segunda-feira, maio 30, 2011

Da estaticidade dos lugares

Não mudei o caminho que faria, ao menos na ida. Imaginar o improvável, duas vezes, seria - simplesmente - excessiva exceção. Corria paralelo aos deveres a dúvida de verificar as mesas daquele lugar. Onde o controle de passar o tempo sobre uma esvoaçante infusão, virara uma correira desconfortável, envergonhada, incrédula. Olhos baixos, uma das mãos estrangulando nervosamente um cachecol, enrolado como atadura a uma ferida na palma.

Entretido com a ironia de um destino já não improvável, perdi o ponto de referência, nem percebendo que não havia corrido fachada alguma em meus olhos.

Há lugares que não existem quando não precisamos deles.

Na volta, fiz outro caminho.


segunda-feira, maio 23, 2011

P&B

Na maioria dos dias não há cores. O mundo é apenas um paraíso de contrastes, de céus difusos e luzes perdidas. O trabalho é separar a mesmice dos cinzas das belas formas, brilhos e leveza dos sorrisos e olhos e cabelos. Ah! As formas femininas!

Noutros me rendo ao que a tintura reflete nas outras pessoas. Como extensão d'um esforço de compreender, fatigado e fascinado pelo despertar da confusão de uma paleta extensa, transformando o mesmo contraste n'algo distinto.

Me quedo a achar cores na interação grandiosa entre cidade e humanidade, no que foi escondido ou passou despercebido, largado pela pressa e descuido. Na proteção de uma sombra cotidiana, a vergonha escondida de permanecer embora não pertença mais ao lugar.

E são mudanças. Como as cores interferem no contraste de um preto-e-branco, afetam a percepção do mundo cinza, trivial. A sensação de frio e calor são apenas temperaturas ajustáveis, controláveis.

Assim, o caminhar pelas mesmas ruas fica diferente.
Um mundo paralelo de cores na escala de contraste.
E as lentes enxergam um mundo novo, sob controle.


terça-feira, maio 17, 2011

Encare a Chuva

Encare a chuva, pois!
Não com a bravura repentina,
Dos novos covardes heróis,
Mas por que lhe ensina.

Encare a chuva, ora!
Se foge à garoa dura e fria,
Perde o fôlego e valentia,
É mais uma chance, fora.

Cair da chuva irá continuar,
Até que possa perceber,
Que deve insistente encarar,
Sem nunca desvanecer.


sábado, maio 07, 2011

Duas Margens

De um rio pequeno. Riacho-córrego, arroio donde a liberdade fora decretada um bom tempo atrás.
Vejo, além do jardim do meu quintal, cujo verde da grama é comparável ao do lado de lá. As suntuosas formas das construções, da esplêndida vegetação cuidada, das roupas bem vestidas em mulheres de salto alto, cabelos brilhantes ao vento. A respiração ofegante e olhar centrado.

Não me recordo de observar o meu redor quando estive do outro lado. Mas, devo ter feito. Afinal, o olhar ficava perdido evitando a margem oposta, restando um borrão das cores das quais se esvaem, hoje. Se estive desse lado antes? Sim.

É certo que existem mais significados do que naquela época. A crença de que há um rio separando ambos estados é forçada; ainda que haja água, há pontes. Como os filmes retratam as distorções poéticas da vida cotidiana com maestria, julgo a vida ausentar os devaneios por causa deles almejado.

Não se engane. Fora dito diversas vezes para se tornar a nova realidade, um fracasso - ato falho. Existe a possibilidade de estórias reais. Como a já vivida e relatada de forma poética, quase surreal.
Existirá em qualquer das margens.

Cedo ou tarde, serão uma coisa só.


terça-feira, abril 05, 2011

Na Nuvem

O abrir de janelas revelou nuvem. Paisagem de vista cega-branca, inebriante aos imaginativos olhos. Verdes, de difícil compreensão, de ordem dos jardins bagunçados, do emaranhado das folhas de retorcidas árvores. Apaixonadas pelo simples fato de voltarem a si mesmas, periodicamente.

Certo deveria ter estarrecido, não que fosse a intenção, mas o resultado simples de incompreensão e respeitosa distância. Observador afastado, veria apenas o movimento, reativo ao vento, tão forte na última semana.

Consciência de que há honestidade na razão dos atos, ainda que incrédulos por violar o próprio pedido. Invariavelmente, sincero.

Não influirá, pode chover ou fazer sol.
Não mais.


quarta-feira, março 30, 2011

Retiro

Do excesso de ocorrências e sensações difusas, pausa.

Para respirar e afinar o discurso que ecoa, se explicando, torturando justificativas da ausência nos últimos dias. Razões que quase transbordam mas, por um fio, ainda permanecem sob um frágil controle.

E se servir, o retiro, apenas para confundir, ao invés de reduzir o efeito das má interpretações? Seja por intensificar tudo o que penaliza o lapso de sentir-se apto ou trazer temerosas inquirições e mirabolantes suposições ao invés de respostas! Ah, condutas ou falta de escrúpulos!

E se a verdade não for mais secreta? E se a plateia aguarda apenas um único diálogo para continuar a cena? Distanciar-se neutralizaria a confusão de papéis, sendo respirar fundo, a dica para [apenas] continuar?

Mas, as reviravoltas virarão história... Da correta decisão de seguir com os preceitos.

Cabe apenas costurar o antes com o depois.

E quando tudo o mais não importar,
O tempo resolverá o restante,
Confirmando nossos papéis.


quinta-feira, março 24, 2011

Desse Silêncio

Fato persistente esse silêncio!

Das e nas vozes que ecoam insistentemente, que arrastam para longe o impulso de romper com a razão. De dizer as inúmeras palavras criadas recentemente. Não aquelas mantidas da admiração de amores escritos, copiadas de vidas de outrem, ou imaginadas de personagens criativos. Novas! Sinceras! Sem máscaras.

Ouvinte algum saberia diferenciar, porquanto julga inexistente o belo real. Pretere viver algo parcialmente conhecido a se arriscar em mil novidades. Ainda que as peças mudem conforme o jogo, e não conhece o quanto crê.
Por razão fica, insistentemente, o silenciar.

Porém, evita a má e qualquer interpretação.
Pois a vida não é conservativa. E mudar o que foi interpretado erroneamente é desgaste em excesso. É tolice. É perder a desejada sintonia imediata, a completude! É o fim antes do começo... Ah!

Se as palavras não serão ouvidas ou lidas, contemple o silêncio, pois.
E contemple o silêncio.
De ambos.
Sem imaginar, sem supor.

Apenas o silêncio.


segunda-feira, março 21, 2011

Condução

Não nos dizem o que nos incomoda. Ou o que julgamos que precisaríamos. Que transparece na irritação diária e não tem clara razão.

A imagem pronta é a utilizada, típica, construída pelas nossas vivências e faria pouco sentido informar a alguém que, suas características, podem ser mudadas.

Compreendo.

Talvez a má interpretação do aceite completo. Ou que estamos rumo à perfeição, ao viver dia após dia, nas vírgulas construídas de análises entre quatro paredes.

Revelações demoram para serem aceitas. Pois é preciso fechar os inúmeros pontos dantes não compreendidos. Resta muito ainda.


- Moço!? Desço no anterior... Obrigado.


sábado, março 05, 2011

Interroga

Apreciaram minha inspiração onde pouco fui capaz de criar ou imaginar tudo o que era usual. Entre linhas nas quais os personagens de hoje eram apenas os mesmos protagonistas de outrora, com suas vivências e lembranças um tanto difusas. Que sofreram algumas reviravoltas, indas e vindas, mas sendo sempre dois, em distintos caminhos. De cacos juntados para criarem as belas distintas formas de ambos. Ainda que velada a parte que deseja comum: arriscada e incerta.

O tempo apagaria falsas grandes afinidades. Como o excesso de afetações poéticas possuem curta duração e se esvaem quando se perde as sensações, tempo depois de esquecer a fonte e motivo.

As reais retornam num estalo, com a enxurrada de memórias e poesia. O momento de êxtase inicial dá lugar à ausência das criações de outrora. Encanta mais, surpreendemente. Atos se dissociam da escrita e fala, ainda.

Há um certo controle, cuja explicação não convence.


quinta-feira, fevereiro 17, 2011

Afinidade

Voltava à casa pela belíssima, a avenida de minha terra. Donde muitos maquiados comemoravam um grande feito, iluminados de nova forma e cor especial. É de se prezar a falta de estima posta na maquiagem mas, aparentemente, não parecia relevante. Afinal, pode ser feito o que se quiser de alguém que conquista os objetivos, com a conivência plena. Talvez fosse esse o mote.

Mas não era essa a atração principal. Encolhida entre os prédios, num dos poucos momentos em estava farta, cheia de toda a existência reprimida. (Deveria ser dito que a periodicidade desse estado é bastante característica, mas não gosta de ser lembrada disso). Oras, era a Lua.

A representante confidente, tão compreensiva! Sabe que vez ou outra precisa observar alguns aflitos, ser solidária, ouvir, admirar e deixar ser admirada. Pois o que é visto é reflexo interno. Se amores, será ela a razão perfeita para escrever o brilho radiante de olhos tão formosos e seu destaque e proximidade dentre tantos outros astros. Poderia ser solitária também, como se vê.

Hoje possui afinidade, simplesmente. Sendo essa a característica mais importante. Posto que é compreensiva, caminha no deleite de todas as lindas manifestações antagônicas e explosivas, lado-a-lado.

Sentindo-se parte e todo.
Afim.


segunda-feira, fevereiro 14, 2011

De Sabores

Haveria de ser moderado. Sabores pronunciados e intensos poderiam apenas ocorrer com a anuência do suave paladar receptivo que, inicialmente, divide águas, embora tenda quase sempre ao mesmo lado.
O que deveria ocorrer para que se permitisse? Que passado carrega tão pesado fardo que não possa ser compreendido, estudado, relevado ou superado! Ainda que houvesse alguma razão que contornasse tais enormes dissabores, que se permitisse alguma outra forma não usual, alguma regra maior que torne claro e necessário. Todo um simples processo!

Talvez não queria entender. Que seja apenas um grande erro atribuir tais possibilidades a algo que não possui lógica para existir, que mais impressiona pela incredulidade que com a natureza dos fatos e das sensações tão perplexas e surreais.

Na distância ou silêncio.
Ater-se ao que é permitido. E se permitir a isso, somente.


sábado, fevereiro 05, 2011

The Moon

Partly cloudy skies may cause blue on average people. Unless a fuzzy light from a Moon can be seen. In fact, when the Moon appears, nothing else matters. Her light makes everything so 'ordinary'...

We may feel comfortable and sometimes pleased with all other stars, when a clear night is gifted. Within, deep inside, we know that millions stars' small light dance is a preamble. From time to time, what we really need, want and wait for is the Moonlight.

Sincerely.


domingo, janeiro 30, 2011

O que há, afinal?

Se em todas oscilações, de maré e ventos, resta sempre o líquido de toda aquela bagunça de não se saber onde se fica, ou se está? E demora até instaurar a razão, para saber o que realmente aconteceu em tanto tempo. Enfim, o que é fato, dentre tantos pesos exagerados.

É concentrar-se em tudo o que foi déficit, ausente à vida inteira. De uma forma leve e cega de fugir de tudo o que já fizera com habilidade. Hoje, com nenhuma razão para acreditar, quando se engana em prol de novas faculdades e tudo o que é moderno. Insistir é aumentar o peso inconsciente e destruir a certeza do que antes era o correto, seguro.

E se perde, perde. Num papel que faz pouco sentido. A meio caminho do que já se quis, a muitos passos do que se julga necessário.

A ausência de relógio ajuda. Menos difícil não ter ideia do que era consumido quando o tempo corria, enquanto sentado em qualquer daqueles lugares.


domingo, janeiro 16, 2011

Da Vida

Cujos personagens não muito conhecem o roteiro, embora seus papéis sejam facilmente compreendidos pelos espectadores. Nessas inúmeras cenas montadas, os atores são os que mais demoram a perceber suas limitações, visto que os críticos se estreitam à ocasião e não vêem produtiva correção à novos espetáculos.

Pois, aqui, nada se repete. Não?

Não há improviso que não esteja escrito! Se fogem ao roteiro e respeitam o espetáculo mas não os papéis, deixam o silêncio d'uma conversa unidirecional, desconfortável, suplicante... Haveria de ser coletivo, recíproco, e sem ensaio!

Seria expor-se ao julgo de estranhos, íntima e profundamente. Ao papel de que se quer fazer parte, do sentir do dever, não o da exigência. Ao que pouco importa o redor e o mundo, mas se deseja não ser dissonante, agradar naturalmente, para fazer parte de algo além de monólogos.

Respeito de críticos? Nunca!


sábado, dezembro 25, 2010

Luz

São tempos de luz. Onde a sombra dos objetos não são mais imaginadas.

Ruas inteiras eram criadas e recriadas por cada um dos passantes. Ao nosso lado, permaneciam pessoas completas, da forma em que as víssemos. E elas até chegavam a fazer parte desses arquétipos, mas era tão difícil saber o momento exato dessa existência! Ah! E quem queria reconhecer tal momento e duvidar de tantos outros bons!

E se foi um lapso de tempo e estava a falar sozinho.

In his mind a voice kept telling a story. Part fictional, part real.
Just too good to be true. So impossible to distinguish whether those moments could be repeated. Lived again and again.


Someone switched the lights on. And those desired shadows weren't capable of being imagined or developed anymore.

Although a silence filled everyone's life and made everyone not as happy as before, that's how things should be from now on.

They are still trying to move on...


segunda-feira, dezembro 20, 2010

Espaço

Conseguiria controlar-se se a visse em manto de estrelas? Ah! Se o rosto mudasse à imagem desejada, sem que os instantes lembrem e evitem o erro de enganar-se. Mas o piscar de olhos é um amanhecer confiante, certo de que não é mais tempo de projeções e que as pessoas originais são autênticas e admiráveis.

Naqueles assuntos quaisquer que irrompem, sempre, um brilho intenso nos belos olhos naturais, onde manter controle é condição a admirá-la eternamente. Na mudança dos temas com o propósito de estender e tapear os ponteiros afoitos, em incansáveis dias e tardes em lugares diversos.

Um pouco mais de qualquer coisa, em todas as mídias, em todos os personagens, em seres vivos ou não, na abstração de declarações que beirem o nonsense. Manter contato, de alguma forma, para diminuir a barreira etérea, que impede o mais aproximar.

Não estaria bom assim?


segunda-feira, dezembro 13, 2010

9

Muitas foram as chuvas que fecharam os olhos, para que permitisse que se abrissem novamente, mais nítidos. Do caos na imprevisibilidade de toda a torrente à paz de ser compreendido, ressonante, ao despencar só e se encontrar acompanhado.

Reflexões que aguardam por horas até mirá-las, compreendê-las e publicá-las - se assim possível for. De muitas personagens que povoaram esses textos, como projeções de íntimos desejos em pessoas do convívio. Muitas mereciam [e merecem] mais, embora a tônica deste espaço tenha sido sempre abstraí-las, nas muitas vezes em que o espelho transfigurava em demasia.

E se houvesse razão para continuar a fluir? Deveria ser a mesma imprevisilibidade dos dias em São Paulo. Da certeza de que o dia seguinte mostra novos caminhos, em diferentes tons, cruzando pessoas de sol e chuva, harmoniosa e humildemente.

Sem acaso.


sábado, novembro 20, 2010

Muda

A verdade muda com o chegar da noite. Da realidade, as últimas razões também se vão. E tudo se esvazia, na velocidade em que se esquece o que pensava. O que em algum ponto do caminho foi referência e marco, inspiração escrita como migalhas de João e Maria, foge com a incerteza da declaração silenciosa e imprecisa.

Que não é compreendida, nem fere a criatura. Não oferece a mão ou sorriso. Não altera o equilíbrio nem age como geniosa-genial. Evita.

Muda.


sexta-feira, novembro 05, 2010

Do Encantar

A única forma de ser interessante é ser, coerentemente, nunca o mesmo. Confundem-se aqueles que reconhecem, por atitudes características, antigos contatos e vivências e julgam "continua o mesmo". Justifico o fato pela existência de um núcleo de código de conduta intrínseco à pessoa, muito embora alguns outros princípios sejam anexados ao longo do tempo, ainda que isso possa parecer um contra-senso.

Seria enfadonho ater-se a um código nato, excluindo toda e qualquer experiência advinda das vivências e ocorridos próximos. Tornar-nos-ia previsíveis e descartáveis, visto que não impressionaria mais.

O segredo está na mudança, do que é visto e de quem vê. De que outra forma poderíamos continuar interessantes às pessoas com as quais convivemos? Ser fonte inesgotável de encantamento... Até para nós mesmos...


Inspirado em Encantamento


quinta-feira, novembro 04, 2010

Dos dias e café

O bom dia vem em goles de café. E companhia. A qualquer hora, afinal nunca é tarde para começarmos um bom dia.

Nem de nos rendermos à verdade de admirar a imprevisibilidade da vida alheia e toda a beleza inerente das conclusões solo. Mais incrível que qualquer criação, ainda que tenha sofrido muito e a influência de próximos se fez necessária e justa.

Afinal, não há iluminação solitária, visto que espalha rapidamente, contagiando os olhos que cerram sorrindo e escancaram a boca em felicidade. Depois a vista acostuma, mas o encanto permanece.

É sentir-se parte do todo, novamente. E saber que todo não fora todo antes disso.