sexta-feira, agosto 13, 2004

Conversa

Estavam num balcão de bar -disse bar, não boteco. Quando da primeira rodada de chopp, os dois começaram a conversar:

- Viu que moça fantástica?
- Parece bem interessante, ela tem um charme... um 'não-sei-o-quê' bem distinto.
- Eu vou lá...

Nesse instante, o último foi se levantando e interrompido pelo outro:

- Horácio, espere... mas o que dirá a ela?
- Alfredo, você tem alguma dúvida das minhas capacidades?
- Não, não tenho. Mas, olhe bem. As pessoas mostram muitas coisas das quais deveríamos ser observadores integrais. As pessoas felizes, tristes, curiosas... O mundo é lindo...
- Preciso conhecê-la, não nesses moldes, mas noutros nos quais me interesso. De que adianta supor tudo isso? Quero saber das coisas.

Gesticulou de forma ligeiramente exaltada, de certo deixou Alfredo sem graça. Não percebendo, continuou:

- Você precisa largar essa sua mania de achar que nossos olhos sentem todas as coisas, temos curiosidade. Me diga, sr.sábio, existe algo mais profundo do que o ato de conhecer o outro?
- Mas...já estivemos em situação parecida, sempre conseguimos contorná-la. Lembre-se daquela vez que estava quase cometendo um erro, e insisti para que respirasse um pouco mais fundo, sempre acaba bem. Nessa mesma vez, o senhor teve a oportunidade de falar-lhe com mais calma.
- Aquilo foi uma vez, e tenho minhas dúvidas se aconteceria por livre e espontânea vontade.
- Vai acontecer sim, com certeza.
- A única certeza que eu tenho é que estou no lugar errado.
- Nisso, concordo contigo.

Horácio continuou sentindo suas têmporas latejando não se conteve.

- Quero que você exploda. Essa sua necessidade de moderar todas minhas idéias e impulsos...! Cansa-me. Eu quero vê-lo mais velho, contando um monte de mentiras para os mais novos. Se não me impedisse, mostraria as verdades.
- Quem precisa desse tipo de verdade, a única existente é a implacável racionalidade do nosso pensar.
- Nosso? Como você se atreve? EU preciso e EU vou atrás.
- Somente se você me levar para onde for.
- Estamos acorrentados, você é o maior peso que qualquer um poderia, um dia, na vida, carregar. Por mais que eu tente qualquer coisa, sempre esse peso morto a ser carregado.
- Eu já vi tudo o que eu tinha que ver e, por isso, largo qualquer confusão p'rá trás e vou-me embora...

Interrompendo, com enorme satisfação, Alfredo insistiu:

- O senhor sempre toma boas decisões. Irrefutavelmente, tenho de concordar, que é a melhor coisa a se fazer. Vou contigo.

E assim, Lucas voltou para casa.


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