sexta-feira, fevereiro 14, 2003

IV

Não sei. Falta-me algo.
Meu colar! Devia eu estar fora de mim e não ter percebido que na entrada desde inferno retiraram meus pertences.
Sinto falta dele, o equílíbrio do universo preenchia o vazio que sinto em meu peito. Se eu ao menos soubesse rezas ou algo do tipo...
Lembro-me vagamente de algumas coisas, vejo como hoje trechos da história francesa, joana D'arc pedia insistentemente por uma confissão. A qualquer preço a queria e faria. Mas não entendo o significado que essa teria, não tenho em mãos qualquer ensinamento que me leve a compreender a magnitude disso. Os olhos cheios de lágrimas se confundiam com a admiração por encontrar algo superior, tal qual a iluminação plena acompanhada d'uma compreensão das tarefa e caminho a serem seguidos. Acredito para ela não ter havido momento maior que essa tal de confissão.
Eu queria entender o porquê de o meu vizinho de cárcere seguir o rito de ajoelhar-se para o sol todo o dia de manhã e proferir palavras estranhas. É rito, talvez se explique por si só.
São belas sim. Mui belas. Pena ele não mais saber o que diz, palavras tão difíceis, fluidas sem o pesado tom que as deveria conter.
Se perdem o significado, o rito de nada serve. Caso ainda haja poder nas palavras que eu proferir, que eu o faça com louvor, calma, atenção e sabedoria.


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