sexta-feira, agosto 30, 2002

Martelo

Que martelo é esse que insiste golpear-me a cabeça quando mais calmo estou?
As perguntas questionavam o por que do não, e um possível, e ainda a pior de todas as perguntas que poderiam acontecer: o que eu haveria de ser para ter-te em meus braços.
Como um desalento que lamento não sentir o perfume de seus cabelos, a seda de sua face, bem como doce colo tão desgostoso de mim.
Declamadas ao céu pareciam naturais, indicadas ao mais belo infinito, os brilhos de outros mundos nunca dantes navegados.
Declamei os versos ao céu, pois nunca questiona os meus dizeres e ainda, por vezes, lacrimeja alguma ponta de estrela.
Ora, se fosses o céu, ouvir-me-ias, saberias o que tenho a dizer: nada.
De tão distante faz-me errante, ombros dados a um alguém tão bem findado.


segunda-feira, agosto 26, 2002

Traição

De que valeram as promessas de vitória nos campos de batalha; e os ideais comuns, que aos berros ecoavam em todos os cantos das vilas? De que valeram os desejos de liberdade se não pude usufrui-la quando pude em conjunto com os comprometidos.
Depois de todas as lutas, o fim é tomado por uma emboscada armada pelo meu braço direito. E as malditas promessas de um sábado azul, de um domingo estrelado, e um raiar de sol incomum na segunda cedo...de que valeram?
O fim? Não há posto que as memórias dos desejos é infinita, não vedes que continuo a querer os campos férteis a sul? A bendita terra que nasci, a que dei meu sangue, minha fúria.
Em troca tive apenas a pérfida honra dos falsos combatentes. Ainda tenho minha alma, talvez minha história de mártir em algum dialeto da idade média. Senão fui para a maioria, fui alguém ao menos para mim.



sábado, agosto 24, 2002

O Trem

Foi-se junto ao tumulto, a minha amada de olhar único. Tal qual a olhava, respondia-me com questionados olhos, bem como os meus estavam.
Não acreditei quanto o trem parou, com o abrir de portas ela saiu. Como se me olhasse dizendo um adeus sem ao menos ter dito um oi.
Saía mantendo os olhos fixos, por cima dos ombros do tumulto me olhava ainda. Portas, vidros...apenas o concreto barrou-nos a observação mútua.
Lá se foi o meu grande amor. Mais um dos grandes amores que me abandonam. Tenho certeza que era o meu amor, bem como todos os outros amores que me foram embora, amei com toda a intensidade que pude, os quinze segundos que estive próximo a ela. A única retribuição que tive foi um jogo de cabelo, e um belo desprezo. Desceu no Paraíso e deixou-me sem escolha senão ir até a Consolação.


terça-feira, agosto 20, 2002

Maldição

Já pedi para que parassem de me olhar. Passado amaldiçoado que nada faz além de lembrar os fracassos. Mais vale lembrá-los do que qualquer vestígio de glória; comentá-las não seria grande feito, posto que idealizadas demais far-me-iam passar por farsante.
Inda estranho ver essas estátuas a observar-me, como se balançassem a cabeça afirmando todas as minhas objeções, ampliando qualquer mal-estar que essas me causam. Sem contar estes quadros rabiscados que também transmitem minhas dores. O azul do céu parece-me mostrar tudo o que eu não tenho, esta paz tão de mim distante. E quando vos procuro, estrelas minhas, nada fazem senão vos esconder atrás destas nuvens que não choram.
Que dia é esse que nada muda, o corre-corre parece mais um andar pantanoso. O nervoso que sinto mais parece frieza que qualquer outro sentido.
Quando breu está completo vejo ainda minha sombra a dizer-me que errei todos os caminhos.
Ao pensar que é o fim dos tempos, não desta vez o é.


A volta

Voltei, não que tivesse ido, muito menos que tivesse esquecido. É facil retornar ao ver que os mundos são bem diferentes. Durante o dilúvio vê-se o mundo a destruir-se, enquanto após este a vida se renova. Se refaz não por ter morrido, mas sim por ter sido encoberta pelos prantos dos céus; se refaz simplesmente pelo ponto de vista de quem viu que houve, e desconfiava da atual vida sob aquelas águas.
Depois do dilúvio não se encontra mais ódio, nem caos. É tudo calmo, cheira a parnaso. Não se preocupe pois há reflexão ainda. Não há conformação plena com todos os atos, mas talvez por uma desobrigação com a dor materializada, esqueço um pouco do prazer em sentir dor. Acabam-se as lágrimas e os olhos apenas ficam úmidos. Não há o esquecimento total das dores.
Volto a pedir a chuva, pois ainda sinto-me precoce demais p'rá esquecer de todas as fraquezas.


segunda-feira, agosto 05, 2002

Rosas p'rá Quê?

Se não tenho um amor pra comprá-las. Nem brigas pra usá-las no reconcílio. De que servem, ó sangrentas rosas?
Procuro as rosas azuis, gélidas como eu sou: exata e sem amor.
Quão mais doce fui, mais docemente massacrado estive; nas solas dos sapatos das luzes deste céu tão claro e tão falso.
As palavras calmas e tranqüilas foram ridicularizadas pelas de baixo calão, instigando uma resposta não minha. Recusei o pedido incessante de hostilidade, martirizando qualquer forma de sossego que o fim de semana trouxera.
Amasso todo o buquê que seu seria, e somente não as jogo em seu rosto por dó destas rosas tão frágeis que prediz toda a minha melancolia.
Imortalizo-as na memória, é nada mais nada menos que uma homenagem às minhas fraquezas, é o tributo de todos os meus fracassos.


quinta-feira, agosto 01, 2002

O dia

Rostos e olhos esperançosos buscaram os céus, nublados pela tão esperada chuva, uns a olhar pedindo a seca e outros agradecendo qualquer benção divina que poderia vir de qualquer maneira.
Encontrei rostos famosos, conhecidos, e até alguns censurados por mim; fiz ainda montagens de um rosto perfeito com os olhos da musa, corpo de deusa e ainda sim mente divina. Busquei a perfeição até perceber que não é real, e de brigar tanto pela realidade ou percepção da realidade e de, quem sabe, o motivo das atitudes das pessoas, vi-me fraco demais pra continuar.
Via a chuva e esta não tocava-me em ponto algum, estava inerente a ela mas não molhava, e ainda as antigas dosagens naturais pra curar os problemas não serviram de nada.
Parei então. Sentei. Deitei e resolvi dormir, pra quem sabe ter sonhos, que são as únicas coisas reais que eu tenho na minha vida.


Trincheira

Que culpa tem a terra que faz as trincheiras? Sem veredicto, leva tiros, morre por diversas vezes enquanto nem na guerra se contém. No meio da guerra sem partido algum.
Se escolhe alguma tropa, de certa forma morreria orgulhosa por ter lutado bravamente, mesmo que parada estivesse.
Largando a bandeira sem causa aparente, de costas a filosofar sobre a atitude, fez-se ainda famosa a frase desta guardiã dos combatentes:
"Antes era por vocês que afastava os tiros, agora é por mim mesmo.Fiz a luta, não movi um passo no combate. Fujo por ver todos os meus fracassos na imagem refletida do campo de batalha, lacrimejadas pelos soldados da tropa à qual pertencia, derramando-as pela derrota do pedido de vida que fora recusado por algo superior".


quarta-feira, julho 31, 2002

Obrigação

Como que por obrigação as lágrimas caíram hoje.

Obrigadas e secas,
Lastimadas e intrínsecas.
Choradas na calmaria
Incessante do tumulto.
Voluptuosa chuva.
Ai se fosse minha,
Cairia bem como luva
Veludosa e terna.
Não assaz,
Nem existe
Maldita ilusão
Em que te consiste?


Quanto à Experiência

Se pensares em teus fracassos como sendo experiências de vida não sentirás dor qualquer atrelada ao mesmo.
A singularidade dos fatos os tornam em experiências significativas. Me perguntas como seria caso houvesse repetição nas situações, e digo a ti que não há repetição pois há imaginação em tua mente, assim sendo sempre haverá situações novas.
Não há essência no mundo que camufle qualquer tipo de existência.
Imagine!


terça-feira, julho 30, 2002

Contemplação

Bem como fiel à Deus,
Servo à musa.
Medo do fulmino olhar,
À Espera que passasse,
Perspicaz enlace,
Contemplas ao chão
O que ao céu não pôde.
Ofusca-te a visão alumiada,
Não vês nada além de passadas.


.


Teatro de Fantoches

É de se estranhar qualquer atitude alheia visando a manipulação de mentes transtornadas. Muito me estranha perder meu teatro de fantoches, pois já sabia que não o tinha, e ainda mais perdendo-o, que farei com minhas idéias maquiavélicas escondidas e trancafiadas num baú enterrado em meu jardim?
Lixo não é resposta, já disse que não jogo minha vida fora... Minha vida pode ser um lixo por receber todos os podres de todos e ainda sentir-me um ser normal.
Deixe estar, as idéias permaneceram guardadas, e o jardim ainda não está florido. Quem sabe de adubo sirva, fim triste pra algumas idéias tão mal nascidas.


segunda-feira, julho 29, 2002

Quando é Que Vão Entender?

Deus, cá estou novamente a reclamar de seus feitos. Entendeste mal quando vos disse que gostaria que tornasse meu caminho em um mar brando, sem tormentas e sem calmaria, assim mais longe iria. Quis mostrar-se eficaz e tão mal falado que estava, intensificou meu pedido ultrapassando os limites dos meus desejos.
Vos disse que gostaria que tirasse as pedras do meu caminho, mas não de minha vida. E vós me diz ainda que tornaria belo os campos por onde eu iria atravessar, mas achou digno que as tirasse e transformasse minha ida num passeio urbano. Não disse para destruí-las, pois gostava delas, mas pensou que sabia exatamente o que eu queria e tiraste da virtuosa estrada as belas pedras que faziam da minha vida uma estória.
Sem pedras não há caminho, não há vida, não há nada.


quarta-feira, julho 24, 2002

Óculos Sobre a Mesa

Como uma bela foto de detetive, tive hoje meus óculos sobre a mesa, entre as páginas de um livro sobre mistério. Obviamente era o mistério da minha vida, um diário. E fiquei a pensar se os óculos lá estavam por ter acabado o enredo ou se pela complexidade do mesmo fiz-me fugitivo de minha própria história.
Posso ter ido dar uma volta, refletir sobre esse maldito caso, uma praça misteriosa lendo um jornal a observar o segundo plano que deixei por tanto tempo esquecido. Acreditava, pois, que no primeiro plano estava tudo o que eu queria, engano desfeito graças à uma manhã de terça-feira.
Mas de volta aos óculos, acho que não tem nada a ver, posso ter ido descansar e os óculos lá ficaram. Ah! Ficaram pois estava cansado, e não havia terminado o livro, por isso os deixei lá. Só se arruma a mesa de estudos e os manuscritos após o fim dele, ficaram pois o livro não acabou.
Tenho muito a escrever ainda.


segunda-feira, julho 22, 2002

Blood Mary

Ingredientes:
4 colheres (sopa) de vodca
6 colheres (sopa) de suco de tomate
Sal e pimenta-do-reino a gosto
2 colheres (chá) de suco de limão
20 gotas de molho inglês
10 gotas de pimenta vermelha líquida ou
5 gotas de Tabasco
3 a 4 cubos de gelo
Salsão para decorar


Modo de Preparo:
Bata em uma coqueteleira todos os ingredientes, menos o raminho de salsão. Coe o gelo e despeje em um copo gelado, tipo long drink, decorado com o salsão.

Obs:Se quiser sentir um pouco mais no clima, espere uma noite chuvosa e se maqueie com muito pó de arroz. Passeie no cemitério no dia 24 próximo (lua cheia), divirta-se uivando para a lua.


domingo, julho 21, 2002

Andar

Diga-me, se andaste tanto tempo nestes caminhos da vida? Andou tanto, sem olhar pra trás, caminhos e mais caminhos. Noites sem dormir, e caminhando.
Se não teve dor alguma durante todo esse tempo diga-me o porquê de caminhar tanto. Não é necessário. Insiste em caminhar para ter grande fama de andarilho, mas na verdade é um grande farsante.
Pare de andar se não sente dor alguma.
O meu andar eleva a minha pessoa à dor, por isso sigor.


Estrada

Pego a estrada, e vejo que dela partem muitas outras estradas. Vejo estradas paralelas, outras que interceptam a minha e se vão, muitas outras que passam por cima ou por baixo da que eu sigo.
Puis o volume no máximo, uma grande clássico do rock'n roll, impossível não se animar. Mas ainda me preocupo por as estradas não se convergirem para a minha pessoa, todas elas se vão, passam por mim e vão embora. Também não vejo ninguém andar por elas, estranho pois acredito que hajam tanto pessoas à minha frente quanto pessoas que estão atrás de mim, mas não no mesmo caminho. O meu caminho é único.
Piso mais fundo, assim esqueço das coisas que aconteceram. Ora, abri os olhos, foi um sonho...? Não, vejo ainda as faixas da estrada, elas terminam, mas o asfalto continua, ainda tem o clima de rock'n roll...e ainda, ao descer do carro, esbarro numa placa com os dizeres "Em construção".
Que confusão.
Agora sim eu acordei, pisquei os olhos novamente. A única lição que eu poderia tomar disso tudo é que eu não posso baixar minha cabeça, ainda tenho uma estrada a construir, o meu caminho, e espero que estradas se aliem às minhas pois não teria graça alguma alcançar o topo se eu não tiver com quer compartilhar.
É isso.


quinta-feira, julho 18, 2002

Atitude Sem Efeito

Se um dia tomares uma atitude [sobre amores, ou coisas do coração] e esta não repercutir qualquer efeito em tua própria pessoa das duas uma: ou tu és um grande iceberg e não se abala por nada, mesmo mudando tua vida bruscamente não é sensível nem tá preocupado com o mundo, nem contigo mesmo; ou então esta atitude já havia sido tomada há um tempo atrás, e os abalos que deveriam ser causados após a atitude ocorreram durante o estopim da mesma. Enfim, já houve tudo que poderia acontecer, a atitude foi apenas uma lei para "inglês ver", apenas a legalização do fato ocorrido.
As coisas continuam a ser como eram antes, nada mudou.


Reflexões de 5/6/2001

Preciso de atenção,
Pode ser matando Lennon,
Ou então quebrando um muro famoso,
Preciso de atenção.

Pode ser pelo lado vulgar.
Gritar uma guerra pela cor,
Mas preciso que olhem p'rá mim,
Um estado de guerra civil.

Crise financeira,
Guerra encadeia.
Prisioneiros de suas próprias almas.
E preciso de atenção.

Sou apenas uma estrela apagada,
Mas peço força,
P'rá talvez
Chamar atenção de uma forma bela.

Mas já o faço
E preciso de atenção.
Talvez uma cadência
Pode ser uma boa forma.

Quem sabe,
O ato de semi-vilão
Vire a atenção
Para um elo perdido.

Vou fazer barulho
Do modo silencioso,
Na calada da noite
Torno-me mais pretencioso.

As estrelas me guiam,
Mesmo que em horário inoportuno
Onde já se viu
Uma fuga que não é noturna?

Leio meu sorriso,
Ao mundo entrego.
A resposta vem em lágrimas.
Vou tentar o inverso.

Tentarei trazer sorrisos
E levar minha tristeza,
Para que possa ser enxugada
Com seu belo riso.

Vou brigar,
Sem palavras,
Vou me indignar,
Sem respostas.

Tentarei a música,
Forma de expressão.
Gritarei todos esses versos
Em vão.

E dou voltas.
A crise geral persiste
E não permite
Que haja a facção de estradas.

E ao fim estou,
Mesmo não sabendo
Onde o começo está,
Nem mesmo se existe o fim.


quarta-feira, julho 17, 2002

Estado

Um dia acontece.
A lua não mais sorri,
As estrelas correm,
E o pouco de vida que resta
É levado pelo vento.
E eu fico aqui.