quarta-feira, agosto 09, 2006

O Vôo do Pássaro Rosa

A surpresa ao vê-la certamente dificultou as trivialidades. Como perguntar "tudo bem?" se o desejo era que existisse apenas o silêncio e a continuação daquela troca de sorrisos e olhares. Qualquer coisa que eu dissesse interromperia o momento e disso fui vítima, sem poder evitar.

Pois somos, inexoravelmente, passageiros de nossos segundos impulsos, já que censuramos com veemência aqueles primeiros. Ainda sim, minha mão, leve, tocou seu rosto e um pouco de seu pescoço do lado direito, enquanto nossas faces se tocavam no lado oposto.
Horas depois, do brincar de uma colher por sobre a xícara de chá, realizei o que os primeiros impulsos quiseram dizer:
"Era a última vez a vê-la. Você tinha idéia disso?"

Agora, daqueles impulsos primeiros, lembro-me somente dela tocando os próprios lábios, pasma, e de um fio de lágrimas escorrendo enquanto eu me afastava. Ela sabia que seria a última vez.


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