terça-feira, outubro 05, 2004

Um disse:

- Das poucas vezes que senti-me contagiado por algo, vi minhas mãos levemente dormentes e fugidias ao controle insistente. As últimas vezes que esteve presente fora ao ler 'A sombra do Vento'; um conto de Rossini e a escrita de uma carta própria.
Por fim, Bea há de entender que não existe ninguém tão puro no mundo quanto eu. Nem Meta, nem pássaros saberão da real existência a qual me condeno a cada dia. O cientificismo e o romantismo tão escassos noutrem e tão presentes em meu quotidie.
Se por uma vida de testes e conclusões terei de me fazer solitário, assim há de ser.


sexta-feira, outubro 01, 2004

Levantou sua abençoada mão sobre a cabeça de uma manada de descrentes. Em seu discurso inflamado disse que todos os desejos seriam cumpridos, que havia uma força maior que regia tudo e todos. Casamentos, crises financeiras, dificuldades de se conseguir amores. Por fazer parte disso, todos eles receberiam tal benção. Desde o pederasta ao mais imaculado dos seres receberia a graça que mereciam, mais cedo ou mais tarde.
Furor, emoção e muitos olhos fechados, lágrimas escorriam pela esperança de ter o conforto espiritual que todos esperavam. E precisavam. Não viveriam sem.
No clímax do discurso, o orador disse as seguintes palavras:
- Parem de achar que sou eu que crio tudo em vocês, se redimam dos seus erros e acreditem mais em vocês mesmos. Isso tudo o que eu disse só serviu para que vocês me ouvissem!!! Reparem que todos vocês têm problemas e dentro de vocês mesmos estão todas as soluções!!!
Ouvi a voz interior e crede! São vós mesmos e tudo, tudo e tudo.



quarta-feira, setembro 29, 2004

quinta-feira, setembro 16, 2004

(cont.)

Bea,

Diga-me que isso tudo é falso. Naquela tarde você não chegou na praça central na hora que marcamos e, por tanto esperar sua presença, me desfiz em trapos de um eu que nunca tinha descoberto.
Das vezes em que pude me deliciar em uma espera infinita, essa foi a mais prazerosa. Talvez tenha sido pela expectativa de encontrar seu olhar novamente, não ter de esconder os meus ao encontrar os seus, furtivos. O tom cinza dos ceús revelou uma enigmática sensação de conforto.
Na verdade, senti sua presença ao meu lado, o tempo todo.

Novamente, minhas declarações chegaram tarde demais. Não sinto que carregue parte em reciprocidade do apego forte que tenho por você.
Não a culpo e também não faço disso minha nova dor.
Mas, poderia ter sido diferente.
E viveríamos de forma diferente.

Espero que entenda....

Não me deixe sem respostas, é a única coisa que peço.


quarta-feira, setembro 15, 2004

Viu em Bea, um de seus possíveis amores. Aquelas cartas escritas a esmo, passaram a ter destinatário definido. Um caso de amor com a irrealidade.

Procurava nos cantos de seu quarto um refúgio para seu atormentado olhar. E nessa busca incessante, viu as definições dos objetos se perderem na dificuldade de manter-se com tantas lágrimas.

Fez da pena sua voz.

(e continua)


sábado, agosto 28, 2004

Estamos chegando perto das eleições e recordar é viver.

4 de Janeiro de 2003

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras
Onde não deveriam estar.
As plantas que aqui custam,
Custam mais do que lá.

Nossas avenidas não são praias,
Nossas várzeas são esgotos,
Reservas são lotes,
Motes nosso desgoto.


quarta-feira, agosto 25, 2004

Sinto uma vontade, uma fissura quase, de tentar escrever sobre a manipulação das pessoas, a nossa aceptabilidade à todas as coisas.
As lutas de classes, a cega luta de classes. Cega, lê em braille os livros de Marx. A falta de sentido em todas as palavras, e o tão lindo e perfídio 'bom senso' ou 'senso comum' em todos os nossos dizeres e conclusões de mesa de bar.

A falta de conhecimento que nos faz criar coisas tão absurdas dentro de nós mesmos.
Inclusive o erro de estar escrevendo isso dessa forma.


...regia uma orquestra de música eletrônica e ao mesmo tempo encarava a loucura do trânsito paulistano. Eu, observador nato, invadi sua privacidade ao observar pelo seu retrovisor um olhar descomprometido. Não se sentiria à vontade caso percebesse minha presença... Mas quem se importa? O semáforo abriu-se, ela se foi para o Jardim e eu para Pasárgada.


sexta-feira, agosto 13, 2004

Conversa

Estavam num balcão de bar -disse bar, não boteco. Quando da primeira rodada de chopp, os dois começaram a conversar:

- Viu que moça fantástica?
- Parece bem interessante, ela tem um charme... um 'não-sei-o-quê' bem distinto.
- Eu vou lá...

Nesse instante, o último foi se levantando e interrompido pelo outro:

- Horácio, espere... mas o que dirá a ela?
- Alfredo, você tem alguma dúvida das minhas capacidades?
- Não, não tenho. Mas, olhe bem. As pessoas mostram muitas coisas das quais deveríamos ser observadores integrais. As pessoas felizes, tristes, curiosas... O mundo é lindo...
- Preciso conhecê-la, não nesses moldes, mas noutros nos quais me interesso. De que adianta supor tudo isso? Quero saber das coisas.

Gesticulou de forma ligeiramente exaltada, de certo deixou Alfredo sem graça. Não percebendo, continuou:

- Você precisa largar essa sua mania de achar que nossos olhos sentem todas as coisas, temos curiosidade. Me diga, sr.sábio, existe algo mais profundo do que o ato de conhecer o outro?
- Mas...já estivemos em situação parecida, sempre conseguimos contorná-la. Lembre-se daquela vez que estava quase cometendo um erro, e insisti para que respirasse um pouco mais fundo, sempre acaba bem. Nessa mesma vez, o senhor teve a oportunidade de falar-lhe com mais calma.
- Aquilo foi uma vez, e tenho minhas dúvidas se aconteceria por livre e espontânea vontade.
- Vai acontecer sim, com certeza.
- A única certeza que eu tenho é que estou no lugar errado.
- Nisso, concordo contigo.

Horácio continuou sentindo suas têmporas latejando não se conteve.

- Quero que você exploda. Essa sua necessidade de moderar todas minhas idéias e impulsos...! Cansa-me. Eu quero vê-lo mais velho, contando um monte de mentiras para os mais novos. Se não me impedisse, mostraria as verdades.
- Quem precisa desse tipo de verdade, a única existente é a implacável racionalidade do nosso pensar.
- Nosso? Como você se atreve? EU preciso e EU vou atrás.
- Somente se você me levar para onde for.
- Estamos acorrentados, você é o maior peso que qualquer um poderia, um dia, na vida, carregar. Por mais que eu tente qualquer coisa, sempre esse peso morto a ser carregado.
- Eu já vi tudo o que eu tinha que ver e, por isso, largo qualquer confusão p'rá trás e vou-me embora...

Interrompendo, com enorme satisfação, Alfredo insistiu:

- O senhor sempre toma boas decisões. Irrefutavelmente, tenho de concordar, que é a melhor coisa a se fazer. Vou contigo.

E assim, Lucas voltou para casa.


quarta-feira, agosto 11, 2004

Lua Minguante

Destrói o que resta de vitalidade das crescente e cheia. Maldições atordoadas pela lua amarelada e vil. Sequer há graça para ser mostrada quando seria o necessário.
Nem a maior frieza humana consegue controlar-se depois de tamanha confusão.
Agora, lhe pergunto: Ó leitor, faz algum sentido tudo isso?
Antes que queira esboçar reação, pense se não seria melhor ficar em silêncio. Pense se existe alguma forma de organizar as idéias...
Pense...
Pense...


quinta-feira, agosto 05, 2004

Chá

O coador de pano estava sujo com pó de café passado e tinha um resto desse café pronto que jazia há cinco horas na jarra.
Não tive dúvida. Deixei de lado a cafeteira, esquentei água e fiz um chá preto.
Não me arrependo de nada.


segunda-feira, agosto 02, 2004

Outro Dia

As horas passavam rápido, era cerca de seis e meia da noite. Às oito tomava o rumo de casa. Sem muito pestanejar, aceitou, com surpresa, a dispensa unilateral que o chefe lhe concedera.

Rua Jóquei Clube: Sem trânsito.
Av.Juscelino Kubitschek: Igualmente, sem trânsito.
Túneis, Sena Madureira, Vergueiro em obras: Sem trânsito.

Estava distráido demais pra perceber esse tipo de coisa.
Das cinco chaves, no escuro, acertou de primeira.
Abriu a geladeira, a última cerveja lhe sorriu como dádiva.

E-mails trouxeram boas notícias.

Um sorriso distante apareceu em seu rosto, ria alto como que por desabafo ou descrença.

Olhou para seus pés, eles se agitavam.


sábado, julho 31, 2004

Uma moça

Na verdade, mocinha. De olhos levemente arábicos, um pouco puxados e, na mesma leveza, maquiados com delineador. Apaixonante.
Um quê de ingenuidade. E curiosa procurava algo em mim que eu mesmo não pudera encontrar nesses últimos tempos.
Um sorriso, talvez fosse isto que de fato faltasse.
Faltava.


sexta-feira, julho 30, 2004

Visita

Vistei uma casa de bonecas. De porcelana, pano... Enfim, bonecas.
Sentei, conversei.
Sem mais, fui embora.


sábado, julho 24, 2004

Lua Crescente

De dia, triste.
De noite, Feliz.


Era uma vez, Sofia

Abriu a porta ruidosamente, resmungando pela chave empenada na fechadura. Seria a última vez que teria alguma utilidade.
Esses e outros problemas iriam, de certo, para um outro lugar se acompanhados de uma boa dose de bebida. Enquanto se servia de vinho, Sofia pensava em como seu chefe a atormentara nessas últimas semanas. Estas passavam sem que ela se desse conta da cor do sol ou mesmo da ausência desse.
Parecia um rito andar por entre a mobília e, percorrendo os olhos pelos quadros, conseguia organizar parte do caos que se fazia em sua cabeça. Sentou-se num sofá na sala de estar e pôs os pés na mesinha de centro, depois de alguns goles notou um silêncio incomum. Levantou-se rumo ao corredor que dá aos quartos e encontrou uma folha de sulfite dobrada, por entre as páginas de um livro cujo título era “A Sombra do Vento”. Abriu o papel, passando rápido os olhos já cansados pela saudação, corpo e assinatura. Sem entender absolutamente nada, tornou a le-la com mais vagar:


Querida,

Senti vontade de partir, como se quisesse nascer novamente a cada alvorada. A angústia se fazia crescente e não pude mais mantê-la recriminada. Sem esperar seu contato, fui-me embora. Confesso que tenho saudades de seu sorriso, seu olhar – de você -, mas a falsa proximidade que tínhamos revelou-se extremamente danosa quando não pude mais vê-la e do contrário, foi você que negou a reconhecer a minha essência em minha existência.
Não estou aqui para culpá-la, mas sim para me esclarecer. Falo isso, no fundo, a mim mesmo que tento me conhecer e, agora, cada vez mais, sem ajuda de ninguém.

Ass: Romântico.



Pela janela, via-se o pôr-do-sol de uma cidade fria e deserta. Lembrou-se do que tinha combinado dias atrás, mas nada mais podia ser feito agora. Ou poderia?


terça-feira, julho 20, 2004

Trincheira Parte II

Mais uma vez, herda o estado de indecisão proposta pelas trincheiras do campo de batalha. Desta vez enfrenta os dois lados, fazendo parte de um elo, mas ao mesmo tempo não representa dignamente nenhuma das partes. Afinal, não pertence a nenhuma delas.

Viver é estar indeciso, seja por ideias sociais ou mesmo a idéia de vida e de morte.


De Olhos Fechados

Os pés fitaram os olhos, mas desta vez encontrava-se noutro ambiente. O piso de madeira era de peroba e não mais de marfim. O tapete em tons quentes deram lugar a um de tons azuis.
Significantemente nada mudou.
A menos que o leitor considere diferente o estado de um cristão no vaticano e um há milhares de quilômetros de distância. A reza é mais fervorosa no vaticano, mas a verdadeira fé não se altera pelo meio onde a pessoa se encontra.


quarta-feira, julho 07, 2004

Nébulas Inversas

Acordou antes do relógio, nem por isso ficou chateado. Tinha em mente o ocorrido do dia anterior e a noite fantástica passada em claro. As memórias dos olhares, cabelos e sorrisos, tudo passava sempre com leves suspiros, e dessa forma meia-noite virou três horas da manhã. Sem remorso.
Ainda com as sobrancelhas levantandas com ares enigmáticos, sentou à beira da cama a observar os pés. Parecia conversar com os dedos que se mexiam sorridentes e realizados com a fortuna de suas ações e virtudes, dizia com tom irrefutável e carecidamente envaidecido que se apaixonara por si mesmo e que mesmo uma pequena parte era o todo em sua infinita existência.
Não tinha porque sentir-se d'outra forma, os acontecimentos saíam de uma nébula tão densa e não se alteravam com a presença surpresa do observador. Receptivos ainda, procuravam iterar-se dos novos fatos, inclusive da reciprocidade válida de toda a metáfora.

E, desativou o despertador.


sexta-feira, julho 02, 2004

"Lembrei-me de ti"

Foram os dizeres encontrados entre a rosa e o poema.
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