quinta-feira, julho 31, 2003

VI

Lembro-me das minhas viagens. As idas geralmente demoravam muito, e as voltas eram rápidas, mesmo que houvesse congestionamentos. Havia sempre algo que me puxava tão forte que fazia com que eu pensasse mais depressa, e nessa volta os pensamentos iam voando e num piscar de olhos estava de volta, aos braços do meu amor, imagino.
Não entendo a lógica dessa volta, se é que ela existe, esteja demorando demais para acontecer. Talvez seja porque eu esteja cá, perdido do mundo, livre das coisas materiais. Também pudera, não tenho nada aqui. E se o nada fosse algo, ausente estaria.
Mas isso não resolve o problema inicial, continuo num tempo que parece infinito. O sol não muda de lugar, a lua não aparece, sinto nostalgia das coisas que eu nunca tive, ou não sei se as tive, o tédio prevalece em qualquer das situações. Se o campo está florido, o tédio são as flores que se repetem, vermelhas, azuis, amarelas, brancas. Caso sejam as árvores, de inverno, verão, outono e primavera. Na cidade, o jardim a construção a árvore o carro o ônibus a grama as pessoas, tudo é o tédio, as coisas são o tédio.
Simplesmente por serem todas elas. Se não as fossem, tédio não haveria. E se as são por que haveria sê-lo?


quarta-feira, julho 30, 2003

Beleza Americana

E se o amor não fôr tudo isso? A vida in-romance não seja muito diferente da atual.
E, ao descobrir o novo mundo, pára por instante para pensar, tempo este que fez o novo desistir de você, ou você dele.
O mundo questiona o porquê da pausa. Você não explica, mas sorri. Sente-se feliz.
Por quê?


terça-feira, julho 29, 2003

Os Quadros

Como os testes de molduras que fiz em minha sala. Não havia os quadros, nem gravuras, somente as molduras e vidros.
Talvez a realidade seja assim, tenha um espaço reservado, mesmo que ela não esteja lá, ou simplesmente não exista.


segunda-feira, julho 21, 2003

Projeto

Pôr em cheque as bases de sustentação é o mesmo que checar suas próprias bases.
Temerá que as bases se enfraqueçam e, portanto, olhará pra baixo, com o medo dos náufragos em alto-mar. E o futuro? Que futuro tem os marinheiros?
O medo limita aos olhos o chão. Tem algo que lhe perturba os pés.
Com tanta preocupação, não há futuro.


quinta-feira, julho 17, 2003

V

Eu te amo

Não amo! Bem, não como você está pensando. Na verdade não sei o que você está pensando. O problema é que eu penso diferente. Aposto que ao dirigir um "eu te amo" a uma pessoa, deve pensar milhões de outras coisas senão o próprio sentimento. Fuja dessa simplificação errônea e corre para síntese original... Se tem outros sentimentos, dirige outras palavras.
Raciocine. Uma vez que pensa errado, interpreta da mesma forma, e me põe como vilão de toda estória.
Olhe no espelho, o impecilho é você.
Me abstenho de culpas se costuma resumir seus sentimentos com palavras de peso.


sábado, julho 05, 2003

"A sabedoria que a velhice traz, não advém da idade do corpo, e sim da própria mente."


As Naus

Durante 3 noites e 3 dias viram-se estacados em mesma posição, na costa africana, e a correnteza os levava pra rota que contrariava a "manobra". Se houvesse deusa que soprasse, marujos se ajoelhariam para pedi-lo. Em vão. Se existia, não conseguiram contacto algum. Uma vez que o vento não soprara e era preciso alguma decisão, tocaram os remos n'água e fizeram com que o vento fosse coadjuvante. E numa surpresa dos tempos, o vento soprou. Marujo nenhum agradeceu ou parou de remar.
Como poderia depender de algo tão instável?