segunda-feira, novembro 17, 2014

Caminhar o caminho

Depressão é a contínua crença de que se pode e se conseguirá voltar para um estado mais sustentável.

E se está há tanto tempo nesse limbo emocional! Consegue-se, sabe-se lá como, respirar um pouco profundamente e sentir um pouco de vida se irradiando pelo corpo, novamente.

Mas, estar com esse urso nas costas é traiçoeiro. A felicidade de sentir vida consome a pouca energia, o broto, que ainda restava. E do jeito que se sentiu a alegria de curtir aquilo que se considera normal, volta-se para aquela vontade incondicional de simplesmente ser novamente, vendo distante o estado que se deseja.

Estar fora do equilíbrio demanda muito mais (que) energia. Um desejo muito forte e uma vontade sobre-humana de querer continuar.

Mas, se quer !!! Oh! Pois se é duro, disciplinado, determinado.

Não se pode ver outra saída ou fim que não o que está bem distante. Seja para continuar, seja para entender que não há saída qualquer.

É caminhar o caminho. E ter paciência, um pouco mais de calma.




segunda-feira, outubro 20, 2014

Urso

Ele pula nas suas costas. É fácil confundir essa sensação com aquela ao chegar ao fim de um longo lance de escadas. Você para e, em pouco tempo, respira normalmente.

Mas é como se tivesse resíduo. Você não volta a ter o mesmo fôlego. Fica tanto tempo assim que esquece o que é sentir-se leve.

E deixa de ter a mesma disposição.

Até o que o urso pesa cada vez mais. E não se sabe mais como é ficar sem ele.

E, se tropeça, não consegue mais levantar.

Cansa mesmo por saber que não pode falsear, vacilar ou cair. Tem de permanecer ereto, resiliente. E doem as pernas e as costas. Sem fôlego. E ainda tenta respirar.

Não há outra opção.


domingo, setembro 21, 2014

O que houver de impuro

Torcido. Como quem com muita prática sabe eliminar a última gota de um pano resistente. Que manuseia de um lado para outro, de ponta-à-cabeça, vira e gira, com a melhor pega, sem sequer prestar atenção.

Torce novamente. Lá está a última gota. E mais outra. Estaria sossegada quando se eliminar tudo. Sem destruir o pano.

Nesse ponto, chegamos a um problema. Tenta-se extrair o máximo, pela ideia de a coisa ser danosa. Nisso, com o tempo, vai se desfazendo a estrutura e o torna imprestável. Antes fosse a extração de algo bom. Não! O extraído vai pelo ralo, com a certeza de dever cumprido.

Pano de chão é assim, oras. Descartável, que fará sacrifícios em prol de uma limpeza que ele próprio nunca verá. Quando de tudo pronto, ausentar-se-á.

O mundo pronto torna-se "de ninguém". Um anseio pelo etéreo, intocado e, por que não, inútil. De acontecimentos porvir e, claro, da sujeira toda.

Se ao menos do torcer saísse algo bom!

Sim. Um filtro de café.



quinta-feira, julho 03, 2014

Balance

I lost my balance.

In just a frivolous moment I fell. The worst part was knowing that my strength and almost everything I've conquered during one year was spread in cold and dark tarmac.

Not only balance, also reasoning and reason. The difference between hope and faith is the absurdness your explanation seems to others. But, at this point, it would sound more as a will than the other two, because no one left to understand what really happened.

I have no one to blame, however the many awkward circumstances made me feel lucky and grateful. Everything I lost and part of me is still there, mending pieces of my old style and dignity while the other part is utterly seeking another way. Easy to see that no part left to reflect and see the bright side.

The problem lies on not having a fucking bright side. It is just this new path and the old thoughts fighting and all the smoke of powder stuck on heavy air. There is nothing to see.


quarta-feira, junho 18, 2014

Um muro qualquer

Meu trabalho é usar a pá de pedreiro. Devo olhar bem para aqueles muros todos e garantir que estão lisos, lisos. Funcionou por bom tempo. Tinha aprendido que se ficasse ondulado seria ruim para futuros trabalhos.

Destraído naquele dia, feliz pelo romance, o azul do céu e o que mais pudesse agradar pessoa qualquer, desenhei os traços apaixonados, montanhas e vales, rios que, juntos, formavam a aura de felicidade que alguém poderia saber compreender.

Pude curtir do início ao fim do dia, até que me ordenaram acabar com aquilo tudo. A história da felicidade, depois de lisa, deveria pintar de uma cor sólida, chocha. Um branco ou bege, qualquer coisa sem graça que agradasse a falta de pretensão subordinada.

Apesar de triste, cabeça erguida. Em menos de 24 horas estavam lá cores e muitos desenhos, juras de amor. De muito mais gente que eu.

De certa forma, valeu à pena.



segunda-feira, maio 19, 2014

Destino

Tem um mapa enorme daqueles que fazem questão de simplificar a grande bagunça (metro)viária dos grandes centros urbanos. O que é curvo vira reta e as montanhas, pontes e túneis são belamente ignorados. Igualmente espaçados estão as paradas do caminho, numa sucessão tranquila, asséptica que aniquila os muitos chacoalhões do percurso. Os trens brigam com essa simplória representação, gritam a cada curva, como se precisassem [se] lembrar aos outros que nada daquela idealização pode ser tida como real.

Ao destino se chega de muitas formas, como se cada troca fosse imediata. Difícil é descobrir o que evitar, pois os que há muito estão no caminho nada podem fazer ou ajudar.

Para os trens, é sempre "em frente".


quarta-feira, abril 23, 2014

Asas


De uma forma ou de outra deve-se pensar: Asas não brotam.

Daí o voo ser exercício tragicômico. Viciante. Do ponto de partida e quão longe se vai.

O que se pode fazer agora, depois de tudo?

Menos dúvidas ou perguntas.

Bobo! Estiveram aqui o tempo todo. São esquisitas, quando você se dá conta... Foi a maior espreguiçada, você não tem ideia! Mas, acostumar-se não demora.

Frio na barriga é pouco.


Medo? Risos.


Que diferença faz? Fato é: Não dá para disfarçá-las.


Tenho energia para viver ou esconder.


I've made my choice.



sábado, janeiro 25, 2014

460

Foi preciso de despir de um pouco de aço. Ou melhor, compartilhar a indumentária. Somente assim as profundezas da gigante pode ser vista. E vivida. Os tempos presentes fizeram com que essa fosse a única saída lógica, revelando os muitos caminhos que se escondiam e a escondia.

A pressa acabou. Perde força o discurso e o patrocínio de alguns interessados pela pressa e toda a noia que torna as ruas num grande campo de batalha, que divide os pontos de segurança dos quais você jamais deveria sair: academia, trabalho, casa. Nada após o anoitecer.

A rua causa medo. Ela é terra de ninguém. Escura, suja, abandonada. Perigo. Coisa de vagabundo, onde eles ficam e se amotinam e não se ocupam e corrompem os demais. Drogas. Rua é coisa da noite, deserta.

E tem a luz do dia. Que as latas se amotinam e amedrontam os demais. Coisa de vagabundo, que não anda com as próprias pernas ou se julga muito superior para compartilhar algo além da rua, ainda que haja cada vez menos espaço. Ironia! E se corrompem, numa agressividade justa pelo projetado status. "Sou algo".

Existe vida além dos carros. Ou melhor, além das ruas largas e claras que são o caminho da grande maioria. Os lugares que não são meras passagens para assegurar que a pressa impera, aqueles que as pessoas vivem. Bairros. Casas, verde, jardins. São nesses que a pressa acaba.

Ao se montar um pouco de aço, uma fração da própria massa, investiga-se, diariamente, como puderam nos deixar tão separados por tanto tempo: eu e a cidade. A tensão da distância criava essa ansiedade de percorrer tudo muito rapidamente. Mas, o silêncio e o vento no rosto e sem pressa! Vendo cada parte secreta que as grandes latas nos impedem de vivenciar. Haveria melhor remédio contra a pressa?

Cada vez mais próximo desse ponto sublime de fundir-se à própria urbe.

Ajudando a encontrá-la e vice-versa.