quarta-feira, outubro 01, 2003

VII

Era uma vez um garoto. Na verdade um jovem, tinha 17, quase 18 anos completos e sentia-se no direito de ter sua própria vida.
Brigara com seu pai na véspera de sua viagem a conhecer outro lugar, motivo fora a aspereza com a qual o patriarca tratava a modernidade e outros meios de vida.
Vencido certos obstáculos, juntou o que restava de si mesmo e começara a fazer o que achava que era capaz.
Escrever. Essa era a ferramenta que usaria daquele momento em diante. A música, as poesias, rimas e palavras fortes. Ele as diria e as pessoas entenderiam o teor de todas elas.
Talvez soubesse que teriam de ser muito densas, somente assim ressonariam tal qual planejara.

E ao caso descobriram todos os dotes que possuía. Como se passasse a música por um cantor e, tocando sua virtude, encantasse a alameda por unidade.
Num acaso disse palavras que veio-lhe à cabeça. Era, portanto, o mais novo escritor da vila.

Lágrimas eram rotina, bem como toda a lama que estas trazem. Porém não havia dor real que pudesse ser sentida por este rapaz. Tudo o que sentia era criado por si próprio.
A não ser as mágoas e tristezas por outrem. Quando tratavam-no bem, exageravam; sentia-se ingrato por tamanho amor e nenhuma retribuição. Era um misto de graça pelo zê-lo e mágoa por outros momentos inversos. Mas tudo isso fora quando criança.

Voltemos ao jovem que estava a descrever. Era cru como uma criança, inocente nos amores, também pudera, não teve sequer um romance real.
É justamente nessa parte que a estória muda. Um escritor precisa conhecer pessoas e lugares, inevitável ação é caminhar por ruas e vielas atrás de situações que mereçam o gracejo de um escrito.
É uma cidade. Pessoas andam por todos os cantos, moças também. Não preciso dizer o que acontece.
Eram muitas, ainda mais p'rá um alguém de fora. E como se houvesse alquimia e desejo pelo proibido, interessou-se por quem não devia. Amores amores, paixões noites sem dormir.
Agora sim podia escrever sobre o que tanto queria. Nada de Shakespeare. Era muito mais real, porquanto era real.
Antes que o tema se esvaísse e esgotasse as capacidades de ser explorarado, o fim tornou-se peça teatral de toda história. A morte. Interrompe qualquer dos amores que haja no mundo. Depois de todos impecilhos, a distância estrondosa entre o trovador e a cousa amada, a vida só e depois a vida em comum, o ser estar não ser. A vida antes de tudo. Agora, a morte.

Ao perder o grande amor de sua vida, por que viver?
Não há show para continuar.
Não há mais o que possa acontecer.
Agora que está registrado, adeus.



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