sábado, agosto 28, 2004

Estamos chegando perto das eleições e recordar é viver.

4 de Janeiro de 2003

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras
Onde não deveriam estar.
As plantas que aqui custam,
Custam mais do que lá.

Nossas avenidas não são praias,
Nossas várzeas são esgotos,
Reservas são lotes,
Motes nosso desgoto.


quarta-feira, agosto 25, 2004

Sinto uma vontade, uma fissura quase, de tentar escrever sobre a manipulação das pessoas, a nossa aceptabilidade à todas as coisas.
As lutas de classes, a cega luta de classes. Cega, lê em braille os livros de Marx. A falta de sentido em todas as palavras, e o tão lindo e perfídio 'bom senso' ou 'senso comum' em todos os nossos dizeres e conclusões de mesa de bar.

A falta de conhecimento que nos faz criar coisas tão absurdas dentro de nós mesmos.
Inclusive o erro de estar escrevendo isso dessa forma.


...regia uma orquestra de música eletrônica e ao mesmo tempo encarava a loucura do trânsito paulistano. Eu, observador nato, invadi sua privacidade ao observar pelo seu retrovisor um olhar descomprometido. Não se sentiria à vontade caso percebesse minha presença... Mas quem se importa? O semáforo abriu-se, ela se foi para o Jardim e eu para Pasárgada.


sexta-feira, agosto 13, 2004

Conversa

Estavam num balcão de bar -disse bar, não boteco. Quando da primeira rodada de chopp, os dois começaram a conversar:

- Viu que moça fantástica?
- Parece bem interessante, ela tem um charme... um 'não-sei-o-quê' bem distinto.
- Eu vou lá...

Nesse instante, o último foi se levantando e interrompido pelo outro:

- Horácio, espere... mas o que dirá a ela?
- Alfredo, você tem alguma dúvida das minhas capacidades?
- Não, não tenho. Mas, olhe bem. As pessoas mostram muitas coisas das quais deveríamos ser observadores integrais. As pessoas felizes, tristes, curiosas... O mundo é lindo...
- Preciso conhecê-la, não nesses moldes, mas noutros nos quais me interesso. De que adianta supor tudo isso? Quero saber das coisas.

Gesticulou de forma ligeiramente exaltada, de certo deixou Alfredo sem graça. Não percebendo, continuou:

- Você precisa largar essa sua mania de achar que nossos olhos sentem todas as coisas, temos curiosidade. Me diga, sr.sábio, existe algo mais profundo do que o ato de conhecer o outro?
- Mas...já estivemos em situação parecida, sempre conseguimos contorná-la. Lembre-se daquela vez que estava quase cometendo um erro, e insisti para que respirasse um pouco mais fundo, sempre acaba bem. Nessa mesma vez, o senhor teve a oportunidade de falar-lhe com mais calma.
- Aquilo foi uma vez, e tenho minhas dúvidas se aconteceria por livre e espontânea vontade.
- Vai acontecer sim, com certeza.
- A única certeza que eu tenho é que estou no lugar errado.
- Nisso, concordo contigo.

Horácio continuou sentindo suas têmporas latejando não se conteve.

- Quero que você exploda. Essa sua necessidade de moderar todas minhas idéias e impulsos...! Cansa-me. Eu quero vê-lo mais velho, contando um monte de mentiras para os mais novos. Se não me impedisse, mostraria as verdades.
- Quem precisa desse tipo de verdade, a única existente é a implacável racionalidade do nosso pensar.
- Nosso? Como você se atreve? EU preciso e EU vou atrás.
- Somente se você me levar para onde for.
- Estamos acorrentados, você é o maior peso que qualquer um poderia, um dia, na vida, carregar. Por mais que eu tente qualquer coisa, sempre esse peso morto a ser carregado.
- Eu já vi tudo o que eu tinha que ver e, por isso, largo qualquer confusão p'rá trás e vou-me embora...

Interrompendo, com enorme satisfação, Alfredo insistiu:

- O senhor sempre toma boas decisões. Irrefutavelmente, tenho de concordar, que é a melhor coisa a se fazer. Vou contigo.

E assim, Lucas voltou para casa.


quarta-feira, agosto 11, 2004

Lua Minguante

Destrói o que resta de vitalidade das crescente e cheia. Maldições atordoadas pela lua amarelada e vil. Sequer há graça para ser mostrada quando seria o necessário.
Nem a maior frieza humana consegue controlar-se depois de tamanha confusão.
Agora, lhe pergunto: Ó leitor, faz algum sentido tudo isso?
Antes que queira esboçar reação, pense se não seria melhor ficar em silêncio. Pense se existe alguma forma de organizar as idéias...
Pense...
Pense...


quinta-feira, agosto 05, 2004

Chá

O coador de pano estava sujo com pó de café passado e tinha um resto desse café pronto que jazia há cinco horas na jarra.
Não tive dúvida. Deixei de lado a cafeteira, esquentei água e fiz um chá preto.
Não me arrependo de nada.


segunda-feira, agosto 02, 2004

Outro Dia

As horas passavam rápido, era cerca de seis e meia da noite. Às oito tomava o rumo de casa. Sem muito pestanejar, aceitou, com surpresa, a dispensa unilateral que o chefe lhe concedera.

Rua Jóquei Clube: Sem trânsito.
Av.Juscelino Kubitschek: Igualmente, sem trânsito.
Túneis, Sena Madureira, Vergueiro em obras: Sem trânsito.

Estava distráido demais pra perceber esse tipo de coisa.
Das cinco chaves, no escuro, acertou de primeira.
Abriu a geladeira, a última cerveja lhe sorriu como dádiva.

E-mails trouxeram boas notícias.

Um sorriso distante apareceu em seu rosto, ria alto como que por desabafo ou descrença.

Olhou para seus pés, eles se agitavam.