quinta-feira, dezembro 30, 2004

Alguns Quilômetros

Em meio ao dilúvio dos últimos dias do ano, pegou o carro. Espairecer um pouco,pensava. Foi seguindo a rotina dos dias. Era tarde da noite, as luzes se confundiam com a chuva torrencial, mas mesmo de olhos fechados saberia fazer o caminho.
Com atenção apenas nas palavras que corriam ferozmente pelo pára-brisa, a música acompanhava cada traço de seu raciocínio indiscutível.Mereço uma resposta.
Revirava os acontecimentos e com todos argumentos transbordando pela boca, as razões claras do porquê de merecer alguma consideração.
Fechou os olhos e estava seguro agora.
Em algum lugar um pouco distante.


quarta-feira, dezembro 29, 2004

A Pena sobre a mesa

A pena sobre o suporte é sempre um convite. As folhas já alinhadas, uma tentação. Nesse misto de aceitar o convite e ceder aos próprios desejos, olha para o quadro pouco distante da mesa e imagina: Qual seria o destinatário?
Os primeiros traços parecem ser tradicionalmente impessoais, embora traga uma carga pessoal quase exagerada. Entre um e outro mergulho da pena na tinta, parece esclarecer quem poderia receber tal afloramento.
Coisas por resolver, sempre. Ao menos pela parte do remetente. Por ser assunto inédito, a parte do destinatário sequer poderia imaginar tal situação. Sorri quando do término, levanta-a da mesa e admira a própria criação. Leveza digna de nobres, delicadeza, concisão sem perder a clareza. Parla!
Indaga-se como fazer para entregá-la e confia no próprio destino, com certeza haverá uma janela e somente ela permitirá o tal envio. Enquanto isso, dobra a folha em três partes, tendo certeza da unicidade da forma de dobradura. No envelope, lacra com um brasão familiar. Novo problema: Como vai entregar?
Antes que qualquer tiro saia pela culatra, é necessário ter mirado e pressionado o gatilho. Sinais como ansiedade e hesitação devem ser plenamente evitados.
Problema maior daquele ato é quando nada ocorre, mesmo tendo certeza da bala na agulha e o gatilho ter sido pressionado. Questiona-se o meio utilizado, mas tem certeza de ter sido entregue, basta que a pessoa estenda as mãos. Talvez um silenciador tinha sido utilizado, enfim.
O grande problema de se expor é não ter resposta.
A dificuldade de falar alto é de não ter quem ouça.
As cartas se perdem.


segunda-feira, dezembro 27, 2004

Algo Mais do que Chá

Ritual de hora marcada que, mesmo sem tê-la de fato, sabe-se quando começá-lo.
No mínimo meia hora em que os problemas do mundo se tornam no ir e vir da colher por sobre o líquido. Os desenhos nesse tomam a forma que nós quisermos e se transformam no nosso mundo. No assustar-se pelas imagens líquidas pára e se fantasia com as figuras de vapor que se formam. Sempre se mostra um rosto com expressão e dizeres definidos, a presença de que nós tanto gostaríamos de desfrutar.
Iria para Pasárgada curar todos os meus problemas. Bastaria um pouco do emplastro e sentiria a vida percorrer novamente minhas veias.
Muito é o que ultrapassar as barreiras do chá.
Talvez não haja nada além do chá.


sexta-feira, dezembro 17, 2004

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Por que existe a distância de um oceano?
De fato, as coisas seriam menos complicadas.


segunda-feira, dezembro 13, 2004

Só um pêssego mesmo, obrigado.
Não precisa se preocupar.



quinta-feira, dezembro 09, 2004

Ps1:

Você tem certeza de que as folhas estão realmente completas?


quarta-feira, dezembro 08, 2004

Caderno novo

Há anos era naquele caderno que registrava os acontecidos. Futilidades, conhecimento... mas o que impressionava era o peso emocional que possuía. De fato, os erros e tapas, tropicões eram sempre descritos minuciosamente e, em seguida, as possíveis soluções para aquele ocorrido.
O caderno fora engrossando com o passar do tempo, até chegar ao fim. Ao virar a última folha, leu em voz alta o que ali escrito estava:

"Você chegou ao fim de uma etapa,
comece outra, noutro caderno."

ps: Não pense em apagar umas folhas pois
o que precisa é de um novo caderno.


Fechou-o. E assim permaneceu. Sem reação.