sábado, janeiro 25, 2014

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Foi preciso de despir de um pouco de aço. Ou melhor, compartilhar a indumentária. Somente assim as profundezas da gigante pode ser vista. E vivida. Os tempos presentes fizeram com que essa fosse a única saída lógica, revelando os muitos caminhos que se escondiam e a escondia.

A pressa acabou. Perde força o discurso e o patrocínio de alguns interessados pela pressa e toda a noia que torna as ruas num grande campo de batalha, que divide os pontos de segurança dos quais você jamais deveria sair: academia, trabalho, casa. Nada após o anoitecer.

A rua causa medo. Ela é terra de ninguém. Escura, suja, abandonada. Perigo. Coisa de vagabundo, onde eles ficam e se amotinam e não se ocupam e corrompem os demais. Drogas. Rua é coisa da noite, deserta.

E tem a luz do dia. Que as latas se amotinam e amedrontam os demais. Coisa de vagabundo, que não anda com as próprias pernas ou se julga muito superior para compartilhar algo além da rua, ainda que haja cada vez menos espaço. Ironia! E se corrompem, numa agressividade justa pelo projetado status. "Sou algo".

Existe vida além dos carros. Ou melhor, além das ruas largas e claras que são o caminho da grande maioria. Os lugares que não são meras passagens para assegurar que a pressa impera, aqueles que as pessoas vivem. Bairros. Casas, verde, jardins. São nesses que a pressa acaba.

Ao se montar um pouco de aço, uma fração da própria massa, investiga-se, diariamente, como puderam nos deixar tão separados por tanto tempo: eu e a cidade. A tensão da distância criava essa ansiedade de percorrer tudo muito rapidamente. Mas, o silêncio e o vento no rosto e sem pressa! Vendo cada parte secreta que as grandes latas nos impedem de vivenciar. Haveria melhor remédio contra a pressa?

Cada vez mais próximo desse ponto sublime de fundir-se à própria urbe.

Ajudando a encontrá-la e vice-versa.