terça-feira, dezembro 20, 2005

Mais um fim de ano

Acho que a grande motivação de viver consiste no fato de passarmos por isso somente uma vez. Não confunda "motivação de viver" com "viver intensamente". É sutil e prática. Não é dar a cara aos mundos pelo fato relacionado, mas sim a constatação de que ficar no quarto escuro não apressa as coisas.

Coisas estas que não acontecem quando gostaríamos. Talvez esse seja o outro problema dessa constatação sobre o inevitável.

Porque não nos controlamos, oras. É sabido que tentar manter-nos focados nas situações estupidamente positivas é viver o irreal, é ser falso, dos frívolos. E ainda - de um humor facilmente discutível - é dos covardes. O curso, retido em suas encrustações marginais não nos impulsiona, quem imaginaria o contrário?

Doido ou apenas passageiro de si mesmo, do tempo. Os punhos cerrados ou o imitar da silhueta do 'O Pensador' só nos mostra mais impotentes. Nos mostra reais, antes de mais nada.

Desse mosaico incrédulo de imagens a situação se encolhe toda, afinal, cabe a você, leitor, saber o que é real.


segunda-feira, dezembro 05, 2005

"A diferença entre o sonho e a realidade é o abrir de olhos."



segunda-feira, novembro 21, 2005

quinta-feira, novembro 17, 2005

Lema

Quando se sente bater
Na cabeça, heróica pancada,
Deixa-se o monitor desligado,
Enquanto se vai dormir.


terça-feira, novembro 08, 2005

Do Desconcerto do Mundo

É puro medo. É sabido que tentar mudar o curso das coisas causa medo, uns dizem por medo do desconhecido, eu digo por causa do Desconcerto do Mundo. Um tanto pomposo nome trata apenas de lidar com a atmosfera habitual das relações sociais, ou ainda, o sentimento de estar de acordo com sua natureza e coisas do tipo.

A grande complicação é quando há insatisfação com o lugar/posição na sociedade, ficando a carga do indivíduo sua tentativa de mudança. Mas afinal, se chegou até esse ponto, o que poderia ocasionar tamanha guinada..? Por que estar nesse ínterim se eu haveria de mudar? E, o que me impede tanto de tentar ser outra coisa senão esse quadro e moldura belo ou horrível para aqueles observadores dominicais?

Mas e se as regras não são justas como a teoria do Direito individual? Digo da capacidade de uma bandido o ser por toda a vida, impune, e a impossibilidade de um cidadão dar dez passos armado que, sem dúvida, será preso. Desconcerto este que com certeza me faz ter medo de tentar a vida como os outros que admiro por pensar que cairei nas ciladas improváveis que eu estaria inerente por essa forma de caracterizar a sociedade.

Cada macaco no seu galho, ou cada macaco tentando procurar seu galho favorito?

Os galhos são tão exclusivos a ponto de um espaço de um indivíduo interferir o do outro?
Votaria pelos PAN-indivíduos.

"Eu pensei, que quando eu morrer
Vou acordar para o tempo
E para o tempo parar
(Los Hermanos - O Vento)


"Não sei mais, sinto que é como sonhar
Que o esforço pra lembrar
É a vontade de esquecer."
(O mesmo).

Disso tudo digo, que venha o desconcerto e tudo o mais. De certo, a insatisfação era/é maior do qualquer preço que a minha imaginação pode elaborar.
Na pior das hipóteses, a morte é o fim.


sábado, outubro 15, 2005

terça-feira, outubro 11, 2005

Dos Fatos Consumidos

Gosto amargo.
A vida que poderia ter sido e que não foi. Embora quisto, o curso não se alterou por minha causa, nada foi diferente
.
Fui jogado como passageiro numa nau, tempestade adentro e não me perguntaram se eu queria ir ao banheiro... eu dizia a eles que essa terra era quente demais e eles me atiravam baldes de água salgada para ver se eu acordava do delírio.

Eu disse tanta coisa... eu sabia desde sempre. Mas eles preferiram acreditar que eu tinha emoções, não que eu pensava.

Era mais cômodo acreditar que a terra plana era do que se aventurar numa futura realidade dos fatos.
Pois bem, com a descoberta da terra redonda, eles viram e vêem quem estava correto o tempo todo.

De que adianta?

De tanto receber castigos, já havia tomado minha decisão. Andei pela prancha, observei as estrelas e tive que retomar o fôlego, carreguei com força a esfera de aço amarrada ao meu pé. Respirei mais uma vez e a deixei rolar pela prancha até tocar a água. Pronto, enfim eu estava livre...


domingo, outubro 09, 2005

Do dia se fez a noite. Ou vice-versa

A liberdade de racionalizar as emoções nos torna frios, previsíveis e calmos. A menos que possa encarar a racionalização como materialização e descontar nos objetos inanimados, estes que, sem dúvida nenhuma, não terão para onde fugir nem como materializar novamente, ficando, portanto, com o fim da cadeia.

A questão fundamental é saber ponderar os objetos com as emoções... uma taça de champanhe só merece ser quebrada quando o amor da sua vida se encontra com outra pessoa e você presencia. Vasos devem ser usados contra espelhos, aparentemente eles sempre quiseram se encontrar e precisam apenas da sua ajuda.

Mesas ficam mais belas com as pernas para a lateral, é tão óbvio isso.

Um jantar em família pode ser apenas um ponto final na relação familiar, uma forma de se livrar da raiva guardada, um balde de água fria nas relações falsas intrínsecas a esse meio.

- Que bom que gostaram do jantar. Esse será o último.


segunda-feira, setembro 26, 2005

Eterno

Por que deveríamos nos limitar aos significados das palavras? Livro-me da necessidade de continuar sendo escravo das interpretações de dicionário.
Ah! Quisera eu viver passeando pelos novos sentidos das antigas palavras, a vontade recente de criar um novo mote para a velha estória de caminhar pelas ruas, pela garoa.
Da vida que já foi vivida e que com certeza será nova a alguns passos a frente, mesmo que tudo isso não exista e um lapso de tempo distancie o portal dos sonhos da realidade.
Talvez isso também não exista, pois não houve caminho algum percorrido que fez elo entre essas duas possibilidades.

Que parte disso tudo não existiu?
Ou melhor, que parte disso tudo existiu?

Necessário, em tais circustâncias, criar um meio termo entre existir. De certa forma é um pouco incômodo questionar-se sobre a realidade, mas também não se pode excluir a vivência limítrofe da vivência real. Se vivemos um sonho, como podemos dizer que não vivemos, ou que é sonho? E se lutamos pelo sonho, quem dirá que não o viveremos?

Que eterna seja a dúvida.


domingo, setembro 25, 2005

Da Trindade

Bom estado geral, corado e hidratado.
Orientado no tempo e no espaço.


terça-feira, setembro 13, 2005

Do movimento Sindical e Socialista

Antiquado. Não digo a idéia, mas a atitude, pois não existem idéias velhas ou novas, o que existe é a busca por soluções para os problemas e as idéias são parte dos meios para tal atividade.

Digo destes pois presencio - com os olhares e rumores dos que de fora estão - as ações de grupos sindicais (o Sintusp) no caso. Antes que eu seja alvejado com calúnias típicas [apolítico, direita, dentre outras] é preciso e conveniente dizer que compartilho das mesmos idéias, mas não da forma e do meio.

Em primeiro lugar, acredito que não sejam necessários piquetes, o megafone a importunação para adquirir adeptos. Isso mais se parece com um golpe ao governo do que a busca de difusão dos ideais compartilhados. Por esse meio, mais fácil é encontrar pessoas que fiquem contra, do que pessoas dispostas a conversar e compartilhar idéias. O movimento grevista pode ser tratado com um movimento iluminista (por causa da troca de idéias) e a busca pelos meios de atingir um bem comum e, portanto, deveria ser menos ditatorial e muito, mas muito mais democrático.

Discordo também com a atitude extremamente simpática à necessidade de parecer frágil ou vítima de opressão da "aristocracia". Em momento algum digo que isso não exista, apenas discordo dos meios com os quais se luta. Um exemplo polêmico é que a melhor forma de combater o preconceito não é ficar trancado dentro de casa ou sair gritando na rua que tem valores, confinar-se em grupos de pessoas de mesma situação e criar um mundo à parte... mas sim criar valores e demonstrar a importância e o papel dessas partes no todo [sociedade]. Isso posto, não acredito que a melhor forma de combater a desigualdade social, a dívida externa, a saúde ineficiente, a educação para poucos...seja a mesma que se utilizava durante o regime militar. Pois parece inflamado demais um discurso que pede liberdade de expressão, um tanto fora de contexto.

Por fim, caso o movimento grevista queira que as pessoas de fato participem em suas empreitadas, é necessário um bem comum, não de uma minoria:

- No caso de greve para melhores condições na educação, aumento de verba e número de vagas, não deverá ser inclusas as exigências de aumento de salário ou benefícios para os funcionários. Pois isso com certeza tira o foco dos grevistas. Não é possível agradar a grego e a troianos: não acho que a filosofia de igualdade e melhoria na educação se encaixe nas exigências do sindicato que certamente dará por encerrada a greve assim que houver o famigerado aumento de salário.

- Não misturar filosofias durante pautas de greve. Se quiser aumentar o número de adeptos, tenha um filosofia forte - não AMPLA - e tente convencer que seus valores são dignos de uma paralisação. Um exemplo estapafúrdio: Traficantes do morro fazendo campanha contra o uso de drogas. Um tanto estranho.

- Estudantes e Professores tem uma filosofia. Trabalhadores e seus sindicatos são outros. Se não for para lutarem por um bem comum, esqueçam movimento grevista. ex: Diretas-já, Anistia...

- É necessário evoluir, o discurso repetitivo condena a essência das palavras pela sonoridade exaustiva.

Por fim, devo dizer que estou aberto para discussões pois essa dissertação não é estática. Como ser em formação, vejo importante o debate para amadurecimento de idéias e soluções. Espero que inflamados concordem no ponto seguinte: eu também quero mudanças, mas podemos evoluir um pouco.


quinta-feira, setembro 08, 2005

Dos Dias e das Noites

Antes que os atropelos façam parte irremediável da corriqueira vida, tenho pedido por colheres de chá. Melhor estas do que xícaras inteiras que esfriam enquanto se espera o tempo passar.
As atuações das noites certamente nos remetem a vivências escusas, um mal necessário para a formação de um nosso bem-estar maior. O problema nisso está na falta de capacidade que temos de, alcoolizados, controlar nossos instintos e anseios por respostas... Provavelmente, sem as perguntas devidas. Aliás, quanto às perguntas, saibam que elas nem sempre são efetuadas, é sabida a necessidade de ter respostas dos nossos instintos em detrimento daquelas racionalmente propostas.
Respostas ruins, quase sempre. Ou, ao menos, aquelas já conhecidas. Ninguém consegue inovar nessa terra de comunidades, de pessoas invariavelmente repletas de frases perfeitamente já utilizadas, sem a criatividade de copiar frases boas nunca ouvidas.

Tratemos dos personagens noturnos. Estes são de fato charmosos, mesmo que se retenham em sua ínfima capacidade de sedução. Aliás, deve-se ter como principal qualidade o mistério que ronda as pessoas intocáveis. Ainda, é possível acreditar que nesse mundo misterioso haja simplesmente nada, mas o fato de interesse é que o mistério é fundamental para qualquer jogo de sedução.

É melhor acreditar que atrás das nuvens estão as estelas do que se conformar que não é possível vê-las.


terça-feira, setembro 06, 2005

Existe

- A chuva.
- Não é muito boa quando nos molha.
- Depende, se estiver indo pra casa, convenhamos, é prazerosa.
- Sim, mas só quando se volta para casa.

[Olhares...]

- Vê as pessoas, parecem mais calmas que o habitual. Eu as observo...
- O que acha delas?
- Serenas. Tranqüilas, pouco cansadas.
- É verdade.

[Sorrisos]

- Elas parecem mais calmas do que quando passamos observando-as.
- Nunca tinha pensado nisso.

[Tranqüilidade, olhares voltados levemente pra cima]

- Eu adoro esse lugar, esses jardins, traz uma paz...
- Eu também gosto do jardim, tanto verde... Viu que tem um pé de café?
- Jura?
- É, fica a esquerda.
- Eu amo café, todos os tipos, parece que o tempo pára, como agora...
- Gosto de capuccino... mas o melhor café, mesmo, que eu tomo é minha mãe que faz, quando vou pra minha casa.

[suspiros]

- Bem que poderia ter bancos nesse jardim, poderíamos ficar a conversar debaixo dessas árvores...
- Imagina se fossem redes, mais confortáveis que os bancos... não daria certo, ninguém assistiria aula. [risos]
- Seria preciso mais de um, assim a gente falaria sobre o outro banco, que teria um sol avermelhado e o balanço das sombras das árvores.
- Casais de namorados...
- Namorados, não. Eles não existem. Eu não os vejo.
- ...
- ...
- Está na hora de ir pra aula...

[Sorriso quase infinito, retido na expressão limitada de felicidade]

Esboçado em 18/maio/2004, revisado hoje.


sábado, agosto 27, 2005

Should I stay or should I go now?


Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73

Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa

Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa

Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes
Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado


Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família ao Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos

Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco

É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua cabeça animal

E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social


Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarda cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarda cheia de dentes
Esperando a morte chegar

Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais
No cume calmo do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora de um disco voador



Levaria Flores...

Levaria flores. Se tua morada não ficasse tão longe de lugar qualquer e, se ao chegar lá, não tivesse que transpor a fossa de crocodilos e aquela grande muralha. E ainda, convencer cada um dos 37 arqueiros que eu só tinha que entregar as flores que se destruíram. Depois disso tudo, seria fácil percorrer a meia maratona que espaça a muralha de sua torre.
Sinceramente, ainda sim, levaria flores. Levaria muitas flores se você:

- desse valor ao meu esforço;
- se preocupasse com os meus arranhões;
- não reclamasse delas!!!

Enfim, entendesse que o que vale é a vontade e não os atributos que eu não tenho.


terça-feira, agosto 09, 2005

Um Passo

Esperamos o trem na plataforma e sabemos que estaremos a um passo do escapismo mais metafórico que poderíamos encontrar. Pegar o trem, para longe, ser passageiro e não ter de tomar novas decisões.
A maldição se faz plena quando as palavras ecoam em sua cabeça. Aquelas pessoas dizem que você 'não deveria', perguntando o 'porquê' disso tudo. Durante tal passagem te obrigam a parar de fazê-la.
Pedem para parar. Elas não querem, dizem tudo o que você não mereceria ouvir, embora sabendo... jogam baixo. Denigrem sua imagem, fazem de você persona non grata e juram que isso é o melhor para você.
Quando perde a força e desiste, cada pessoa vai para o seu canto e esquece que você um dia existiu.


quinta-feira, julho 14, 2005

A roupa íntima

Vestia-se naquela manhã nublada com a roupa mais limpa que pôde encontrar. Encontrava os corpos travestidos com mentiras e falta de decência. Enojava vê-los tão seguros de sua infame forma de viver. Seu guarda-roupa foi posto abaixo, todas aquelas vestimentas contaminadas pelo meio porco na qual se encontrava.
Vestiu sua nudez e encarou o mundo.

escrito em 2 de novembro de 2004


Gosto mesmo é de lágrimas femininas...
Justamente por isso que eu choro mas o que sinto não passa... nunca.


quarta-feira, julho 06, 2005

Cálice, afasta de mim esse pai...

Que seja a hora da mentira. Que vivamos eternamente a ilusão de que gostaríamos tanto... substituindo nossa fútil e triste verdade. Sim, verdade esta que não consegue convencer de tão cretina, estúpida, sagaz.
Ontem bati minha Porsche, logo depois de ter terminado meu namoro com a mais desejada de toda a universidade. A desgraçada disse não ter gostado da viagem para Paris e que preferia ir para 'lençóis maranhenses' com o antigo namorado... ninguém merece!!

Que faça parte de você os sonhos, não essas constatações das quais tanto fala.
Chega de tentar fazer funcionar...

Acha mesmo que tudo dará certo no final? Que final é esse que espera?
Desista de tudo, uma nova onda levará tudo p'rá bem longe.

Ficarão aqueles que não tiverem raízes, aqueles que nada fazem para se manter onde estão ou manter aquilo que são ou para construir ambições.

Ficam aqueles que não queriam ficar.


terça-feira, junho 28, 2005

O que talvez seja necessário

Muito mais do que chá. Aprender, a base de toda nossa estranha e necessária sofrida existência. Mas ainda assim não nos ensinaram a aprender a relaxarmos e a criar manias, hobbies e escapismos tão necessários. Nos ensinaram a ter responsabilidades... mas não nos ensinaram o que devemos fazer quando elas se acabam. A cumprir prazos de entrega... e não o que fazer depois dela.
Será que 'tudo' é muito mais?
Se o é, do que se trata?
"O que você faz para se divertir?"

Afinal, o que é você?

"Você é mais do que você faz. Descubra apenas o que você é.
Se você simplesmente 'não é', torne-se.



segunda-feira, junho 13, 2005

Um ser regrado

Não se deve acreditar na imprevisibilidade do tempo. Dias ensolarados não sempre tendem a se tornar chuvosos simplesmente por gostarmos daquele último estado. E, na verdade, pouco importa o que sentimos, pois se se clareará ou não, questão nossa não é.

E antes que faça disso interessante discussão, posto que é decaptada, tento levar breve mensagens ao nada, pois este ouve.

Há de entender que as nuvens sempre estarão rondando e não se deve luxar-se de apaziguar ovos sob telhados dentre outras coisas, pois não mudará o estado presente.
Chega de crendices.
Chega de esperanças.

Viverá o dia ensolarado quando descobrir que existe guarda-chuva!


sábado, junho 04, 2005

Qualquer Reclamação ou Sugestão..

Não tenho costume de fazer isso, mas com certeza senti-me de tal sorte que não poderia hesitar em fazê-lo.
A viagem de volta será por demais longa, usarei o tempo para fazer uma atividade que não faria normalmente: criticar.

Criticar no sentido mais amplo, não tenho motivo algum para tornar minhas palavras em blasfêmias sem pés, decaptadas.

A nave que fez a viagem parecia um pouco velha, embora em ótimo estado de conservação. Comento isso pois ela tinha exageros de tecnologia que os passageiros não utilizam. Gastos demasiados que prejudicam o bom senso e a intelectualidade dos usuários.

A primeira classe era a luxúria [dentre outros pecados] em pessoa. E tenho que fazer minhas observações. Quão maior a poltrona, mais obesos os que as utilizam. Se os senhores estão preocupados com a satisfação e saúde daqueles que transportam, reduzam as larguras e as pessoas emagrecerão. Terão menos problemas de saúde.

A recepção no GalaxPorto fora fantástica. Não tenho reclamações quanto a isso. Tenho certeza que fui bem recebido pois aqueles que o fizeram eram da minha terra, aonde eu cresci, e não daquela onde me encontrava. A outra galáxia era falsa, ostentava.

Viviam em plena satisfação vivendo uma vida ausente e imprópria. São apenas constatações de uma pessoa observadora.

Se eles viviam a satisfação poderia ser que nunca a tiveram. Viviam, não tinham.

Eles eram o ápice do que eu não queria ser. Eles estavam se sujando cada vez mais na lama que eles mesmos criaram.

O Check-in fora super rápido também, por isso tenho energias para escrever mais umas três observações ainda. Esta, fica por aqui.

Por fim, finita.


sexta-feira, junho 03, 2005

Certa vez imaginei ir para um monte longínquo.
Outra, um destróier e alto-mar. Depois percebi que sentia enjôos, mas isso não vem ao caso.
E ainda, uma estrada infinita e eu dirigindo... Mas depois descobri que preciso abastecer de vez em qundo... e não é bem isso que tinha em mente.

Hesterno pensar.

E, por fim, imaginei o nada. Pois este o é em sua plena existência. Mas como a perfeição é por demais difícil de alcançar, acredito que não será de imediata sua aceitação, posto que não devemos aceitar as coisas somente por sua dificuldade, mas sim pelo paralelismo entre suas e àquela doutrina.
Descobrindo mais e mais, refutando.. criando.



sábado, maio 21, 2005

Sem ao menos saber

Algum beco escuro. Daqueles com vapores atrapalhando a visão. Talvez fosse a única coisa que eu realmente quisesse ver. Os vapores o eram e seriam por algum espaço de tempo, enquanto de tal situação, eu caminhava chutando pedrinhas e tentando saber o que eu era afinal.
E a resposta, certamente não estaria nesses vapores e nem nos becos escuros tão convidativos. Nem naqueles campos calmos, nem nos santos. Em algum lugar escondido na estrada da introspecção. Caminhos tortuosos demais para quem tem pressa. Frio para as ruas e mendigos sem os devidos aquecedores e cobertores inutilizados em algum canto do mundo...

Sem ao menos saber de onde, nem pra onde, nem o quê. Sem ao menos saber que não saber é a chave de tudo.
Sem ao menos saber que o normal é realmente não saber.
Sem ao menos saber que 'sem ao menos saber' saber-se-á algum dia.
No zigue-zague quase ébrio dessa sarjeta tênue do existir.
Sabendo que se pode viver 'sem ao menos saber'. Posto que já se viveu tempo suficiente 'sem ao menos saber'.


segunda-feira, maio 02, 2005

Confinado à própria medíocre existência

Você foi, é e sempre será o maior amor da minha vida. Fictício por excelência, maléfico pela sua real natureza... Amor tão digno de descarte.

Posto que é fictício não tem chama.
Posto que de fato não existe não reclama.
Mas, porém, contudo, entretanto, hei de dizer em uníssono.
Quero que acabe logo, enquanto existe ficticiamente.


terça-feira, abril 12, 2005

sexta-feira, abril 08, 2005

Tanto faz o que eu penso.
Posso ficar mudo, gritar em alto e bom som, estar passivo ou destruir o que tenho... Nada vai mudar o problema. Inclusive, acredito que se eu tivesse problemas expressivos talvez dariam atenção às coisas que eu penso.
Não, eu já passei da idade de adolescente e isso não trona essa tarefa de expressão uma coisa fácil.
Se eu tiver que fazer alguma coisa, terá de ser sem volta e provavelmente seria comigo.
Nunca fiz parte desse elo, muito menos do conselho que o representa. Sequer fiz parte da massa do júri popular que declara culpa em todos os casos.
Vejo-me em tal situação onde não existe chaves para minhas algemas e sinto um enorme desgosto pela causa.
Se eu desisti ou não, tanto faz, minha decisão DEFINITIVAMENTE não importa.


terça-feira, abril 05, 2005

Constação um tanto quanto óbvia

Permanecendo nessa inquietude de abrir portas estupidamente fechadas e não se sentir tal qual Alice, vejo-me plena e sinceramente disposto a não tentar mais tal feito.
Abre a porta e age com indiferença: o conteúdo não transborda frequências naturais de minha ressonância. E, não muito obstante, não é possivel que eu consiga modificar qualquer forma minha que permita tal vibração.
Constato, com muito apego a palavras devidamente frias e quase ausência de zêlo, que tenho pouca vontade de continuar a usar essas chaves que não me dignificam nesses intentos e tão pouco satisfazem por sua lúdica ocupação.
Defino pois, com toda a virtude e fortuna que ainda me restar, que não devo permanecer por essas estradas, mas não me surge alternativa plausível que permita uma fuga amável para os problemas acima descritos. Assim posto, declaro-me isento de cumprir agendas futuras.
E uma vez que não será lido, pouco me preocupo com consequências.
Não há leitor que se sentirá tocado por tais palavras, pois sequer há leitor que possa lê-las.
Não há leitor, não há escritor.


segunda-feira, abril 04, 2005

Mais idéias.

Paradoxo: Se temos o final está meio previsto e é manipulado, como teremos livre arbítrio? (i.e. a teoria original de pseudo livre arbítrio seria válida).

Não existe acaso.


domingo, abril 03, 2005

Dissertação sobre minha forma de determinismo. em aberto

Preâmbulo Ao contrário da teoria original, acredito que realmente tenhamos o livre arbítrio (defino livre-arbítrio a capacidade de tomar decisão como quisermos, isso não significa ser diferente do que querem que a gente faça, mas indica que tomamos as decisões que quisermos baseado no que quisermos). Não é uma ilusão subjetiva, nós realmente conseguimos fazer o que queremos e quando queremos.

Acredito, e digo isso com toda a fôrça, que exista um inconsciente coletivo que aja de tal forma a harmonizar os inconscientes dos indivíduos. De forma alguma o insconsciente controla, simplesmente age de forma estranha. Imaginemos determinada situação em que seja possível seguir dois caminhos, ou, metaforicamente, abrir duas portas. O indivíduo posto em tal dúvida, deverá escolher dentre uma das portas para abrir e, se inicialmente, tem um impulso de abrir a porta da esquerda e por racionalismo ou outro motivo qualquer, abrir a esquerda, pode, aparentemente, surgir um problema de continuidade quanto a relação inconsciente do indivíduo e o coletivo. Pois, se houver tal situação, o inconsciente coletivo deveria ter previsto tal atitude, mas o consciente do indivíduo teria contrariado a 'intuição' composta pelo inscosciente do indivíduo e do coletivo. Chega-se a um ponto em que faltam 'dados' para se fechar tal problema.
Agora, a forma que eu vejo é basicamente a seguinte: O meio com o qual nosso inconsciente nos controla, seja por impulso ou pela intriga que nos leva a pensar, é justamente a forma de harmonia ministrada pelo inconsciente coletivo. Assim sendo, é como se todas nossas atitudes já estivessem escritas, mas não de uma forma estupidamente linear, mas sim na grande tortuosidade de uma vida 'normal'. O tempo todo sem podermos prever o que está acontecendo e ao mesmo tempo com uma sensação de que as coisas se encaixam.
A forma tradicional diria que não temos o livre arbítrio, mas, ao meu ver, cada um tem seu consciente que com certeza age com memória e mudanças ao longo da vida. A forma racional trataria das intrigas de forma diferente, e mesmo de um grande impulso para alguma atitude, haveria algum jeito de pensar para voltar atrás. Não questionarei a atitude de negar impulsos pois cada história pessoal levaria a uma atitude complexa e justamente é isso o que nos diferencia. Agora, voltando para o livre arbítrio, os acontecimentos justamente dão uma folga para que nos permitamos tomar decisões conforme nossa própria vontade. Temos sempre que tomar decisões, e estas podem ou não ser definitivas, i. e., poderemos voltar atrás e alterar mais uma vez o rumo das coisas. Aqui que está a grande diferença, nossas atitudes não são meras simulações, não é possível prever as consequências de nossas atitudes, uma vez que também não é possível definir quantas são as portas que podemos abrir quando temos algum problema. O inconsciente coletivo se adaptaria a esses novos estímulos e assim nos enviaria (ao inconsciente) novas informações.

Agora, acho que a sensação de falso livre-arbítrio deve-se à plena situação de acreditarmos que as coisas se encaixam sempre, dando crédito a uma prévia escritura para tais acontecimentos.
Por fim, a parte que realmente me intriga é termos uma percepção de podermos tomar decisões e contrariar nossa natureza frente ao nosso con e inconsciente e, apesar disso tudo, as coisas fluirem para um estado aparentemente previsto. Ou seja, independentemente da porta que eu resolver abrir, eu abrirei a porta certa. Consigo imaginar que a abertura dessa porta pode mexer com o inconsciente das pessoas e elas abrirem outras portas até que todo o mecanismo se encaixe. A ordem cronológica passa a ter um caráter um tanto quanto mais complicado quando tentamos encaixar o enorme emaranhado de vidas. Não tenho ainda em mente algo que consiga justificar ou ao menos me satisfazer quanto a essa questão, deixo em aberto esse ponto cronológico!!

Quanto ao 'acaso':
estou pensando a respeito... mas acho que é uma das questões mais paradoxais a qual cheguei.

Deixo em aberto e aguardo pontos de vista diferentes, iguais... enfim, pontos de vista.


sexta-feira, março 18, 2005

Presidente

- Sr. Presidente, seu café está pronto. Prefere sentar-se à mesa ou desfrutar seu desjejum em sua sala privativa?
- À mesa. Não se preocupe Charles. Continue seus afazeres.
- Sim, Sr. Presidente.


Sempre foi tido como o mais simpático presidente desde a proclamação da república, nos idos 1700. Não havia mais guerras, se pudermos grafar de outra forma as questões burocráticas.

A sociedade dava grande atenção aos bailes presidenciais. A nata da elite sempre se fazia presente e mostrava-se engajada em filantropia. Mas falavam mesmo sobre futilidades e conversa de festa. Sem recriminações, sempre foram fundamentais para evitar situações desconcertantes e aquele mal-estar intrínseco aos dizeres possivelmente invejáveis. Estes últimos, a título de esclarecimento, diziam mais sobre cultura do que posses, aliás, na realidade, falavam sobre esses assuntos em conotaçõs de cargos e posições profissionais.

Os nomes sempre eram apresentados com sobrenome corporativo, quando, senão suprimiam o primeiro restando apenas a função e não sua própria pessoa. Apesar da compressão de suas existências, os convidados sempre se sentiam confortáveis, pois ainda podiam fingir com extremo sucesso.
Senhor Presidente conduziu, durante seu longo mandato, sua simpatia para uma atividade extra conjugal.

Enquanto cumprimentava os líderes de outros Estados, fitava clandestinamente uma certa senhorita. Esta, por sua vez, sabia que era observada e esbanjava charme, olhares provocantes ao senhor daquela noite.
Triste daquele rapaz que, ainda que romanticamente, fitava a tal senhorita. Ela ainda permitia com que seus sonhos tivessem espaço na futura realidade aparentemente muito pouco distante. Olhava-o, fechava os olhos, e dançava para si. Era só o que fazia. De olhos fechado, abertos e sempre. Dançava para si e para ele.

Mas ainda era rapaz e sempre o seria. Quando da presença próxima do presidente, os tais olhares da moça se desviavam, não restava sonho qualquer. O ápice dava-se com o pedido de uma dança por parte do presidente. Deus sabe o que ele falava para arrancar tantos risinhos e todo aquele brilho nos olhos dela. Agora, depois disso, era só imaginar, pois por momento algum a mais o rapaz permaneceria naquele lugar tão desfavorável.

Foi assim naquela noite e todas as festas subseqüentes.

Uma vez não sendo o centro das atenções, nem presidente, nem aniversariante, tinha que se contentar com o copo de espumante francês. E quando da alegria alheia, acostumou-se a admirar as luzes do jardim, as luzes da cidade, o capuccino de madrugada e um pouco da longa estrada para o campo.

Ao menos nesses momentos, se via no lugar do presidente, naquelas noites e tinha o prazer daquela dança. E honrava-se por aqueles sorrisos e aquele olhar.


sexta-feira, março 11, 2005

Às pessoas que se dizem invisíveis. Não entrarei na questão de graduar a invisibilidade alheia, uma vez que tornaria o escrito deveras extenso e complexo. Confesso que me sentiria atraído, mas não é essa a intenção.
Da invisibilidade total pode-se - e porque não, deve-se - criar um grande manto aparente, fim a anular a primeira qualidade. De forma alguma caracteriza uma tentativa de aparecer ao mundo.
É necessário ressaltar que, se há discussão acerca das qualidades das pessoas invisíveis, provavelmente conseguimos vê-las.
Elas estão sempre por perto, esperando para anular ócio qualquer, seja de uma eterna espera ou mesmo dos passos rápidos ligando pontos igualmente escusos e reclusos de suspiros por parte do sujeito.
Mas não se trata de dramatizar essas presenças tão fantásticas, mesmo porque seriam provavelmente relatos frios e não chegariam aos pés de um melodrama possivelmente perfeito e conciso.
Apenas descubra, entre uma e outra, aquela certa pessoa que se fantasia de invisibilidade... que é pouco invisível.


Round.and.round.and
Round.and.round
And.round.and.round

Round.and.round.and
Round.and.round
And.round.and.round

And Round.and.round.and
round.round.and.round.

Devaneios sobre o ventilador e suas pás


quinta-feira, março 03, 2005

Por tudo isso

Preferia ter o mundo por detrás das lentes de sua câmera. Seria mais crítico, embora ainda pudesse dizer que conseguiria ter sobre o mundo o controle absoluto tão almejado.
Saberia como agir quando de uma foto incompleta. Mas elas jamais aconteceriam.
O mundo seria perfeito.
Ao menos uma vez em sua insignificante existência, teria algum prazer sem medo.
As florestas, mares e morros fecharam-se e não permitiram foto alguma.
A lente fechou o olho e nunca mais pôde se abrir.
Fechou os olhos por conseguinte.
E se calou.
Para sempre.


sábado, fevereiro 26, 2005

Rito (parte I)

Era um rito desses para ser contado aos netos. Assim como passar as fotos antigas em slides nas reuniões da família e ainda, quem sabe, filmes de rolo. Mas ao contrário, não era pragmático como tais.
Religiosidade perene das tardes dominicais. O emplastro para solucionar aqueles males existenciais que a mídia televisiva insiste em introduzir aos telespectadores. Estes últimos tratados como inúteis e passivos de sua própria livre arbitrariedade. Jogado aos cantos observando o dia passar e esperando a temível segunda-feira.
Mas, antes de prosseguir com isso, deveria dizer que, na verdade, essa ameaça sempre foi infundada pois sempre vinha como bênção e curava os males. Destarte, poderia surgir dúvidas quanto às causas dos males dominicais, mas isso é assunto p'rá outra discussão. Antes que percamos o foco, voltemos, pois.


terça-feira, fevereiro 22, 2005

Ressaca

Alheia a qualquer tipo de efeito causado pelo excesso de álcool. Talvez embriagado por suas cansativas e antigas constatações. Uma intoxicação pela forma triste que leva a vida. Sim, a melancolia tornou-se algo fisiológico, assim como todas aquelas sensações de incapacidade. Solidão.
No fim de sua breve vida, pediu ao doutor algum remédio. Qual não fora negado, mas deveria ser administrado por um especialista. O ocorrido posteriormente foi algo mais bizarro ainda. O experto tomou a administração medicamentosa mais como vaidade do que qualquer outro juramento que fizera na academia.
Do orgulho do dito fez-se o pragmático tratamento, que não reverberou solução alguma ao caso.
Desse meio tão escuso por alguma reputação média, o paciente largou o tratamento para tentar resolver sua situação, o que poderia ser grande feito - e a única solução, quem sabe. De qualquer forma, não poderia ficar parado sendo marionete de profissional egoísta. Saiu pela porta da frente, vestido de médico, avental e estetoscópio no pescoço.
Mas, mesmo assim todo de branco, era diferente daqueles médicos que tentaram tratá-lo. Ele sorria e cumprimentava todos, seja com um gesto ou o menor aceno de cabeça. Não fazia de seu uniforme branco a grande estupidez e arrogância tão vista nos dias de hoje e naqueles de outrora. Não, não era falso nesses gestos, realmente os sentia.
Chamou um táxi, e foi-se.


domingo, fevereiro 13, 2005

Ele partiu

O sol castigava,
Em seu rosto avistava
A poeira do vento e
Um breve esquecimento.

Abre e fecha os olhos,
Num devaneio profundo
Esquece-se do mundo,
Música em seus ouvidos.

Uma sombra newtoniana,
Sem leis nem frutos,
Apenas um tocar abrupto
De uma pessoa estranha.

Mas é carnaval e não,
Não me diga quem és.
Ou ainda diz e explica
O porquê do empurrão.

O pé esquerdo serviu,
Embora difícil posto.
Tinha um diferente gosto,
Um verde-feio quase vil.

Sugerira a cor por razão.
Dentre todas, feia-mor.
Não quis tirar nem pôr,
Vestiu-os e chutou sua mão.

Levantou-se do descanso
Atônito e perplexo.
Atitude muito complexa,
Inesperada e intrigante.

Havia outros ao lado,
Boquiabertos e sarcásticos.
Parecia um ato mágico,
Efeito psicótico, enebriado.

Muito mais do chá,
Ficou pleno sem reação,
Balançava as mãos,
e dizia 'O que há?'.

Foi se embora a moça,
Calçando o sério chinelo,
Que embora não fosse amarelo,
Era de tremendo malgosto.

Balançava a cabeça pasmo.
O que diria se perguntassem?
Coçava a cabeça e repetia incrédulo:
"É isso, roubaram meu chinelo".


Constatações

Muito mais do que chá.
De tanto impressionar-se com a expressões alheias quando das afirmações acerca de seus afazeres, passou a introduzi-las quando repetissem tal pergunta. Mas, qual não foi a surpresa, um sorriso amarelo tomou seu rosto pois a outra parte não entendeu a expressão das outras pessoas. Sentiu-se sufocado e um pouco sem rumo.
Que faria a partir de agora?


sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Eu disse:
- Bom dia!
...
- Bom dia?
...

Ninguém respondeu.


quinta-feira, fevereiro 03, 2005

segunda-feira, janeiro 31, 2005

O dia em que me despedi..

Estava em cima da hora, mas seria difícil me atrasar. Deixei minha bagagem com os recepcionistas, coloquei meu chapéu panamá e estava pronto para dizer adeus à todos vocês. De lá de cima do deck pude ver cada pessoa que ali embaixo estava.
Com um vigor descomunal, balancei os braços dizendo que estava partindo e que sentiria saudades de todo mundo.
Me aproximei no parapeito e pude ver com mais certeza ainda, lágrimas caíram: eu realmente sentiria saudade.

De volta à consciência, não reconhecia uma só das faces que se lá embaixo se vigorava.
Não poderia virar as costas sem realizar seu único desejo.
Voltou a balançar os braços com mais vigor ainda, disse que jamais se esqueceria. Voltaria um dia.


sábado, janeiro 29, 2005

"I've got you under my skin..."


O relógio apontava pouco mais de duas horas da manhã. Caminhava pela rua, incrédulo e extasiado. Ouvia a voz de Francis como própria pulsação e leveza de seu corpo.
O sobretudo balançava com o vento, este que ainda queria levar seu chapéu pra longe... bem longe. Uma cambaleada e um polegar para segurá-lo, invencível esta noite.
"Encontre-me esta noite, às 22h00".
Um andar suave pelas ruas da cidade que nunca dorme. As luzes refletidas no chão ainda úmido. Que tudo isso seja assim mesmo.
Um beijo de boa noite e saíra contendo-se para não cantar na doce voz todas as realizações. Involuntariamente olhara para trás, ela ainda o observava, brilho nos olhos e sorriso no rosto.
New York, New York.


quarta-feira, janeiro 26, 2005

Mexia involuntariamente a cabeça num movimento repetido. Tentava acreditar no que havia feito. Assentia aos próprios dizeres. Essa insistência não trouxera mudança alguma com exceção do relógio e calendário, que acusavam alterações profundas de tempo e espaço sem nova possível solução. Se é que poderia existir solução sem problema definido. Sempre fora assim durante toda sua estada no que chamam de vida.
Amassou o que tinha escrito e também os rascunhos que já eram rasgados pelos olhos de tanto serem lidos.
Rasgou as idéias.
Deixou pra depois.



terça-feira, janeiro 25, 2005

Um pouco mais de verdade

Sua paixão de adolescência e infância nunca fora a excessiva aplicação de condições para expressar determinadas sensações ou atitudes. E, ao que tudo indica, não passará a ser de uma hora a outra.
Assim sendo, deve ser tratado como sentimento exclusivo as palavras encontradas.

"Havia sido uma noite extremamente chuvosa. Podia dizer que tinha chovido na segunda quinzena de janeiro o que choveu no verão inteiro dos 3 anos anteriores. A vida continuava, nessa pseudo-atividade que padece entre as grandes festas do fim do ano e o carnaval. Não podia se dar ao luxo de simplesmente aderir ao movimento pró-ócio, e muito menos exaurir-se fim a concluir as tarefas pendentes, pois sabia que se frustraria.
Nada motiva, nada o atrai, nada termina e nem satisfaz.
Pensara em esquecer da estrada molhada e inebriada de tanta tormenta, deixar o carro ir para a vala só para ter com o juízo final. Uma conversa necessária, explanatória, decididamente importante para os rumos futuro do indivíduo. Como não era provável sua estada definitiva nos campos santos, voltaria com extrema cautela e amor àquilo que sempre teve ódio. Teria mais vontade de pecar, de perdoar. De matar, quem sabe.
O fato importante é que nada disso aconteceu. Por mais que ele tenha pensado nisso tudo, continuou o mesmo.
Se."


quinta-feira, janeiro 20, 2005

Que seja o Fim

Quando se sente bater no peito heróica pancada.
Quando se sente a dor no peito da maldita pancada.
Maldita.

Ingrata pela insistência,
Desgostosa por decência,
Perfeita para um cântico,
Enebriante pro romântico.

Cheio tristezas seguiu o rumo
Pelas ruas, estradas e avenidas,
Suas fôrças e alma consumidas,
No definhar escroto e moribundo.

A cerimônia e a morte tranqüiliza,
Furtiva mão alva divina estendida.
Amenas infinitas voltas sem ida,
O fim do ébrio zigue-zague de sua vida.


quarta-feira, janeiro 19, 2005

Dos amores...

Dos amores que tive, você foi o mais fictício. Tive dúvidas quanto ser, estar, sentir, existir. Para que não tomasse decisão alguma, resolvi imaginar. Foi assim, então, que nos conhecemos.
Praticamente de pára-quedas, tomei conhecimento de sua vida. Em plena avenida paulista, ao meio-dia. Num piscar de olhos, uma lona vermelha cobriu meu pára-brisa e tudo o mais que pudesse interromper. Junto dessa parafernalha, algo parecido com um manual de instruções. Um escárnio alto e uma balística perfeita desse artefato para bem longe. Manual, onde já se viu.
Ela insistiu em se desculpar pelo transtorno, mas olhos dele brilhavam e o que mais podia fazer era assentir movimentando a cabeça lentamente, incrédulo.
Não era perfeita pois era humana. Ou, ao menos, parecia.


segunda-feira, janeiro 17, 2005

Ressonância

Foi encontrado desacordado. Ajoelhado em frente a uma estante, com as mãos sangrando. Estavam mergulhadas numa poça do mesmo líquido. A figura bizarra parecia ter tentado cavar o chão de madeira até o fim de suas próprias fôrças. Estava nu.
Os vizinhos reclamaram pelos gritos esquizofrênicos. Não soava como uma conversa, mas um apelo desesperado.
O sujeito foi encontrado como se ajoelhado num templo. Apesar de muitas estatuetas pelo lívingue, não estava em frente de nenhuma delas, sequer de uma peça de arte. O ícone aclamado era uma estante de livros e um som estéreo. O estéreo estava ligado no fim de algum LP. Capas e livros jogados e rasgados ao lado da estante.
Os peritos concluíram que o rapaz teve um ataque cardíaco enquanto fugia de alguma coisa que sentia. Mas havia só música clássica no toca-discos.


quarta-feira, janeiro 12, 2005

Mais uma carta

Suas mãos já sentiam o cansaço de tantas tentativas. Muito mais do que um monte de papéis amassados, rascunhos rasurados, rasgados de incessante necessidade e busca por algo sublime. Como seria natural, as idéias estavam piores que o monte de folhas, afinal fôra aquela mente que havia criado tal situação, sem previsão alguma de ter um término plausível.
Sequer um término, pensava. Desde que colocara o esboço no envelope final, não tinha outra coisa caraminholando nas idéias do que tê-lo em chamas na lareira. A imagem seria bela, mas ainda sim não resolveria o tal problema. Para uma simulação artística - ouviu passos pela porta do escritório - colocou um dos rascunhos razurados em um envelope e atirou-o no fogo. Que hora esplendorosa! Sua esposa adentrara o recinto e admirou o monte de folhas e, se adiantando à óbvia pergunta, ele respondeu que estava compondo. Tinha saudades do tempo em que escrevia para as pessoas que não existiam. E, se caso existissem, provavelmente não responderiam.
Um clima estranho preencheu o recinto enorme, os personagens da independência sobre a lareira se entreolharam. As estátuas, bustos, até os olhos vesgos de um Picasso se ajeitaram.
A esposa fingiu que acreditou nos dizeres. O marido fingiu acreditar na esposa.
Queimou todos os papéis - todos continham o mesmo assunto e dizeres, não sendo justo que um fosse môrto e outros sobrevivessem.
Limpou a pena e foi dormir.


sábado, janeiro 01, 2005

Aceita uma taça de champagne?

O maitre perguntou 'O que faria o senhor feliz'.
Disse a ele que 'uma garrafa de champagne a cada vez que esta chegar ao fim, e a cada nova garrafa, uma taça nova'. Para coroar a vinda do novo ano.
Em primeiro plano o borbulhar do famoso líquido na taça, em segundo a cidade de Paris repleta de seres apaixonados. Jurei por tudo que fosse de mais precioso em minhas ricas posses, que deveria passar o próximo réveillon acompanhado de alguma pessoa.
Que a mesa não se sentisse vazia, que a taça além da minha não tivesse de amargurar o clima frio de Paris da virada.
6ºC. É suficiente para dizer que preciso ver além do sorriso dos eternos namorados caminhando pela Champs-Elysées, promessas e juras de amor até o fim dos tempos. Um leve aceno ao maitre, Mais uma. Pareceu ecoar o aceno insensato do respeitável cliente, maitre já sabia do término de tamanha dádiva, teve apenas receio de supri-lo. Antes que pudesse haver qualquer forma de retaliação à demora, houve nobreza do maitre e um pedido de desculpas que soou exagerado. Em parte resolvido.
Uma moça passou com os olhos cheios de lágrimas, quis acreditar que fosse felicidade, embora não pudesse esconder a angústia dos amores pouco resolvidos. Aqueles que nos consomem enquanto estamos em tamanho desfrute de nossas atividades mais extravagantes. Chegamos à plena conclusão de podermos enfrentar o mundo, para que tenhamos saciado tamanha necessidade, encontro à plenitude do ser que nos propusemos a exercer. Mínimo, é o que se trata do mundo quando vemos em nós mesmos um motivo para encarar nossos próprios medos.
Sim, o mundo. O menor dos nossos impecilhos, o maior de nossos medos.
No fim das contas...
Sente-se, maitre. Brindemos maitre... às moças que um dia há de nos dar valor. O maitre consentiu.