segunda-feira, fevereiro 22, 2010

Ao telefone

Chutava folhas imaginárias. Era possível vê-la morder levemente a ponta dos dedos ao aproximá-los dos lábios ansiosos e sorridentes. Dava poucos passos e logo volta-e-meia. Sorria com os olhos também.
Estava ao telefone.

O mundo não existia. Uma horda de cavalheiros passava desajeitada, levantando poeira e jogando seus cabelos ao vento. Ficava mais bela, é verdade. Sã, intocada por qualquer coisa mundana, observava além do que se via: era mais.

Se houvesse janela, saberia que seria admirada pelos que passassem trôpegos na calçada do outro lado da rua. Esta era pouco irregular, mas a visão os desnorteariam. Engraçado seria observá-los em disfarce, ainda que desnecessariamente.

Estava próxima e distante. Apesar de a centímetros, o que havia estava somente entre o telefone e o outro protagonista. No íntimo dos envolvidos na cena, externamente, restava um certo ciúmes e algumas lembranças.

O que passa aos olhos é sempre um filme já visto, independente dos personagens. Há sempre um dom de curvar as novas situações ao que interessa no momento. Moldando os acontecimentos para encaixar o que pouco se pôde dizer na época, o que se tinha vergonha, mágoa e era tão irreal.


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