segunda-feira, abril 26, 2010

Respiro

Pela manhã percebeu que havia algo diferente. Um certo vazio no peito, contrastante com o aperto de angústia que o acompanhou por meses. O ar passava por suas vias respiratórias com dificuldade, arranhando objetivamente se o obrigasse a passar rápido, profundamente.

Haveria de respirar com calma, devagar. Cada instante de cada vez, sem marcos de novas atitudes, sem impulsos de vontade. Paz pela respiração? Somente por controle, não intensidade. Tentou sobrepor as barreiras recentemente encontradas, sendo presenteado com tosse forte o suficiente para ver estrelas, asmática, sufocante.

Não havia razão especial para esse achado, fato ou acontecimento. Por um momento estranho, seu ímpeto fora freado por questões físicas, reduzindo-o à própria e única possível limitação: ele próprio.


sexta-feira, abril 09, 2010

Pé Gelado

Afaste de mim esse pé gelado!
Há calor para apenas um.
Sim, par, por meus pés ocupado.
Não temos mais nada em comum.


segunda-feira, abril 05, 2010

Vestimenta / Imperícia

Do hábito, o monge. Apesar de a descrição de suas roupas, fora de contexto, soar vulgar, não estava e não era. Shorts curto, meiacalça preta, em tramas de losangos e uma camisa em tons claros de bege, com folhos adornados brancos. Se vestisse um chapéu, pareceria dançarina de cassino, mas nos poupou dessa pouco lisonjeira comparação.

O conjunto descontraído a fazia pertencer à festa. Como as máscaras que dão vida às personagens, as roupas dançavam o ritmo por si só e chamava atenção. E como! Embora a imperícia em espalhar o charme para o salão a fizesse apenas atrair os olhos de outrem para aqueles que bem perto estavam, provavelmente há tempos, numa órbita descendente.

O fato é: intrigava. Permanecia ao lado de um rapaz pouco apessoado, enquanto convencia outros a estarem perto, mas nem tanto. Afastava com a palma da mão na altura da cintura, num gesto secreto que impedia a execução de movimentos que seriam permitidos em outra ocasião. "Para! Não", e olhava para os lados para certificar que não fora vista. Era a dona dos ímpetos de tais rapazes, antes mesmo que soubessem o que queriam ou havia. Seria um esporte tal conquista, já que nenhum deles fazia seu tipo, sendo apenas passatempo pouco ponderado? Causas e consequências não eram preocupações.

A imperícia de lidar com as próprias conquistas satisfazia os espectadores. Mais precisamente, eu, que podia olhar sem censura alguma e não conter o riso com o olhar direto.