sexta-feira, maio 05, 2006


Ao Telefone

- ... era algo substancialmente triste, uma sensação de incompletude difícil de ser tratada, descrita ou sequer comentada...

Enquanto falava, balançava a mão levemente fechada, olhando para o vazio, como se aquele movimento pudesse trazer o dom da oratória. Proseguiu tocando os dedos no polegar e depois na palma da mão..era inútil. Continuou.

... mas poder absover-se de tal angústia era mágico.

Ela disse:

- Fica meio difícil de entender. Mas imagino como se sente.

- Chega disso. Pára de falar assim. Pára de ser desse jeito. Pára!!!Falar com você ao telefone não faz sentido. Ouço sua doce voz mas me incomodo plenamente de ficar de olhos fechados. A grande virtude de conhecê-la é poder vê-la de perto, admirar cada traço do seu rosto, como seus olhos sorriem quando estão em dúvida. Quando mira o longe, buscando um pouco de si mesma em algum lugar. Si mesma em algum lugar do caminho. Desculpe, mas não posso continuar por telefone... você ou qualquer outra coisa, não existe.

Desligou o telefone e voltou a observar o quadro. Ele tinha razão.
Parecia ensaiado.


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