Não evitei o espelho. Ao menos hoje não. Usei por dias a desculpa de que não havia tempo para tal luxo, ou ainda que não enxergava muito bem de longe ou de perto logo após acordar ou antes de dormir.
Saudoso, cumprimentou-me com fervor:
- E aí, tudo bom?
Entre as paredes de azulejo, nada poderia mais ecoar do que a voz do espelho. Reparei como tudo estava arrumado, subterfúgio necessário quando se quer outro assunto. Voltamos sempre a nós mesmos ao perder o controle do que estamos fugindo, isto é, não conseguimos por muito tempo.... Nem tudo ia bem, mas o que ia bem ia bem demais, o que não ia bem não ia de jeito nenhum.
Pelo balanço as coisas iam bem. Se bem que não havia bem ou mal, já que era tudo muito novo e expectativas são apenas os pesos necessários para rotular os acontecidos . O dia estava nublado, os pesos estariam errados.
Um tanto impaciente, o espelho insistiu:
- Quanto tempo, hein?
Pensei um pouco. Brasileiros são otimistas. Eu deveria ser otimista.
Logo em seguida, sem suspiro algum, disse:
-Pois é, faz tempo mesmo. Mais ou menos o tempo em que não vejo todos vocês. Tudo vai bem, caminhando para o que terá de ser...
Ares enigmáticos e uma breve respiração presa. Sobrancelhas levemente erguidas. Olhei para o lado direito e sabia que não havia mentido.
Estava satisfeito comigo mesmo. Apaguei a luz e saí.
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