segunda-feira, novembro 15, 2004

Ó mar, quanto do teu sal
São lágrimas d'ódio desse mundo infernal!


Baile de Máscaras

Recebera o convite pela manhã, logo cedo. Parecia exclusivo: papel, escrito e dizeres muito refinados. Descrevia hora e local para um baile de máscaras. Embasbacado com tal convite - aquela manhã oferecia tão-somente o cinza chocho, marasmo tão trívio naqueles dias de outubro - e apressou-se em terminar o desjejum pragmático. Teria que pensar em qual carapaça se esconderia.
Eram modelos de formas e cores infinitas, fanstasias que saciavam vidas de vasta, mas também as de fútil imaginação. O céu na terra, uma paraíso para o então recém retirado do poço: Sr. K. De nada adintaria vesti-la se não a incorporasse de fato. Pôs-se então a meditar qual pessoa gostaria de ser ou, ao menos, que tipo de pessoa o faria interatuar melhor com esse mundo que odiava tanto. Ainda sim não era bem dessa forma que refletia, tentava, como fim, anular suas diferenças perante todos aqueles que viu pisar em seus pés, ou mesmo aqueles que um dia bateram palmas num de seus dicursos filosóficos. Queria ser um desses inócuos que estavam, atualmente, com as pessoas que desejava. Idiota, mas sábio.
Começou a viabilizar sua nova identidade com as perguntas existenciais que havia feito anteriormente, mas agora teriam respostas. Outras respostas.

Quem sou eu: Mais um desses que se encontra em meio à multidão, estuda e trabalha.
Disse logo em seguida:
- Muito Filosófico.
E refletiu por sobre os punhos cerrados:
- Sou uma pessoa normal. É isso!

Romantismo: Perda de tempo. Vou logo pra onde interessa.

Voltou a ter com o espelho:
- Acho que isso já me é suficiente. Sim, é pouco, mas acho que...está exagerado.
Disse cessando o ímpeto das descobertas.
- Talvez não seja exatamente isso.
Voltou às idéias.

Esfregava polegar-indicador em sua sobrancelhas e nada tinha como resposta. Mas ainda sim, novas idéias.

Se perguntasse quem era, responderia que não havia pensado muito no assunto e não tinha opinião formada. E perguntaria ao interlocutor a versão dele sobre isso.
Afinal, soava mais natural, e mais comum também.

E, sobre romances e o amor, não seria radical. Diria achar que ama-se deveras somente uma pessoa, uma vez na vida. E na ausência desse, viveria a vida como ela viesse. Deveria aproveitar, pois é curta. Estava assim resolvido o último percalço.

Estava agora um pouco mais satisfeito, pois pensava como se tivesse anos a menos. Alvorada de anular quem era hoje. Jogar fora os três sofríveis anos anteriores. E o melhor de tudo, o desenlace para com as premissas da semana passada, e todas as noites mal dormidas que, como início, jamais teria um fim.
Pedras à parte, estava pronto um começo.
Quem sabe um fim.
Quem sabe uma ida,
Sem volta.



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