sábado, fevereiro 26, 2005

Rito (parte I)

Era um rito desses para ser contado aos netos. Assim como passar as fotos antigas em slides nas reuniões da família e ainda, quem sabe, filmes de rolo. Mas ao contrário, não era pragmático como tais.
Religiosidade perene das tardes dominicais. O emplastro para solucionar aqueles males existenciais que a mídia televisiva insiste em introduzir aos telespectadores. Estes últimos tratados como inúteis e passivos de sua própria livre arbitrariedade. Jogado aos cantos observando o dia passar e esperando a temível segunda-feira.
Mas, antes de prosseguir com isso, deveria dizer que, na verdade, essa ameaça sempre foi infundada pois sempre vinha como bênção e curava os males. Destarte, poderia surgir dúvidas quanto às causas dos males dominicais, mas isso é assunto p'rá outra discussão. Antes que percamos o foco, voltemos, pois.


terça-feira, fevereiro 22, 2005

Ressaca

Alheia a qualquer tipo de efeito causado pelo excesso de álcool. Talvez embriagado por suas cansativas e antigas constatações. Uma intoxicação pela forma triste que leva a vida. Sim, a melancolia tornou-se algo fisiológico, assim como todas aquelas sensações de incapacidade. Solidão.
No fim de sua breve vida, pediu ao doutor algum remédio. Qual não fora negado, mas deveria ser administrado por um especialista. O ocorrido posteriormente foi algo mais bizarro ainda. O experto tomou a administração medicamentosa mais como vaidade do que qualquer outro juramento que fizera na academia.
Do orgulho do dito fez-se o pragmático tratamento, que não reverberou solução alguma ao caso.
Desse meio tão escuso por alguma reputação média, o paciente largou o tratamento para tentar resolver sua situação, o que poderia ser grande feito - e a única solução, quem sabe. De qualquer forma, não poderia ficar parado sendo marionete de profissional egoísta. Saiu pela porta da frente, vestido de médico, avental e estetoscópio no pescoço.
Mas, mesmo assim todo de branco, era diferente daqueles médicos que tentaram tratá-lo. Ele sorria e cumprimentava todos, seja com um gesto ou o menor aceno de cabeça. Não fazia de seu uniforme branco a grande estupidez e arrogância tão vista nos dias de hoje e naqueles de outrora. Não, não era falso nesses gestos, realmente os sentia.
Chamou um táxi, e foi-se.


domingo, fevereiro 13, 2005

Ele partiu

O sol castigava,
Em seu rosto avistava
A poeira do vento e
Um breve esquecimento.

Abre e fecha os olhos,
Num devaneio profundo
Esquece-se do mundo,
Música em seus ouvidos.

Uma sombra newtoniana,
Sem leis nem frutos,
Apenas um tocar abrupto
De uma pessoa estranha.

Mas é carnaval e não,
Não me diga quem és.
Ou ainda diz e explica
O porquê do empurrão.

O pé esquerdo serviu,
Embora difícil posto.
Tinha um diferente gosto,
Um verde-feio quase vil.

Sugerira a cor por razão.
Dentre todas, feia-mor.
Não quis tirar nem pôr,
Vestiu-os e chutou sua mão.

Levantou-se do descanso
Atônito e perplexo.
Atitude muito complexa,
Inesperada e intrigante.

Havia outros ao lado,
Boquiabertos e sarcásticos.
Parecia um ato mágico,
Efeito psicótico, enebriado.

Muito mais do chá,
Ficou pleno sem reação,
Balançava as mãos,
e dizia 'O que há?'.

Foi se embora a moça,
Calçando o sério chinelo,
Que embora não fosse amarelo,
Era de tremendo malgosto.

Balançava a cabeça pasmo.
O que diria se perguntassem?
Coçava a cabeça e repetia incrédulo:
"É isso, roubaram meu chinelo".


Constatações

Muito mais do que chá.
De tanto impressionar-se com a expressões alheias quando das afirmações acerca de seus afazeres, passou a introduzi-las quando repetissem tal pergunta. Mas, qual não foi a surpresa, um sorriso amarelo tomou seu rosto pois a outra parte não entendeu a expressão das outras pessoas. Sentiu-se sufocado e um pouco sem rumo.
Que faria a partir de agora?


sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Eu disse:
- Bom dia!
...
- Bom dia?
...

Ninguém respondeu.


quinta-feira, fevereiro 03, 2005