quarta-feira, dezembro 29, 2004

A Pena sobre a mesa

A pena sobre o suporte é sempre um convite. As folhas já alinhadas, uma tentação. Nesse misto de aceitar o convite e ceder aos próprios desejos, olha para o quadro pouco distante da mesa e imagina: Qual seria o destinatário?
Os primeiros traços parecem ser tradicionalmente impessoais, embora traga uma carga pessoal quase exagerada. Entre um e outro mergulho da pena na tinta, parece esclarecer quem poderia receber tal afloramento.
Coisas por resolver, sempre. Ao menos pela parte do remetente. Por ser assunto inédito, a parte do destinatário sequer poderia imaginar tal situação. Sorri quando do término, levanta-a da mesa e admira a própria criação. Leveza digna de nobres, delicadeza, concisão sem perder a clareza. Parla!
Indaga-se como fazer para entregá-la e confia no próprio destino, com certeza haverá uma janela e somente ela permitirá o tal envio. Enquanto isso, dobra a folha em três partes, tendo certeza da unicidade da forma de dobradura. No envelope, lacra com um brasão familiar. Novo problema: Como vai entregar?
Antes que qualquer tiro saia pela culatra, é necessário ter mirado e pressionado o gatilho. Sinais como ansiedade e hesitação devem ser plenamente evitados.
Problema maior daquele ato é quando nada ocorre, mesmo tendo certeza da bala na agulha e o gatilho ter sido pressionado. Questiona-se o meio utilizado, mas tem certeza de ter sido entregue, basta que a pessoa estenda as mãos. Talvez um silenciador tinha sido utilizado, enfim.
O grande problema de se expor é não ter resposta.
A dificuldade de falar alto é de não ter quem ouça.
As cartas se perdem.


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