segunda-feira, junho 27, 2011

Passo Curto

Um pé e depois o outro, sucessivamente.
É assim, mais ou menos, o silencioso murmurar de quem acaba de acordar e precisa descer escadas. Por mais tempo que se conheça, é sempre diferente.

Surpresas.
Mesmo, e até, em conhecidos caminhos.
Como o bater de asas de um aflito beija-flor abrigado da cinza e fina chuva paulistana.

Em permissão por uma fresta à janela se foi, contente.
Aliviado, tranqüilo.

Não foi o primeiro pássaro a aparecer por essas bandas, não o último também, em mais de uma visita. A liberdade é o sorriso mais belo que pode existir, lógica sempre de abrir as janelas.

Passo curto, de olhos fechados ou pouco abertos.
Outros sentidos...
Olhar para o que está perto, lado, não ao longe.


sexta-feira, junho 24, 2011

Eco do Tempo

Há relógios derretidos por aí.

Revolta clara ao registro dos fatos e tempo. Um confronto, comparativo, desumano de vivências face-a-face. As negativas pendulares ecoando no tic-tac do novo relógio, o mesmo som que insistia em reger a tragicomédia de outros tempos.

De outros tempos, que o repetir crê ditar o rumo, nessa revivência, naquele e nesse mesmo passo.

Não!

Crer que as constantes de outrora permanecem é tolice! Há diferentes bases formadas, novas descrições e estória. Todo um novo passo, cujas imagens não sobrepõem antigas!

São outras, sim!
E não há relação!
Nunca houve!

São apenas trôpegos ecos,
Incomodam por incertos,
Influentes.

Onde mais longe terão de refletir para se extinguirem?
Quão longe?
Para que ninguém ouça?


segunda-feira, junho 20, 2011

Busca

Guardava o rosto para alguma outra ocasião. Sorria, apenas. Pois intrigava menos do que o peso de tantas lembranças, escondia o reflexo disso nas profundas marcas de expressão.

Sorria com os olhos também, contagiaria o mundo de tal sorte que se esqueceria das cartas e escritos contrários, enfim daquilo tudo. Do desejo simples. Da confusão e papeis atribuídos, da incerteza do prazer de sê-los.

Fascínio era um pouco longe demais. E assim mantinha o redor à vista hipermétrope, aliada à segurança da ilha-fortaleza. Estável, como o indesejado e confortável estado. Como o vício de recair em loops de lembranças, dos nomes distintos da última década! Falsos! Do prazer de esquecer desse vício e se permitir o regozijo das limitações impostas e aceitas sem contragosto, mas contraproposta. É estar certo novamente, ainda que haja significado algum em tal afirmação.

O equilíbrio dinâmico difere muito. São passagens medidas, transições estreitas que sufocam menos, mas ainda prendem. A felicidade alheia inebria os que prendem a visão a outra coisa. Qualquer coisa. Fato é que a vista começa a borrar quando se anda rápido e molda tudo, como o vento, aparando arestas apenas com o capricho fluido.

Há pontos ótimos que não serão encontrados jamais.
A menos que se mude a forma de busca.


quinta-feira, junho 16, 2011

Se é passageiro

Preso. Confinado em ver um só rosto de várias formas em tantas outras pessoas. Variações, afiliadas ou não, de tempo e espaço, a quem tentava percorrer outro confuso caminho - fuga necessária e poética, resultando em imprevisibilidades admiráveis.

Pois se é passageiro! Oras! A estória é escrita em todos os detalhes, cabendo aos personagens o comportamento de livre-arbítrio, com todas as saídas arranjadas para que cheguemos ao correto ponto, determinístico, divisor de águas de caráter e imagens!!

Mas se é passageiro, é fluido. Corre rápido a ponto de não permitir adequado registro da cena; retorna atores às posições diversas vezes para garantir as passagens e continuidade da película. Tudo é estória, afinal.

Sente-se dessa vez. Curta o infinito tempo improvável, desejado fato que povoou a imaginação costurada em sketchs desses olhos brilhantes!

Cenas novas hão de surgir de tempos em tempos. No fundo, evitar o som da alegre claquete é limitar-se à memórias de não-ocorridos, julgando desprezíveis as sensações incontroláveis diferentes em cada repetições. Ah! Insistir na reescrita é ater-se a uma perfeição inócua! É inevitável, pois! Que venha o novo!

Diferenças serão sutis aos mais atentos.
Que seja passageiro, passageiro.


terça-feira, junho 07, 2011

Só Isso

Cinza é a perfeição aos olhos de um fotômetro. O equilíbrio em todo o meio contínuo. Em cada ponto não há distinção entre yin e yang; sem contraste. O brilho neutro.

Representa nada. Ou melhor, distingue nada, embora represente tudo.

Serve como um céu de dia nublado, pano de fundo para retratos dramáticos, origem da luz natural difusa. Sem sombras, etéreo.

Mas, hoje, falta algo.

Pois há céu azul, lembro-me de paredes verdes e olhos e sorrisos que são mais do que isso. Excessos que não são comportados em tal gama!

Há mais.

E o preto-e-branco de outros tempos?

Continua. Creio. Mas.

Sinto que...
Não é só isso.