terça-feira, fevereiro 22, 2005

Ressaca

Alheia a qualquer tipo de efeito causado pelo excesso de álcool. Talvez embriagado por suas cansativas e antigas constatações. Uma intoxicação pela forma triste que leva a vida. Sim, a melancolia tornou-se algo fisiológico, assim como todas aquelas sensações de incapacidade. Solidão.
No fim de sua breve vida, pediu ao doutor algum remédio. Qual não fora negado, mas deveria ser administrado por um especialista. O ocorrido posteriormente foi algo mais bizarro ainda. O experto tomou a administração medicamentosa mais como vaidade do que qualquer outro juramento que fizera na academia.
Do orgulho do dito fez-se o pragmático tratamento, que não reverberou solução alguma ao caso.
Desse meio tão escuso por alguma reputação média, o paciente largou o tratamento para tentar resolver sua situação, o que poderia ser grande feito - e a única solução, quem sabe. De qualquer forma, não poderia ficar parado sendo marionete de profissional egoísta. Saiu pela porta da frente, vestido de médico, avental e estetoscópio no pescoço.
Mas, mesmo assim todo de branco, era diferente daqueles médicos que tentaram tratá-lo. Ele sorria e cumprimentava todos, seja com um gesto ou o menor aceno de cabeça. Não fazia de seu uniforme branco a grande estupidez e arrogância tão vista nos dias de hoje e naqueles de outrora. Não, não era falso nesses gestos, realmente os sentia.
Chamou um táxi, e foi-se.


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