segunda-feira, abril 10, 2006

Pois

Pois eu estava certo. Isso eu não queria. Cercado da consciência de minha mediocridade, do quão frívolo poderia ser ao falar de assuntos e adjetivos tão pouco vividos, de declarações que não convencem pelos olhos e gestos, mesmo tendo uma penosa honestidade intrigante. A posse de algo que nunca fora, e que jamais poderia ser.

Pois lá estavam. A mão dele tocava o rosto dela suavemente. Certificar-se da realidade de toda a situação. Nesse ato, eu sentia o rosto dela e um profundo amargo, aperto no peito de uma abstração desejada. Ansiedade. Ainda sim, conseguia usar a câmera fotográfica com engenho e imparcialidade invejáveis. Como eram belos em foto. Era possível ver o movimento dos lábios deles, a sombra no rosto dela e um raio de luz em seu olho esquerdo. Em outra, mordia o canto do lábio com malícia involuntária. Estrelas num filme real em que pude capturar cada momento. Posavam para mim, única, exclusiva e inexoravelmente. Eu estava lá.

Um troféu para tudo o que pude viver além do que acharia ser a morte.
O engano de tentar achar beleza no que seria o fim poético e romântico. O fim da paixão unilateral ao perceber que talvez não seja sempre utópico.
Descobrir a facilidade de perder o tempo como areia pelos dedos, a lucidez numa frustração admirada e a frieza para esse relato sóbrio e insólito.


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