domingo, fevereiro 05, 2006

Da Decepção

"Que entenda, inicialmente, que isso nada mais é do que uma exasperação - ainda que controlada - dos sentimentos antigos revividos há pouco."

Era o que pensava, ou ainda, que se fazia pensar, justificando suas idéias e se preparando para um possível questionamento externo. É sabido que, para uma mesma pergunta, haveria duas respostas: a para ele e para outrem. Tentando, inutilmente, unificar as duas coisas, passou a apenas refletir sobre o ocorrido. Ainda que dissesse a uma pessoa a realidade dos fatos, levaria tempo demais e este seria tão precioso que sentiu-se encorajado a reter-se.

Reflexões consomem a alma dos puros, pois inconsequência alguma passaria por sê-la simplesmente, busca-se sempre as razões daquilo. Por mais que não existissem, tentaria descobrir e tinha certeza que era forma de manter-se ocupado. Já tivera decepções antes, assim como todos os mortais, mas essa tinha um sabor diferente.

Decepções são combinações de imaginação e frustração, confrontos de ideal e real. Enfim, elementos necessariamente criados pela pessoa que se decepcionara. Mas, ainda que tivesse parcela de culpa, que tipo de responsabilidade seria essa quando se trata de surpresa? A mais limpa e clara, de onde, friamente, não se esperava passo algum. Até poderia culpar-se por ter acreditado no que lhe dissera, porque, de fato, aumentou o teor da surpresa. Ah!... Já se encontrava muito além de onde havia razão. longe de qualquer linha de raciocínio, ébrio e tão injuriado que tinha a visão turva e apenas via o filme recente do que tentou, muito, não ver. E que, mesmo de costas, sabia os passos e as expressões. E, ao menos dessa vez, não teria imaginado.

Nem tudo tem o tom fúnebre tão esperado, pois nem tudo que soa triste é enterro. A vivência com as situações mais reais cria a leveza dos mais duros castigos morais. E desses, deve-se ao menos saber qual lugar você ocupa. Mesmo de guarda-chuva, temos um pouco de nossas roupas molhadas, não estamos livres de questionar ou inflamar preceitos ao observar o mundo. Cabeça alguma repousa tranqüila depois de vários disparates.

E, quanto a decepção? Ainda que não sentíssemos coisa alguma, ainda existiria algo para nos decepcionar profundamente. O desprezo, a frieza... mas isso já é outra estória....


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