quarta-feira, dezembro 18, 2002

I.

Por mais quantas vezes hei de escrever um fim cercado de glórias, digressões e elogios? Parece vangloriar falsamente o possível defunto. Escrevo, então, quantos forem necessários para chegar no real.

Ao acordar encontrei-me no cárcere, ou melhor, vi-me - aquele, definitivamente, não era eu.
Nem homícidio, nem incitação à revolta. Não sei o que fiz. Batia os ossos da mão na grade e não obtinha respostas, e ao perguntar aos uniformes sobre os motivos de minha estada naquele lugar desfaziam-se, vista ser por soar irônica e rotineira. Não era irônica. Não me lembro de ter errado em nada.
Os dias nasciam e se repartiam em quatro pedaços ou mais, o sol os iluminava. Na verdade as partes eram o sol que não pôde ser inteiro ao atravessar as grades. Se o sol que detém a vida fraquejou ao entrar naquele mundo, o que dizer de mim, que não me sou, nem aqui nem lá?


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