sexta-feira, dezembro 15, 2006

Rascunho de 24 de dezembro de 2004 - 1h31 da manhã (sem alterações Inédito)

"Guirlandas natalinas com velas. Sim, exato. Três velas longas, de modo que não ficarei sozinho enquanto escrevo. Acendo uma a uma, elas tremulam pela passagem do vento, mas se sustentam. Elas confiam em meu propósito."


Corriam as luzes da cidade sobre as gotas de chuva que insistiam em cair.

Temperamento diferente dos dias próximos ao natal. Estranha as pessoas que costumam sentir-se mais quentes, mais unidas, mesmo que distantes. As memórias dos dias sempre correm de forma que jamais se possa esquecer d'algum momento. Uma saudade tão boa de se sentir. Nos olhos das pessoas que pela noite insistem em passear vê-se tal sensação.

Por sobre as xícaras de chá das pessoas, uma conversa sem pé nem cabeça. Sorriem merecidamente as inúmeras conquistas. Sejam estas boas ou ruins. O que é ruim disso tudo? Diriam elas que nada.

Santa Claus talvez apareça com sua barba bem vivida, seu sorriso boníssimo. Adultos com olhos cheios de brilho observam crianças a se admirarem com o bom velhinho. Não se entra em questão quem possui o semblante mais feliz. A nossa [e a deles] felicidade está no que vêem. Costumam chamar de espírito natalino.


sexta-feira, novembro 24, 2006

Nº 400

Neste post de número 400, homenagem ao mestre... Resume tudo.

"Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas."


Qual pretende ser?


quinta-feira, novembro 16, 2006

A Brisa e a Cortina

Estava deitado no sofá.
A brisa fresca dessas noites incomodava a cortina, que cedia aos movimentos e tentava segui-los. Sabia que contrariá-los era esforço inútil e tempo perdido por tempo perdido, preferia usar a experiência de seus antepassados e agiria da forma mais conveniente.

Para ambos, claro. O vento não queria adversários e, mais cedo ou mais tarde, ele voltaria e tentaria a mesma coisa. Não era a primeira vez e a história ajudou a amiga cortina a evitar atritos desnecessários. A questão fundamental cortinesca era o quanto precisaria fingir não ser incomodada pela brisa, mesmo sabendo em seu íntimo que essa não era a intenção dela, embora continuasse fazendo mesmo assim.

Fazia parte da essência da brisa. Historicamente era isso o que seus antepassados faziam e nunca houve acordo ou estudo que mostrasse o quão pertinentes eram os sentimentos da cortina. Certamente pouco importava.

A cortina poderia começar a gostar dos estímulos e até se tornar dependente dessa situação. A intermitência é a qualidade mais interessante de fatos desagradáveis, lembrando-nos freqüentemente das verdades que gostaríamos que não existissem. Mas a cortina pensava em outra coisa... quando aquilo iria parar?

O impasse poderia ser resolvido fechando a janela?

A brisa cedeu aos meus pensamentos. Dormi.


terça-feira, novembro 07, 2006

Vi

Hoje eu vi estrelas. Não que eu quisesse, embora eu agora queira, mas sim porque elas estavam lá.

Apareceram depois de um fenômeno mágico, causado por uma sucessão de desgraças de beleza ímpar. Um desfecho tosco para um reinado de campos de verdess férteis e de uma senzala bárbara.

Ainda sobre o reino, deveria comentar sobre a sala de tortura que sempre teve as portas abertas e que, mesmo fechadas, deixava seu conteúdo iluminar a mente sombria de humildes servos, uma brisa de 'risos' ecoados, mais hábil e culta que o conteúdo da caixa de bombons de marca "Pandora"... mas acho que falar disso seria um enorme desperdício.

Veneno por veneno, direto ou não, prefiro os de longa duração, que acorrenta sem ter antídoto ou salvação que valha. Dos remédios destrutivos, é refém de si mesmo, com o julgo próximo por encargo do tempo.

E continuei a ver estrelas, não sabendo se queria ou não, mesmo de olhos fechados.


quinta-feira, outubro 26, 2006

PQP

Ponte que partiu. O que diabos aconteceu por aqui?
Trovoadas, maremoto e mais trovões.
Chuva bemmm forte.

Vento, forte também.
Sol de rachar no dia seguinte.
Meu guarda-chuva quebrou-se.

Meu carro tem uma mistura santificada:
Poeira, pólem e folhas e flores coloridas.
Internamente, pó de goiás.

Afinal, qual é o seu problema?


terça-feira, outubro 17, 2006

Ensaio

É possível que eu tenha pensado em algo diferente do que eu já...
Hmmm...
Cansei de apagar as infinitas letras que já escrevi antes destas.
Olho para essa tela esperando que ela se escreva há 30 minutos...Ela não se escreve.

Me sugere comentar os episódios invisíveis, os ofuscantes, os monocolores... Quer saber? Não consigo... Parece tudo tão confuso, distante ao mesmo tempo que vejo como se tivesse ocorrido há pouco, passível de correção de uma intervenção na hora que eu bem quiser.. o roteiro de um filme.

Por todos os lugares que ando, quando de uma xícara caféica ou droga qualquer, há sempre essa pedra... silenciosa esperando que eu comece a falar-lhe.

Por que deveria?


segunda-feira, setembro 18, 2006

Outros Sonhos - Chico Buarque

Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
Sonhei que ela corava quando me via.

(...)
Sonhei que o fogo gelou
Sonhei que a neve fervia
E por sonhar o impossível, ai
Sonhei que tu me querias...


Madrugada

Senti frio nos pés. Talvez a coberta se enrolara quando de algum pesadelo ou coisa qualquer. Achei que eu queria ir ao banheiro.
Abri a porta, acendi a luz. Olhei furtivamente para meu reflexo, fechei a porta nas minhas costas. O chão estava bem frio.

Levantei a tampa do vaso. Acertei o alvo com habilidade.
Dei descarga.
Fechei a tampa.
Lavei as mãos com água fria.
Olhei novamente o espelho.
Apaguei a luz.

Deixei a porta aberta.

Meus pés estavam cobertos novamente.
Voltei a dormir.


sábado, agosto 26, 2006

Das Águas

A chuva julgou suja minha janela e se atirou, ferozmente, fim a limpá-la.

Irritei-me, justo, pois o impulso daquela danificou seriamente a minha tentativa de dormir.

Oras, se a certeza faz com que dormamos, ações tiram-nos o sonho e o sono.

Desistido, fiquei a questionar o que minhas águas cochichavam...

O que estaria sujo, afinal...

A janela ou o que eu via?


domingo, agosto 20, 2006

Mundo, vasto mundo,
Se eu me chamasse Raimundo:

1) Meu nome começaria com 'R';

2) Poderiam me chamar de "Prof. Rai..";

3) Não teria o meu nome atual;

4) Teria novos documentos;

5)...

356) Acho que não mudaria nada.


sábado, agosto 12, 2006

Rocinante





"Acalme-se. Será uma longa jornada. Temos muito o que honrar."


quarta-feira, agosto 09, 2006

O Vôo do Pássaro Rosa

A surpresa ao vê-la certamente dificultou as trivialidades. Como perguntar "tudo bem?" se o desejo era que existisse apenas o silêncio e a continuação daquela troca de sorrisos e olhares. Qualquer coisa que eu dissesse interromperia o momento e disso fui vítima, sem poder evitar.

Pois somos, inexoravelmente, passageiros de nossos segundos impulsos, já que censuramos com veemência aqueles primeiros. Ainda sim, minha mão, leve, tocou seu rosto e um pouco de seu pescoço do lado direito, enquanto nossas faces se tocavam no lado oposto.
Horas depois, do brincar de uma colher por sobre a xícara de chá, realizei o que os primeiros impulsos quiseram dizer:
"Era a última vez a vê-la. Você tinha idéia disso?"

Agora, daqueles impulsos primeiros, lembro-me somente dela tocando os próprios lábios, pasma, e de um fio de lágrimas escorrendo enquanto eu me afastava. Ela sabia que seria a última vez.


domingo, agosto 06, 2006

Moça da Voz

Para ouvir a moça da voz é preciso esperar pelo menos uns 35s.
Ela diz assim:
- Deixe seu recado na caixa postal...

Um pouco ríspida, é verdade, mas, de certo, sincera. Apaixonante.


segunda-feira, julho 10, 2006

Sobre tudo, sobretudo

Fui temente ao Desconcerto do Mundo assim como um fiel se diz temente à Deus. Pois, antes de tudo, sente medo das possíveis ações, depois acredita que se aderir às idéias e segui-las, estará longe dos males. Escrevo com letra maiúscula para empreender o significado imponente e até mesmo a grandiosidade do conceito.

Tive medo e temi, segui a risca o Desconcerto. Intuição suspirava aos meus ouvidos quão frágil poderia se tornar as bases de alguém temente à tal filosofia, quando desse com a realidade contrária dos fatos. Pra quê intuição, se todos os caminhos racionais levam a certeza de não contrariar o conforto de idéias? Do dormir em paz à noite?

Ah... o Desconcerto. A certeza de que o mais fiel pecará, não por vontade própria mas por descuido e ingenuidade.

Esperei na varanda de minha casa, sentado na cadeira confortável de todas as provas matemáticas e teoremas intuitivos, da vivência tranqüila das certezas imaginadas e nunca vistas.

Pois violaram a minha idéia e ideal, o Desconcerto. Todo ele, contra mim e tudo o que mais de mim fizesse parecer irreal. Questionou-me tal:

- Façamos o jogo sujo e veremos quem ganha?

Não dormi à noite.


sexta-feira, junho 09, 2006

Re-searching

I want more than just reasons. Reasons are nice explanation for rational bastards. Everything is not about reason, it's about feelings. Sensations used to fill you up a lot of doubts, not reasons.

Nothing but a funny less hiding game. Showing you painful memories, regrets from unfinished affairs or even voices whispering that you’ll fail. Prohibiting your satisfaction, covering from you the most desired answers. Existential, more than that, a search of meaning or a sentimental reason for still living. That, probably, you won't be able to find.

You cannot run from it. Can’t just leave it behind or even dig it profoundly. What ever you think you can be able to do – even forget -, you’ll always hear a silent knock in your mind, calling for recollect, and it will drown you into deeply dark waters.

You don’t breathe anymore.

But you’re free. In a calm relaxing silence.
In the dark of night. So you can cry, talk and sleep.
For ever.


segunda-feira, maio 22, 2006

Ao Psiquiatra

- Parece ser uma nova fase de sua vida. - Concluiu o Doutor.

- Sim, mas o que isso tem a ver com o meu problema? - Meio ríspido, respondi.

- Ah... o seu problema. Tem uma notícia boa e uma ruim a respeito dele...
- A ruim é que você nunca conheceu ninguém além de você mesmo e o que conhece de você é quase nada. Suas projeções nada mais fizeram do que iludir suas relações durante esse tempo todo. Tudo o que você acha que conheceu é apenas imagem, fruto de tudo aquilo que você queria ver. Você sonhou de olhos abertos até hoje.


- Excelente... - Disse eu sarcástico. Me recompondo, perguntei sobre o que seria a notícia boa.

- A boa é que você nunca precisou de ninguém para escrever seus personagens. E assim sendo você nunca precisará. Tudo o que você escreve é reflexo da sua vida fictícia e isso é excelente para escritores...


sábado, maio 20, 2006

Fitas Cassetes

Tinha a certeza dos fracos de que tudo daria certo. Era o que mais tinha ouvido naqueles últimos dias, daquelas fitas ganhas em um curso para melhorar a auto-estima, elas repetiam milhares de vezes. Habitou o toca-fitas de seu carro, do estéreo que podia ser ouvido em qualquer cômodo de sua casa ou no imaginário, caso estivesse caminhando pela rua.

Aquilo certamente o faria ser melhor, o faria superar seus enormes problemas, incluindo todos aqueles fatidicamente existenciais. A promessa era parecida com curas evangélicas. Era...perfeito.

Tratava sempre da capacidade de solução dos problemas enquanto se pensa positivo, parecia irônico.

Mas, qual a distância entre a capacidade de racionalizar e convencer com idéias, e a confiança vazia causada por martelos sonoros?
Eu tenho em mente os desejos e atitudes, com toda a confiança do mundo, mas não seria aquela fita que faria você concordar comigo. Você não ouviu a fita.

Você sempre estraga todos os meus prazeres, você é a causa do meu fracasso. Pessoal ou não, carrega demasiadamente as dúvidas ao olhá-lo.

As fitas sempre funcionam, funcionarão sempre. O problema parece ser sempre com o espelho... Mas quem é você? Que me olha angustiado, de barba por fazer e se questiona o mesmo... "Mas Quem é você? Que me olha angustiado, de barba..."


quarta-feira, maio 17, 2006

Me dê uma razão. Do tipo lógica, não esperancista, não futurística.
Do tipo que serve para hoje. E servirá para amanhã.
Que seja própria e real.
E que eu ouça.


terça-feira, maio 09, 2006

Eu deveria me sentir com vontade de questionar.
Pois, certamente, é isso o que se espera de alguém que não tem vontade.

Certa vez disseram "Ser ou não ser? Eis a questão.". Devo dizer que isso é belo, porém parte do pressuposto que se sente angústia e tem-se forças, ainda, para formular perguntas.

Mais profundo que isso, deveria ser: "Ter vontade de questionar! Eis a necessidade".

Nada pior do que se questionar de o porquê de não se ter vontade de se questionar.


sexta-feira, maio 05, 2006


Ao Telefone

- ... era algo substancialmente triste, uma sensação de incompletude difícil de ser tratada, descrita ou sequer comentada...

Enquanto falava, balançava a mão levemente fechada, olhando para o vazio, como se aquele movimento pudesse trazer o dom da oratória. Proseguiu tocando os dedos no polegar e depois na palma da mão..era inútil. Continuou.

... mas poder absover-se de tal angústia era mágico.

Ela disse:

- Fica meio difícil de entender. Mas imagino como se sente.

- Chega disso. Pára de falar assim. Pára de ser desse jeito. Pára!!!Falar com você ao telefone não faz sentido. Ouço sua doce voz mas me incomodo plenamente de ficar de olhos fechados. A grande virtude de conhecê-la é poder vê-la de perto, admirar cada traço do seu rosto, como seus olhos sorriem quando estão em dúvida. Quando mira o longe, buscando um pouco de si mesma em algum lugar. Si mesma em algum lugar do caminho. Desculpe, mas não posso continuar por telefone... você ou qualquer outra coisa, não existe.

Desligou o telefone e voltou a observar o quadro. Ele tinha razão.
Parecia ensaiado.