Esbarrou em algo logo após abrir a porta. Nada teria mudado, mesmo após o longo tempo fora. Correu a mão direita pela parede áspera e deslocou o interruptor, acendendo a luz. Sim, era o mesmo lugar.
Havia um cheiro esquisito. Doce, cítrico, abafado e úmido... velho, fechado, bebida alcoólica. A última foi uma observação ao grande número de tipos e copos de bebida espalhados por todo lugar.
Aquela bagunça foi uma festa. Provavelmente um desbunde excessivo, anterior a uma privação que nunca ocorreria de verdade. A festa pela festa. Por que não o melhor de dois mundos? Fartar-se antes da quaresma sem ter de privar-se dos excessos, estes hoje característicos pela duração e não pelo conteúdo.
Estava encolhida no sofá. Fantasiada com tons avermelhados e alguns detalhes brilhantes, dourados. O corte não combinava com a delicadeza dos panos, eram agressivos e traziam o desejo de ser, ao menos por poucos dias, algo diferente do usual. O mesmo que aqueles vestidos de aquelas.
O que marcou no conjunto foram os olhos maquiados borrados em forma de lágrimas bem escorridas. Seriam parte da fantasia desejada ou resquício da transformação nunca atingida?
Eram cinzas.
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