domingo, fevereiro 07, 2010

Dos Potes de Sorvete

Quando era pequeno, mal alcançava o puxador da porta do congelador. Segurava pela lateral mesmo, amassando a borracha isolante, enfincando os dedos, pendendo para trás e se exaurindo. Sempre com sucesso.

Esticava o pescoço e achava entre uma das divisórias horizontais aquela que teria o pote de sorvete. Não era difícil de achar, pois sempre jazia solitário. Outros como ele sempre estariam lá, guardando coisas que não eram sorvete. Em resumo, pote solitário era pote de sorvete.
Outro esforço enorme era abrir a tampa desse pote, sempre auxiliada por uma colher qualquer. Havia sempre o de morango, o branco e o chocolate. Sabia que o primeiro era dele e podia fazer o que bem quisesse. Era o seu favorito. Lembrava do verão e do sorvete dessa forma, o assalto ao congelador, caminhar na ponta dos pés enquanto vigiava rapidamente ambos os lados à procura de um visitante indesejado com perguntas impróprias.

Os tempos mudaram. O pote de sorvete não era mais solitário. Estava em companhia de pelos menos outros dois. Que continham cores outras que não eram mais de morango. Ainda que o favorito estivesse lá, fechava e abria tal porta inúmeras vezes achando que saberia o que escolher no momento em que visse. Não adiantava. Pouco tempo depois perdia a vontade. E fechava a porta desanimado.

Eram verdes, branco com pontos marrons, amarelos, laranjas até azuis! Cores, cores demais, sempre diferentes. Muitas cores, muitos sabores.


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