. Não tínhamos algo em comum, exceto a casualidade de tempo e espaço. Outras como elas havia, certas de que se perderiam na multidão num piscar de olhos.

Talvez esse fato as deixasse mais próximas de mim. A simples certeza de que não haveria compromisso qualquer.

Voyeurismo sempre fora apaixonante, ainda que não fosse descoberto mais tarde. Pois, apesar de tudo, as expressões sem palavras são sempre as melhores.

Começa a fazer sentido a razão dos hábitos, da certeza de poder se relacionar com o mundo externo gigante, mas seguro.