sábado, abril 29, 2006


Moça na Janela

Caminhava por aquelas infinitas ladeiras de cidades antigas, encontrei uma boa casa de chá e por lá fiquei. Poderia ser Ouro Preto, Milão, Lisboa ou qualquer uma. Como faz parte apenas da idéia de lugar, não é necessário citá-la por completo. É muito mais a situação do que o lugar, como sempre deveria ser.

Tinha uma moça a olhar através de uma janela. Típico em vilarejos como aquele, apesar do jeito que ela olhava. Não reprimia e nem guardava o que fora visto para conversas futuras. Tampouco sorria pelas crianças brincando ou admirava o casal de idosos amorosos que qualquer um gostaria de fazer parte no fim da vida. Não observava pássaros nem qualquer outra coisa, sequer percebeu um jovem ansioso, ensaiando um discurso, com um enorme buquê em uma das mãos, se preparando para o inevitável desastre. Ela não via.

Não saberia precisar exatamente o tempo que passei a observá-la, mas foi o período de 2 longas xícaras de chá, o suficiente para saber quão sólidas poderiam ser minhas idéias a respeito dela.

O que ela via então? Não parecia esperar alguém ou alguma coisa. Talvez estivesse vendo algo fascinante, um lugar grande, grandioso ou qualquer coisa assim. Olhava para janela criando coragem para ir atrás do que via. O ato era introspectivo, mas carregava sentimento de afastamento, controlava as visões tentando satisfazer os desejos íntimos do que queria como futuro, para as previsões futuras.
Pois olhar através da janela, para fora, é tentar criar coragem de ter vontade de ser.


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