terça-feira, outubro 08, 2013

Capuccino

Tentava me concentrar em algo. Jurava ser importante. Daquela enorme lista de afazeres, ao menos alguns itens deveriam ser riscados. Era uma necessidade de controle. Pelo tom da coisa, andava tudo muito atrasado. E sabe-se lá qual era o tempo que regia ou demandava tal cronograma.

Incontáveis vezes que ameaçava se aproximar da caneca, até que passou a ouvir algo que atrapalhava. Incomodava. Não era ventilador, computador, carregador ou qualquer outro 'dor' que pudesse ser responsabilizado. Era som de efervescência. E aumentava cada vez que se prestava atenção.

Bolhas! Eram bolhas! Suicidavam-se e mal se via quem foram. A espuma do leite. Chamava atenção para esquecer qualquer coisa terrena, do mau uso dessa boa vontade que nos enlameia, do reconhecimento de situação tão delicada.

Se tornava menos espessa, naturalmente. E o som permitia meditar e observar a metáfora se aproximar, do núcleo. Removia carinhosa e despretensiosamente a barreira frágil que nos protege. Esse acesso fácil e o encolhimento de frio, ou um saborear desigual das infinitas possibilidades. Consumir é acabar com o que representa, observar é tornar inútil.


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