quinta-feira, novembro 16, 2006

A Brisa e a Cortina

Estava deitado no sofá.
A brisa fresca dessas noites incomodava a cortina, que cedia aos movimentos e tentava segui-los. Sabia que contrariá-los era esforço inútil e tempo perdido por tempo perdido, preferia usar a experiência de seus antepassados e agiria da forma mais conveniente.

Para ambos, claro. O vento não queria adversários e, mais cedo ou mais tarde, ele voltaria e tentaria a mesma coisa. Não era a primeira vez e a história ajudou a amiga cortina a evitar atritos desnecessários. A questão fundamental cortinesca era o quanto precisaria fingir não ser incomodada pela brisa, mesmo sabendo em seu íntimo que essa não era a intenção dela, embora continuasse fazendo mesmo assim.

Fazia parte da essência da brisa. Historicamente era isso o que seus antepassados faziam e nunca houve acordo ou estudo que mostrasse o quão pertinentes eram os sentimentos da cortina. Certamente pouco importava.

A cortina poderia começar a gostar dos estímulos e até se tornar dependente dessa situação. A intermitência é a qualidade mais interessante de fatos desagradáveis, lembrando-nos freqüentemente das verdades que gostaríamos que não existissem. Mas a cortina pensava em outra coisa... quando aquilo iria parar?

O impasse poderia ser resolvido fechando a janela?

A brisa cedeu aos meus pensamentos. Dormi.


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