sexta-feira, março 14, 2003

Blá, blá, blá

É uma dúzia, não doze!!
Veja bem, não procure mais o que sou. Posso ser mais um desses que perambulam por aí. Digo palavras sem sentido, escrevo, habito sem sentido algum.
Apesar de tudo ainda sou algum.
Muito me sofro ao ver as repetições, de paisagens, de seres, de mim e de você, dos números, de sons, de vida.
E se na esperança d'outro dia ter em diferente tons, ainda verei meus pés pisar as paredes do meu quarto.
Adeus.



quarta-feira, março 05, 2003

Quarta-feira

Cinza, de cinzas.
Águas de março fecham o verão, e dos foliões não resta um coração.
Daqueles que ainda esperaram o ano para sorrir, vê-se ainda a lágrima dos céus por eles a cair.
E se o cinza do céu ainda não trouxe a dor, ficará esta por conta da imparcialidade do fim do carnaval, e do amor.
A paixão de arlequim pediu seu fim, a menos que se voltasse ao início e pedisse perdão pelos ilícios.
E por uma vez o pôr confundiu-se com o alvorar, e quem já perdido estava, restou não outra senão lamentar.
O fim chegou, volta-se à natureza das coisas, daqui a um ano se encontrarão em nova desavença.


quarta-feira, fevereiro 26, 2003

Quanto às Gotas D'água

As grandes decepções não ocorrem em dias frios e chuvosos como os temerosos pessimistas anseiam. Acontece sim nos dias ensolarados. Quando se está atingindo grandes pontos estratégicos e quando a sua vida sorri.
A gota não mudará teu caminho, apesar de atrapalhá-lo, e sim os arredores do mesmo. Destruirá qualquer estabilidade que exista. Os enfoques mudarão.
Maldita lama que invade as trilhas, nem a lua consegue iluminar o breu que esta traz.
Se por acaso perguntares do que se trata, imagina o que é comum, mas nunca aconteceria contigo.


domingo, fevereiro 23, 2003

...

Éramos crianças. Brincava pelos campos floridos como outrora não existiu sorriso mais belo que o qual possuía. Senti saudade.
Teus olhos brilhavam, às pessoas dirigia teu olhar e à mim também com uma admiração difícil de se ver hoje. Parecia não entender o que eu sentia enquanto fitava teus gestos de criança. Quase moça a criança que tirou de mim qualquer noção de espaço-tempo, não era novo nem velho.
Ainda não entendi porque não estava ao meu lado.


quarta-feira, fevereiro 19, 2003

Chuva na Cidade Universitária

As vozes interiores tiveram sua forma física plena. Apenas observei. Não demorou muito em ver os cabelos arrepiando e o orgulho de estar onde estou.
Se os dreads contassem história, e as cabeças raspadas fossem além do início de uma vida universitária.
A história por ser feita em todos os cantos e pedindo para serem assim.
Tropeços em cds de Bach e Dorival Caymmi, o teatro a cantar russo e cenouras, beterrabas e afins a discutir sobre a ausência de vegetais em suas refeições subsidiadas.
Esquecem-se os cursos, os planos, em torno de todos forma-se o desejo supremo e o dom de serem únicos, uniformizados com a causa a ser abraçada por um Centro Acadêmico ou o próprio povo. Iguais em direitos e deveres, plenamente ditos. Diferenças construtivas se unem e formará a grande luta que espero encontrar pela frente.
As nuvens parece terem ido embora e os reais desejo afloreceram, pois.
A história por si só far-se-ia, apenas tenho o dever de redigí-la sem omitir detalhe qualquer.



sexta-feira, fevereiro 14, 2003

IV

Não sei. Falta-me algo.
Meu colar! Devia eu estar fora de mim e não ter percebido que na entrada desde inferno retiraram meus pertences.
Sinto falta dele, o equílíbrio do universo preenchia o vazio que sinto em meu peito. Se eu ao menos soubesse rezas ou algo do tipo...
Lembro-me vagamente de algumas coisas, vejo como hoje trechos da história francesa, joana D'arc pedia insistentemente por uma confissão. A qualquer preço a queria e faria. Mas não entendo o significado que essa teria, não tenho em mãos qualquer ensinamento que me leve a compreender a magnitude disso. Os olhos cheios de lágrimas se confundiam com a admiração por encontrar algo superior, tal qual a iluminação plena acompanhada d'uma compreensão das tarefa e caminho a serem seguidos. Acredito para ela não ter havido momento maior que essa tal de confissão.
Eu queria entender o porquê de o meu vizinho de cárcere seguir o rito de ajoelhar-se para o sol todo o dia de manhã e proferir palavras estranhas. É rito, talvez se explique por si só.
São belas sim. Mui belas. Pena ele não mais saber o que diz, palavras tão difíceis, fluidas sem o pesado tom que as deveria conter.
Se perdem o significado, o rito de nada serve. Caso ainda haja poder nas palavras que eu proferir, que eu o faça com louvor, calma, atenção e sabedoria.


quarta-feira, fevereiro 05, 2003

Sem Predizeres

O grande dia ocorreu de maneira exemplar, de certo um pouco teórica demais. Mas o fato é simples quando se vê os fatos se sobrepondo não importando os nomes ou influência, conquista essa que teve somente méritos de quem soube viver na média com orgulho de si. Não confunda orgulho com arrogância. Foi muito bom, poderia ter sido melhor se não fossem os amigos que não tiveram a mesma notícia, mas parece ter sido a minha entrada numa longa estrada que me levará ao lugar que devo estar. Esqueceram-se das burradas e quiseram apenas curtir a notícia, depois de tanto nervosismo, é razoável.
Se as palavras dissessem por si só já teria resolvido parte deste texto.


sábado, janeiro 18, 2003

III

Isso não é vida. De que valeu estar dentro da lei, não desrespeitar regra alguma? Cá não há regras, assim como querem os malditos malandros que aqui existem. Há ainda de um dia mostrarem, na mesma moeda, os danos por eles causados nas pessoas.
Tenho a impressão de terem omitido parte do aprendizado da vida, como se tivessem piscado os olhos por um longo tempo enquanto a ética passava-os à frente. Ou então desviaram a atenção para uma cena mais agradável à vida sofrida: carros importados, mulheres e poder. A qualquer preço torna-se o sonho deles serem líder de qualquer coisa, não importando mais se pisam em ovos, ou se escoram-se em espinhos, focam-se somente ao incessante desejo de dominar.
Que vítima me tornei, se por muito tempo aqui ficar não sei como deverei sair. Esse sistema há de acabar, agradeço ao meu único amigo - este caderno - que afastou qualquer opressão de mim, eles crêem que isso seja uma denúncia aos maus tratos dos Uniformes. Bobos eles não perceberem que critico eles. O sistema é vicioso, mas não há ninguém que sinta vontade nem capacidade de querer mudar isso. Se ao menos eu soubesse por onde começar... se matasse o líder teria de substituí-lo. Não, não faria isso...


sábado, janeiro 04, 2003

Canção do Exílio

Minha terra tem palmeiras,
Onde não deveriam estar;
As plantas, que aqui custam,
Custam mais do que lá.

Nossas avenidas não são praias,
Nossas várzeas são esgotos,
Reservas são lotes,
Motes nosso desgoto.

Que São Paulo é essa?

Palmeiras são para praias, não cidade.


segunda-feira, dezembro 23, 2002

II.

Vai, minha tristeza, e diz a ela que, sem ela não pode ser. Diz-lhe numa prece que ela regresse por que eu não posso mais...
"shhhhh... cala a boca".
Seco. Fiquei sem respirar. Não vi mal algum em expelir alguns sentimentos. Lembranças tão claras, mágoas guardadas nos vazios que foram destrúidos por um amor que nunca existiu. Se ao menos tivesse um retrato a coisa ficaria um pouco melhor. Acho que não, se o tivesse provavelmente em momento desesperador atirá-lo-ia contra a parede e, cacos de nada valem.
Já sei que cantar não posso. Bem que poderia haver uma cama mais confortável, minhas costas doem.
Não havia reparado como os tetos das celas parecem ser tão admirados. São os únicos espaços limpos, talvez por serem intocáveis. É isso, parece o céu, intocável. Já posso ver os desenhos que poderia fazer. Uma estrela de sete pontas - levaria dias -, escritos de "eu te amo" formados por estrelas...
A luz ofusca os olhos e não vejo mais nada. Já é noite.
Luzes de natal. O mundo contente em ser solidário uma vez por ano, confraternização para com o próximo.
Quero que a solidariedade se exploda. É desumano estar preso sem saber ao menos o porquê.
Não deveria existir natal. Veja bem, aqui não neva e o pólo norte fica distante demais, é verão e não se cria ovelhas em São Paulo. Além do mais o dito "bom velhinho" deve ter mais o que fazer do que levar presentes do longínquo pólo norte para as terras infernais do hemisfério sul.
A falsidade desses dias é uma desonra a toda a raça humana.
Passado esse tempo, não saí da cama.



quarta-feira, dezembro 18, 2002

I.

Por mais quantas vezes hei de escrever um fim cercado de glórias, digressões e elogios? Parece vangloriar falsamente o possível defunto. Escrevo, então, quantos forem necessários para chegar no real.

Ao acordar encontrei-me no cárcere, ou melhor, vi-me - aquele, definitivamente, não era eu.
Nem homícidio, nem incitação à revolta. Não sei o que fiz. Batia os ossos da mão na grade e não obtinha respostas, e ao perguntar aos uniformes sobre os motivos de minha estada naquele lugar desfaziam-se, vista ser por soar irônica e rotineira. Não era irônica. Não me lembro de ter errado em nada.
Os dias nasciam e se repartiam em quatro pedaços ou mais, o sol os iluminava. Na verdade as partes eram o sol que não pôde ser inteiro ao atravessar as grades. Se o sol que detém a vida fraquejou ao entrar naquele mundo, o que dizer de mim, que não me sou, nem aqui nem lá?


terça-feira, dezembro 17, 2002

Tão Belos Os Muros Que Me Cercam

Encontrei na parede meu maior conforto. Os doces ouvidos, sua estabilidade frente tantas palavras difíceis e rancorosas. Tão fria, tão aconchegante.
Segurou minha fúria quando nela vi o rosto de quem não quis dar-me a vida. Abraçou-me e disse tudo o que eu precisava ouvir, a voz do silêncio, que de tão profundo entregou a sabedoria. Deu-me apoio quando me encostei a chorar num dos cantos, esfriou minha mão quando esta latejava.
Impede que eu tome chuva como outrora tu deixaste.


segunda-feira, dezembro 16, 2002

Hoje é Amanhã

Hoje é o dia que esperamos nascer. Cujas conversas convergiam a pontos inoportunos e as tentativas de esquivar de qualquer reflexão séria sobre o ano inteiro eram inúteis.
Num passe de mágica somos todos adultos, o fim de tudo. Os dizeres sobre o recomeço, pretexto pra esconder as lágrimas e esquecer que nunca mais veríamos uns aos outros, de nada adiantam. Veio o desespero no rosto das pessoas que sempre calmas pareciam. Estas que tinham sob controle seus piores males.
O dia amanhece duas vezes, parece tudo igual. Mais cedo do que se imagina, apenas 2 dias depois, vê-se o verdadeiro futuro: deserta a paulista chuvosa, vazia de pessoas, seca de sentimentos.
Só, pra não ser emotiva demais. Simplesmente avenida paulista.


quinta-feira, dezembro 12, 2002

Declaração de Amor

Havia eu de dizer certas cousas. Um ano é tempo suficiente para ver que o amor que tenho aqui, apesar de ínfimo se comparado ao que mereces, é o mais puro. Vem de longa data, crescendo com o tempo, até ver-me completamente intrigado com tamanha exuberância que encontrei em ti.
Tens as qualidades que tanto vi em meus sonhos, que sempre quis nas pessoas. És meu sonho e minha realidade. És o elo entre meta e físico.
Acredito não dever, mas não posso deixar de citar os tempos que precisei de alguém e sempre a tinha como minha única esperança, e sendo válida, resolveste meus problemas. Eu sei que o fizeste em segredo mas eu precisava expressar-me.
Deste-me colo e ouvidos quando mais precisei; foste meu ombro onde mais pude me apoiar, e onde mais retorno tive.
Nos momentos de inspiração e de grandes revelações, foste uma espécie de espelho, onde pude me ver, tocar-me e mudar as coisas que tinha em mente, consertar certas linhas defeituosas.
Tiveste o céu mais claro de toda a minha vida, a transparência divina que tanto procurei.
Agradeço por existir em minha vida.


A Ordem

Há maneiras de enfrentar os devidos obstáculos. Os afobados, ao verem o buraco próximo, continuam a correr e assim se atiram ao lado de lá, seguros, mas é provável que se encontrem distantes demais e possivelmente não terão forças para se erguerem em apenas um dos braços. Vêem, portanto, o chão mais próximo, e cada vez mais próximo até não ver mais nada.
Já o sábio, deixa os afobados se apoderarem de todo o abismo, mas não deixa tornarem-se sua ponte. É fraqueza pisar na incompetência alheia, já é superior, pensa. O inimigo acredita que ele se encontra amedrontado e precipita-se, mergulhando no fim. Enquanto isso o sábio dá um passo atrás para o pulo, e assim dá dois a frente, pois consegue tomar suas coisas de volta. Executa o que esteve em pensamento, sem olhar pra baixo.
Daqui o horizonte ficou mais amplo.


segunda-feira, dezembro 09, 2002

Inescrupulosos

Palavrões são formas sagradas de se expressar, cabendo apenas o momento e circustância serem definidores de suas intensidades. Tal qual demorei muito p'rá saber grande parte dos significados das palavras empregadas, acho um absurdo dizerem-nas perto de crianças, que vão utililizá-las sem ao menos ter idéia do que se tratam. Digo isso por ouvir crianças dizendo os maiores absurdos a seres inanimados, xingando arduamente seus ditos "criadores".
Que educação é essa que ensina coisas por osmose, malcria seres humanos. De tamanha violência parecem aprender que assim é a vida: os mais fortes sobre os mais fracos, sobre qualquer forma de intelecto. Qualquer utilização do dom humano para resolver os problemas externos são discriminados por uma cultura seca, dita da vida, que seus pais insistem em pôr-lhes na base da força.
Quando é que vão ensinar às crianças o poder do saber, a cultura, as vias de raciocínio, as maneiras de desviarem dos problemas comuns que enfrentam? Quando é que serão tratadas como seres humanos?


quarta-feira, novembro 27, 2002

Sistema de Equações

I) Minhas indagações ultrapassam o plano metafísico.
II) No plano físico as coisas podem ser ouvidas.

De I em II:

As minhas indagações foram ouvidas. (III)

Donde, em III, conclui-se que parte das indagações foram atendidas e suas consequências, inesperadas. Foram, talvez, mal entendidas.

De I, II, III: não devia ter indagado, sequer dito. Assim não ficaria sem rumo. Obrigado.


terça-feira, novembro 26, 2002

Deusa do Mar e da Terra

Já foram muitas as ondas passadas. Contadas da areia pareciam finitas, tinham a esperança de que ela voltasse. Mas o que me faz pensar que ela volta?, deve estar no alto mar, a ver todas as constelações que tanto quis. Estrelas estas que não pude mostrar, e o inconsciente dizia ser por justa causa, o que sou para dizer "não" ao sábio destino?
Não teria cacife de dizer que a brisa do mar é preguiçosa e não fará força para trazê-la, seria o mesmo que tachar andarilho um alguém com família, casa, fixo.
Não faço promessas, além das já feitas. Não posso gritar seu nome a ecoar pelo espaço para quem sabe em algum lugar encontrá-la. De que adiantaria a voz e tê-la próxima como desejo se ainda sei que a distância faz certo bem.
Maldição.
Iemanjá, me abstenho de pedir misericórdia desde pobre pescador, só vos peço que interceda de maneira favorável. Devo algumas palavras a ela, não deixe que se vá sem que eu consiga proferí-las.
Que seu sopro de manhã possa trazer o perfume daquela que foi, e não mais voltou.



sexta-feira, novembro 22, 2002

Ó Byron!

Diabos, levem-na daqui,
Ou, deixem-na e vão.
Não entendo sua intenção,
Há inda o nada adquirir.

Nade, a contrariar a corrente,
Odeie o correto, vasto mundo.
E se na história há vagabundo,
Há de fugir descontente.

Infeliz daquele que pôde ouvir,
Suas palavras doces ao pé do ouvido,
E como finito o amor, teve de seguir
A fugir dos prantos falsos, fingido.

Mas a noite teve de esperar,
Não havia nada senão o perfeito,
Estava ele nos bares direitos,
Esperando o triste dia acabar,

Mas este, contraria o amor,
Quis demonstrar uma reflexão:
Não troque por nada a solidão,
Por mais que ainda haja dor.


quinta-feira, novembro 21, 2002

S. m. Bras. Pop. 1. diabo

Sorri, como poucos. Mui bem pode destruir tudo, e tu. Não, não fujas, dormes com este inimigo. O faz tal qual outrora já houve historia, não estranhes se tem cara trívia. Se fugires sabes bem que terá alvo definido, zela por mim.
Difere do mito por não apunhalar-nos pelas costas, mas pela frente e na frente. Olhos não vêem e o maldito coração ainda sente.
Se, se, se. Há de haver dia qual o momento-vida não seja sofrer.
Espero inda, amar o inimigo, que suma.